Comércio baiano espera alta de 5% no faturamento de vendas em 2021 

Em entrevista, o presidente da Fecomércio-BA, Carlos Andrade comenta os efeitos da pandemia e as perspectivas para o setor 

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  • Marcela Vilar

Publicado em 16 de julho de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Tiago Caldas/Arquivo CORREIO

Nesta sexta-feira, 16, é celebrado o Dia do Comerciante. A categoria, apesar da pandemia, tem o que comemorar, pois o setor cresceu 57,3% em maio em relação a 2020 e subiu 7,9% na comparação com o mesmo mês, antes da covid, de acordo com levantamento da Fecomércio-BA com base nos dados mais recentes da Pesquisa Mensal do Comércio, do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE).  

As vendas no mês do Dia das Mães superaram as expectativas e indicaram um cenário positivo, com injeção do auxílio emergencial e o começo da vacinação.  O presidente da Fecomércio-BA, Carlos Andrade, por exemplo, defende que ‘quando o otimismo e a confiança crescem, o consumo e o emprego também voltam’. 

Com o otimismo do empresariado em alta – o Indicador Confiança da Fecomércio-BA fechou em 4,2% em junho - mais de 62,4 mil vagas de empregos criadas na Bahia, entre janeiro e maio, de acordo com o Ministério da Economia, e a continuação do auxílio emergencial até setembro, as vendas do setor tendem prosperar.

Para Carlos Andrade, o comércio deve fechar com uma alta de 5% em relação a 2020. Nessa entrevista, ele analisa, entre outras coisas, o cenário de Salvador, que está há uma semana na fase verde da retomada econômica. Também comenta o legado da pandemia e os principais segmentos afetados; além das perspectivas para o setor nesse segundo semestre. Confira:   Carlos Andrade acredita que alta registrada em maio aumentou índice de confiança do consumidor e empresário. Crédito: Divulgação.  O que representa o Dia do Comerciante para a Bahia?   Para nós, da Bahia, é de suma importância, porque nosso patrono do comércio é Visconde de Cairu, que foi uma espécie de embaixador do Brasil. No século 19, ele abriu os portos do Brasil paras as nações amigas. Foi ele quem começou a fazer importação e exportação via Bahia. Não é à toa que tem uma praça com o nome dele no bairro do Comércio. Nós, empresários do comércio, temos ele como patrono. Todo ano, a Federação faz uma homenagem ao comerciante do ano com a medalha Visconde de Cairu.

Mas, nesses dois últimos anos, 2020 e 2021, por fatores que todos nós conhecemos, não comemoraremos. Esperamos que em 2022 possamos fazer isso com ênfase. Aproveitamos para homenagear todos os empresários que estão vivos e que continuaram vivos, que estão com saúde e suas portas abertas.

Nós da Federação trabalhamos durante essa pandemia com três alicerces fortes: primeiro, buscando a vida, que é a coisa mais importante que temos. Segundo: Por força do comércio, mantemos emprego. Quem mais gera emprego no Brasil é o comércio. E o terceiro item é manter nossas empresas abertas. Entendemos que a grande dificuldade é o empresário descer seu negócio, ter suas portas abertas e fechar. Na hora que fecha, para reabrir, é praticamente impossível. Também queremos homenagear quem está vivo e os familiares daqueles que perderam seus entes queridos.  

Salvador iniciou a fase verde dia 8 de julho, o que permite uma maior flexibilização das atividades. Quais são as projeções para o comércio da cidade nas próximas semanas?   Vemos com os bons olhos a decisão do nosso prefeito em começar a fazer essa abertura lenta e gradual. Entendemos que os números são favoráveis. A pandemia está caindo, as vacinas estão chegando, os leitos de hospitais estão atendendo a demanda, e, nós, do comércio, começamos a ficar otimistas. Sabemos que temos que manter a guarda fechada ainda. Todo cuidado é pouco, ainda estamos na luta, com a tempestade, mas o serviço de meteorologia já previu tempos melhores. Queremos parabenizar ao governo do estado e também a prefeitura, por entenderem que já estamos no momento de flexibilizar. Houve bom senso, primeiro pelo diálogo entre o governador e o prefeito, com a ACM Neto foi muito bom e continuou com o Bruno. Tudo isso favorece e nos deixa otimistas, e vemos a normalidade daqui a 30, 60, 70 dias.  

