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Da Redação
Publicado em 28 de maio de 2020 às 18:49
- Atualizado há 2 anos
A diarista Liziane Santos, 37 anos, vive um drama junto com o marido, o cozinheiro Leandro Amaral, 35. Enquanto ela viu as diárias que lhe rendiam, em média, um salário mínimo todo mês sumirem, o marido acaba de ser demitido do restaurante de comida chinesa, na Barra, onde trabalhou por quase seis anos e ganhava também pouco mais de um salário. O drama do casal é o retrato oficial do impacto da pandemia do novo coronavírus no mercado de trabalho brasileiro: somente em abril, em todo o país, foram fechadas 860.503 vagas com carteira assinada, sendo 32.482 na Bahia, segundo o Cadastro Geral de Empregos e Desempregados (Caged).>
Sem renda para pagar o aluguel da casa onde moram há um ano, próximo ao Ibit, na Federação, os dois decidiram entregar o imóvel no próximo vencimento, dia 8, e devem se “separar” temporariamente.>
“Meu marido e mais umas 200 pessoas foram demitidas no restaurante que ele trabalhava. Agora, a gente vai entregar a casa, infelizmente. Eu vou para a casa de meu pai, no Apipema, e ele para a casa da mãe, no Calabar. A gente já tá quase vendo a hora de não ter dinheiro para comer”, lamentou ela, que foi a única da casa a ter o auxílio emergencial de R$ 600 aprovado. >
Apesar de ter asma, e portanto ser do grupo de risco para a covid-19, Liziane defende medidas menos rígidas do governo para que as pessoas continuem trabalhando. “Aqui (na família) tá todo mundo desempregado. Eu e meu marido, e aqui do lado meu irmão também, que tem cinco filhos pequenos. As crianças estão sem estudar, presas em casa. Tem que pensar em saídas para isso”, completou ela.>
De acordo com os números do Caged, divulgados ontem pelo Ministério da Economia, o comércio liderou as demissões em abril, na Bahia. Foram eliminados 9.582 postos de trabalho formais. Em seguida, aparecem os setores de alojamento e alimentação (-7.362), construção civil (-5.585), informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (-3.304) e indústrias de transformação (-2.891).>
As perdas de emprego atingiram praticamente todos os municípios baianos, com destaque para Salvador (-10.401 vagas), Camaçari (-2.449) e Feira (-2.230).>
País Em março, quando os efeitos da crise começaram a ser sentidos, foram fechadas 240.702 vagas formais em todo o país. O salto veio em abril, com a perda de 860.503 postos, o pior resultado para o mês desde o início da série histórica da Secretaria Especial de Trabalho e Previdência do Ministério da Economia - em 1992. Considerando os resultados de janeiro e fevereiro (que, ainda a salvo da crise, terminaram com a abertura vagas formais), o saldo desde o início do ano está negativo em 763,2 mil vagas.>
"A perspectiva é de impacto que deve repetir a crise de 2015 e 2016 em um ano só. Mas as crises são diferentes. Em 2015 e 2016, a economia foi contaminada aos poucos, com efeito na receita das empresas e nas demissões de forma gradual. Agora, o impacto é concentrado e abrupto", disse o economista Cosmo Donato, da LCA Consultores.>
Ele acrescentou que o governo deveria agir para salvar as empresas, evitar falências, sob o risco de uma crise mais profunda este ano e ausência de recuperação em 2021. Na LCA, segundo Donato, as discussões são de que seriam necessárias linhas de crédito com juros subsidiados para as companhias.>
Pesquisa do IBGE A taxa de desocupação passou de 11,2% para 12,6% no trimestre terminado em abril, atingindo 12,8 milhões de desempregados. Com isso, são 898 mil pessoas a mais à procura de trabalho, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgada hoje (28) pelo IBGE.>
Um indicador que reflete os efeitos da pandemia de Covid-19 no mercado de trabalho, a população ocupada teve queda recorde de 5,2%, em relação ao trimestre encerrado em janeiro, representando uma perda de 4,9 milhões de postos de trabalho, que foram reduzidos a 89,2 milhões.>
A analista da pesquisa Adriana Beringuy explica que os efeitos foram sentidos tanto entre os informais quanto entre trabalhadores com carteira assinada. “Dos 4,9 milhões de pessoas a menos na ocupação, 3,7 milhões foram de trabalhadores informais. O emprego com carteira assinada no setor privado teve uma queda recorde também. A gente chega em abril com o menor contingente de pessoas com carteira assinada, que é de 32,2 milhões”, explica.>
Entre os informais, estão os profissionais sem carteira assinada (empregados do setor privado e trabalhadores domésticos), sem CNPJ (empregadores e por conta própria) ou sem remuneração (auxiliam em trabalhos para a família).>