Com táxis antigos ou sem corridas o suficiente, taxistas deixam de circular

Pelo menos metade está nessa situação, afirma associação

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  • Fernanda Santana

Publicado em 5 de março de 2022 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Paula Fróes/CORREIO

Há quatro meses, Nelson Bonfim, 58, vê o táxi apenas na garagem de casa. “A sorte é minha esposa, que trabalha. Mas eu não durmo direito, fico vendo aqui o táxi só na garagem”, lamenta. Dos 6,9 mil táxis com alvará para circularem, metade não está nas ruas, estima a AGT, seja porque o trabalho não compensa os gastos ou porque o carro tem mais de oito anos e, segundo a lei, precisa ser trocado. É este o caso de Nelson. 

Num grupo de mensagens, 700 taxistas se atualizam diariamente sobre a impossibilidade de trabalhar. Todos estão com veículos que ultrapassam a idade permitida pela legislação municipal - oito anos.

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Sem trabalho, precisam da ajuda de familiares ou encaram atividades informais. No ano passado, a Semob firmou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público da Bahia (MP) que suspendeu a exigência, devido à pandemia. Taxistas tentam um acordo, mais uma vez, pelo contexto de crise econômica. "A princípio, na vistoria deste ano, os taxistas terão que cumprir os requisitos. Outra questão é que temos muito taxistas que adquiriram carros novos. Não há nada definido", afirma a promotora de Justiça Rita Tourinho, que acompanha o caso. Em 2019, outro TAC já tinha elevado o tempo de vida útil dos táxis de cinco para oito anos.Há taxistas que estão sem circular, segundo a AGT, porque o trabalho que encontram nas ruas não é o suficiente nem para manter o carro. Por isso, o afastamento pode passar de temporário a definitivo.

No ano passado, depois de 21 anos, Ricardo Nascimento, 42, deixou a profissão que gostava de ter, pelas experiências no volante, as pessoas que conhecia diariamente. Até que ele percebeu que ficava quase um dia inteiro no volante: desembarcava em casa só para dormir. “A gente tinha horário para sair, nunca para voltar. Passava o dia todo e não fazia uma corrida, aí eu ficava, ficava, quando eu via era 1h da manhã e eu tinha saído de casa de manhã bem cedo”.Hoje, Ricardo trabalha como distribuidor de água mineral em Lauro de Freitas, Região Metropolitana de Salvador (RMS). Um ano depois da decisão de se aposentar do táxi, ele ainda lembra do último dia de trabalho: como sempre, saiu de casa cedo, foi para o ponto da maternidade Iperba, conversou com amigos, e levou um passageiro para o Aeroporto. Quando deu por si, tinha trabalhado 16 horas.