Comemorado em 15 de julho, Dia do Homem convida sociedade à reflexão sobre masculinidade  

Pedimos à oito deles que opinassem a respeito do tema; confira

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  • Do Estúdio

Publicado em 27 de julho de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Shutterstock

Nos últimos anos, o debate sobre o que é “ser homem” tem ganhado novos contornos, mas apesar dos diferentes conceitos e significados que vem sendo trazidos à mesa, o imaginário popular ainda tem como referência a definição do macho alfa, entre tantas outras concepções que reproduzem padrões estabelecidos há séculos.  

“Quando falamos do ponto de vista do homem, ao nascer, ele é direcionado a ser forte, agressivo, provedor, não deve chorar, e esses estereótipos fazem muito mal pra toda a sociedade pois refletem em acontecimentos que vão da violência contra a mulher à violência contra homens que decidem sair dessa caixa e não aceitar esses rótulos impostos”, afirma a coordenadora de Proteção aos Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado da Bahia, Lívia Almeida.  

O convite à reflexão sobre estes padrões tem sido cada vez mais forte e o dia 15 de julho se tornou uma oportunidade para discutir o tema. Para quem não sabe, o marco foi instituído no Brasil em 1992 pela Ordem Nacional dos Escritores com o objetivo de debater questões como cuidados com saúde, igualdade de gênero e o papel do homem na sociedade atual.  

Segundo Lívia, a melhor ferramenta para evitar que as gerações futuras sigam reproduzindo preconceitos é a educação. “É fundamental quebrar esses padrões pois é mais fácil educar da maneira correta desde cedo do que descontruir algo que já está sedimentado”, explica. Para estimular o debate, o projeto Recapitulando conversou com homens de diferentes crenças, faixas etárias e formações profissionais para trazer uma diversidade de visões sobre o tema.  

O Recapitulando é uma realização do jornal Correio com o patrocínio do CF Refrigeração, Jotagê Engenharia e apoio da AJL Locadora.  

 

O que é ser homem?  “Não tem nada a ver com genitália. Percebo uma cobrança muito grande pela masculinidade tóxica, mesmo eu, homem trans, sou cobrado para me comportar como macho alfa e isso é algo que me fere.  Sou pai de um menino e padrasto de uma menina. Educo meu filho para que ele não seja violentado nem violente ninguém. Desde cedo procurei apresentar as diferenças, ele conhece meu corpo, mas entende que deve me chamar de pai e se referir a mim com pronomes masculinos. Minha enteada, por exemplo, diz que tem dois pais. Ela sabe que eu tenho vagina, porém ela me entende como homem. Essas novas gerações já começam a desenvolver empatia de forma natural, enquanto nós precisamos nos desconstruir e entender que se a existência do outro não nos fere, não há nada a reclamar”.   

Bernardo Marques, 26 anos, psicólogo  

  

“Ser homem é tomar as rédeas da própria vida. Hoje temos uma geração de jovens adultos que são, na realidade, adolescentes tardios. Vivem na casa dos pais e são conhecidos como a geração Nem Nem (nem estuda, nem trabalha)... Ser homem é também quebrar os padrões em prol do que é correto. Estou no meu segundo casamento e sempre dividi as tarefas familiares e domésticas... Ter que debater pautas como machismo, homofobia e racismo é fruto dessas terríveis dicotomias que perseguem nosso país, seja na política, religião ou em qualquer outro assunto. As pessoas vivem sob esse dualismo extremamente prejudicial, ao ponto de vermos mulheres com opiniões machistas. Na própria medicina temos disparidade de salários entre médicos do sexo masculino e feminino. É preciso romper o ciclo vicioso” 

José Amandio, 58, médico  

“Na atualidade, o homem é aquele que olha o mundo sob a perspectiva do outro, faz as coisas com calma e clareza, sempre pensando no todo. A pandemia trouxe uma reflexão grande sobre fragilidade para os que souberam observar os ensinamentos. Por isso é importante se importar com o outro, respeitar o espaço e pensar em tudo que se fala e faz, pois estamos passando o exemplo aos mais jovens. Meu papel é usar a minha arte para refletir os problemas da sociedade. Não se pode fazer arte por arte. Temos que nos posicionar e denunciar as injustiças, inclusive todas as formas de preconceito, como o machismo ou o racismo, que faz com que os obstáculos do homem negro sejam ainda maiores” 