Qual setor do comércio baiano mais sentiu os impactos da pandemia? Quais cresceram e quais tiveram perdas mais significativas?   A recuperação melhor foi no setor de eletrodomésticos e eletroeletrônico, cresceram em torno de 24%. Depois, foi o de materiais de construção, que cresceu 22% e o setor de farmácia, que cresceu entre 8 e 9%. Os que foram piores foram aqueles de vestiário, tecido, calçados, teve uma queda acentuada, de 35%. Isso até se justifica porque as pessoas em casa, com medo de sair, e não precisava estar comprando roupa. Esperamos que a partir de agora esse movimento dessa fase verde, as pessoas comecem a consumir mais o que não consumiram. 

Qual o principal legado da pandemia no comércio de Salvador?   A pandemia deixa, primeiro, mais de 533 mil mortes, o que é lamentável. Por outro lado, o comércio eletrônico cresceu muito, houve um desenvolvimento muito grande do eletroeletrônico e as reuniões via internet cresceram. Mas, entendemos que o comércio foi o mais prejudicado, porque ele é o terceiro setor. Houve muita gente desempregada e perdemos demais. O turismo também teve um baque. Os serviços se mantiveram, mas o turismo realmente, no ano de 2020, teve um ano negro. Agora que o governo liberou alguns recursos para empresas, para os hotéis, empresas de viagem e está voltando, com os voos normalizando lentamente, embora, no contexto geral, no Brasil, o que falta é planejamento. Nossa pandemia foi drástica porque não existiu planejamento por parte do governo federal. Ele não se planejou, não criou planejamento para os estados e os estados não criaram planejamento por municípios. E, assim sendo, quem pagou a fatura foi nada mais, nada menos, que a sociedade. A sociedade pagou a fatura e, nós, do comércio, fomos os agentes que ajudamos pagar essa fatura. 

Quando o comércio baiano vai se recuperar dos estragos da pandemia?   Entendemos que uma coisa fundamental que foi a liberação desse auxílio emergencial. Na primeira fase, de R$ 600, depois passado para R$ 300, e, agora, está saindo novamente para algumas atividades. Esse auxílio beneficiou bastante e movimentou o comércio. No ano passado, o auxílio emergencial no comércio injetou em torno de R$ 25 bilhões na Bahia. Mantendo esses investimentos e essa ajuda, para o varejo, será de suma importância, para que a gente venha manter o nível do comércio do estado. 

Qual é a maior queixa e maior elogio dos comerciantes hoje?  A maior dificuldade nossa hoje é crédito, ele ainda está muito burocrático. Os bancos continuam criando dificuldade para emprestar dinheiro. Quando se empresta R$ 10 mil, R$ 20 mil, R$ 50 mil para o pequeno e microempresário, dá o mesmo trabalho do que emprestar R$ 200 mil, R$ 300 mil. E o banco é uma casa de lucro, só que mais perverso. A mercadoria do banco é o dinheiro. E eles são muito duros pra emprestar, principalmente os bancos oficiais, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica e o Banco do Nordeste. Eles deviam ser mais flexíveis, principalmente, para o pequeno, médio e microempresário. Já o principal elogio foi o diálogo que houve entre o Governo do Estado e as prefeituras, foi muito bom. Salvador também se destacou em aplicar uma quantidade substancial de vacinas, assim como o governador, que atendeu à demanda com a abertura de novos leitos. 

Há algum tipo de acordo com a prefeitura e governo estadual e federal para benefícios e reduções tributárias?   Essa é uma parte negativa. Estamos tendo muita dificuldade em negociar impostos, tanto com a prefeitura, como estado e o governo federal. Eles estão muito duros, muito resistentes, e não estão entendendo ainda o que o comércio está sofrendo. Gostaríamos de uma compreensão maior no que tange a flexibilizar o pagamento dos impostos, até porque nós ainda estamos na pandemia, ela ainda não acabou. Os governos federal, estadual e municipal pensam muito neles, e esquecem do empresário. Se a venda caiu pela metade, pois sofremos uma queda de 35%, em vestuário, por exemplo, queremos que o imposto seja reduzido, anistiado, selado, até porque as vendas não voltaram ainda. Como é que você vai pagar? Vamos ter que dialogar muito. Na hora de pagar imposto, os governos são pouco sensíveis e esquece que quem emprega e quem gera impostos somos nós empresários. 

O que pode afetar positiva e negativamente o comércio baiano no segundo semestre?   Temos uma preocupação quanto a vacinação e com as novas cepas, porque temos que conhecer o tipo de vírus que vem. Quanto a parte positiva, temos que ser otimistas. A população está otimista com o avanço da vacinação e isso levando de volta o otimismo aos empresários. O ICEC, que é o índice de confiança da Fecomércio, apontou 4,2& de alta em junho. Esperamos que possamos crescer esse número e pensar em um Natal de 2021 bem melhor, mais promissor, com menos óbitos, mais emprego e mais renda. Quando o índice de confiança sobe, o consumidor fica otimista e o empresário também.  