Menelaw Sete, 56, artista plástico  

  

“Ser homem é não permitir que o rótulo esconda a humanidade do outro. Não há diferença entre homem e mulher. Ambos podem ocupar todos os lugares e desempenhar qualquer função. Eu ensino há 45 anos e nunca entrei na sala apenas para dar aula de matemática. Sempre procuro refletir conceitos de filosofia e sociologia, pois o professor, ainda que muito desvalorizado em nosso país, tem a função integral de formar cidadãos, inclusive erradicando o preconceito. Através do tempo estivemos repetindo conceitos machistas e isso nasce desse privilégio masculino que leva muitos homens a se acharem superiores às mulheres e mesmo a outros homens. Por isso o respeito e a educação formam o principal caminho para criar uma sociedade mais justa”  

Raimundo Portela, 63, professor de Matemática 

”Mudei e amadureci muito enquanto homem depois de me tornar pai. Desde então procuro passar valores éticos e morais, ensinar a importância do altruísmo e do respeito às pessoas para meus dois filhos. A paternidade me ensinou a pensar a sociedade sempre avaliando minhas ações e seus impactos pro futuro, principalmente em relação ao mundo que vou deixar para eles. E o único jeito de construir um futuro melhor é cultivando o respeito às diferenças, é erradicando o discurso de ódio e acabando com qualquer tipo de preconceito. Falando do meio político em que vivo diariamente, ainda acho que há muito preconceito com as mulheres e acredito que temos que lutar para que novas gerações de líderes femininas sejam formadas e ocupem cada vez mais espaço”.  

Daniel Alves, 39, vereador de Salvador  

  

“Ser homem é buscar além de ser e viver tal qual a imagem e semelhança de Deus, conviver e contribuir da melhor forma possível com a comunidade na qual está inserido e procurar se diferenciar de maneira positiva pelo seu caráter e fé. O homem de verdade é honesto, trabalhador e tem voz ativa contra as injustiças. Hoje, homem nenhum pode se omitir da sua responsabilidade social, penso que devemos resgatar alguns valores do passado que foram esquecidos através do tempo e reinseri-los na formação dos nossos jovens, valorizando o próximo e a vida”  

Leonildo Malta dos Santos, coordenador Arquidiocesano do Grupo de Oração Terço dos Homens   

“Sou o único filho homem de três do mesmo casamento. As mulheres sempre foram maioria em nossa casa. Fui ensinado a respeitar minhas irmãs e minha mãe em suas particularidades femininas. Meu pai, desde cedo, condicionou a verdade como caraterística principal para o ser humano, muito antes de homem ou mulher. A regra era comum para mim e minhas irmãs: falando a verdade, teríamos a chance do diálogo. Meu pai é um homem de verdade nas atitudes, na sua palavra e com o cuidado com a família. Mesmo pertencendo a um meio extremamente homofóbico, por ser ex-atleta de futebol, minha condição sexual (sou um homem gay) nunca impediu que sejamos parceiros na vida, nos negócios, no amor e admiração incondicional que nutrimos um pelo outro” 

Leonardo Oessi, 25, publicitário  

  “Vivemos em uma sociedade sob o signo da violência. Em nosso país morrem 65 mil pessoas por ano e uma grande parcela é formada por mulheres que morrem pelas mãos de homens.  Esse comportamento é fruto de uma formação que quer nos convencer de que não temos fragilidades, na qual fomos compelidos a assediar.  O homem negro, principalmente, carrega a obrigação de ser o valente, o macho de reprodução, o desarrumado. Por me vestir bem e me comunicar de uma maneira formal, as pessoas achavam que eu era pastor. Então a desconstrução do homem negro é ainda mais difícil pois, historicamente, ele foi relegado ao papel de ogro. Temos que quebrar esses padrões pois no nosso país, machismo e racismo andam de braços dados” 

Ailton Ferreira, 62, sociólogo 

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