A inflação na Região Metropolitana de Salvador está em 7,84%, no acumulado dos últimos 12 meses. Como isso afeta o comércio da local?   É uma preocupação a inflação alta. Começamos com uma inflação bem menor, no início da pandemia. Só que não houve consumo. Mas esperamos que o Ministro da Economia e o Banco Central saiba botar limite nisso e que a inflação não venha a desestabilizar o nosso mercado. Sabemos que o transporte, alimentação e habitação subiram demais. Mas temos certeza que eles estarão atentos para esses detalhes. 

Qual a avaliação do setor comercial sobre a reforma tributária que tramita no Congresso?   Pensamos que íamos ter uma reforma tributária mais rápida e mais desburocratizada. Infelizmente, o nosso congresso e Brasília nos atrapalha muito. Existe muito show e jogo de interesses entre os estados, e os estados mais ricos são mais privilegiados. Entendo que precisávamos das duas reformas, a reforma tributária e a reforma administrativa, mas a eleição já está chegando e os políticos olham somente para eles, mas é um fator cultural, o Congresso precisa ser mais ágil. O cenário político mira muito a próxima eleição de 2022 e esquece que quem dá emprego e paga imposto, que é o comércio, serviços e turismo. 

Em cinco meses, chega o Natal, a principal data para o comércio. Alguns shoppings já iniciaram, inclusive, as decorações. Qual a perspectiva de venda e contratação de mão de obra para este ano?   Devemos pensar positivo. Quando o índice de otimismo e confiança cresce, o consumo e o emprego também volta. Estamos pensando positivo, desde que mantenhamos as precauções do uso da máscara, álcool gel e distanciamento. Temos que estar atentos. O comércio fez a parte dele, foi responsável e fez o dever de casa, não podia ser diferente. Continuamos incentivando os empresários nessa linha. E temos certeza que vamos continuar assim e vamos ter bons resultados no Natal de 2021. 

Com quanto de faturamento o ano deve fechar para o comércio da Bahia?   Estou otimista e espero um crescimento em torno de 4 a 5%. 

Ações do Serviço Social do Comércio (Sesc) na pandemia 

Educação - aulas online, vídeos e oficinas transmitidas no Google Classroom, Youtube, Instagram e Facebook. Mais de 6.234 alunos inscritos na Educação Básica (Infantil e Fundamental 1 e 2, em 10 municípios; e o 1º ano do Ensino Médio, em Salvador), Educação de Jovens e Adultos e Educação Complementar;   Saúde - treinamentos, capacitações e campanhas. A Unidade Móvel Sesc Saúde Mulher realizou 1.354 exames citopatológicos e 948 mamografias; foram 217 ações educativas online com 146.124 visualizações; restaurantes e lanchonetes ofereceram 607.889 refeições e 316.126 lanches; Consultórios Odontológicos atenderam a 8.067 clientes  Cultura - 433 atividades online com mais de 239.066 visualizações (Instagram e Youtube); mais de 3.583 participantes em atividades formativas; a 4ª edição da Feira Literária Internacional do Pelourinho, em 2020, a Flipelô online teve 45 horas de programação e 21 mil visualizações no canal do Youtube  Lazer - 160 transmissões “ao vivo” (live) do projeto Movimente-se! com mais de 123.122 visualizações;  2.805 inscritos nas academias e modalidades esportivas; 6.298 clientes com 23.275 diárias na Rede Sesc de Hospedagem Assistência - 1.255.103 quilos de alimentos e produtos de higiene e limpeza arrecadados; 2.191 kg de alimentos arrecadados com o Drive Thru Solidário; 6,8 mil kg de alimentos arrecadados em “lives” solidárias; 8.463 mil quilos de alimentos para o Natal Solidário; 192 instituições atendidas que beneficiaram mais de 164.808 pessoas  

Ações do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) na pandemia 

- Mais de 40 mil vagas gratuitas em 2020, estimulando a entrada de jovens e adultos no mercado de trabalho, nas áreas: Saúde, Gestão, Gastronomia, Tecnologia da Informação, Moda, Hospedagem, Beleza e Artes.  - 4 mil empresas no projeto de mentorias - para auxiliar os estabelecimentos comerciais a se adequarem à realidade atual (Salões e Barbearia e Espaços de beleza, os Bares e Restaurantes, as Lojas do varejo e a hotelaria)  - R$ 100 mil para distribuir 14 mil refeições para nove instituições beneficentes  - R$ 10 mil para produzir 34 mil máscaras de tecido, que atendeu 10 instituições distribuídas por quatro cidades baianas 

*Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro