Como sobreviver ao apocalipse zumbi

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  • Kátia Borges

Publicado em 19 de setembro de 2021 às 07:05

- Atualizado há um ano

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O lance agora é andar em paz, apesar dos pesares da política e de vivermos sob a lâmina afiada das novas variantes do vírus. Você bem sabe, talvez seja hora de olharmos mais seriamente para trás. O passado vem forçando a barra para retornar como farsa e é preciso confirmar as trancas nas portas, checar se as janelas estão fechadas, exorcizar fantasmas que se vestem com um lençol e fazem ruídos com a boca.

Andar em paz, eis a moda da temporada nas últimas semanas. Tente ler com calma um artigo interessante sobre como sobreviver ao apocalipse zumbi. Anote todas as dicas, para o caso de vir a ser realidade, e de eles saírem pelas ruas, em aglomerações assustadoras. A verdade é que estamos todos cansados de girar nessa roda-gigante, tontos em looping de indignidades e de índices que oscilam.

Mesmo os mais otimistas, os mais alegres, sabem que ainda estamos longe da segurança. Atravessamos a febre dos pães artesanais e das hortas verticais de apartamento e, hoje, sem a ginástica, a meditação ou a dança mágica dos primeiros tempos de pandemia, só pedimos uma pausa na pancadaria, uma trégua durante os ataques, um pouco de sossego, uma espécie de “acabou, Jéssica?”.

Agora, máquina de fazer pão parada, livros por terminar de escrever ou de ler, apocalípticas e integradas, fazemos graça até com a paráfrase mais sem graça, escolas teóricas, indústrias culturais. E rimos de nós mesmos por doce compaixão. Agora que se foi o tempo das varandas animadas com orações e músicas, até as panelas parecem fazer menos barulho que nas primeiras batucadas indignadas.

Andar em paz virou obsessão e funciona como uma espécie de rehab. Esse sim, insisto, é o lance da vez em tempos de ódio compulsivo. Fazer barulho bem longe dos ruídos das redes sociais e das notas de repúdio, apesar da sensação constante de dever algo a alguém, aliás, a Deus e ao mundo, que te pedem de um tudo nessa vida. Lá vai ela, a demandada, a diferentona, comentarão os mais irônicos.

Mas são tantos e tão intensos os barulhos que sacodem os celulares estúpidos que usamos, até mesmo de madrugada e aos sábados e domingos, que se Drummond fosse vivo na era dos smartphones, acho que teria questionado em seu Poema de Sete Faces, para quê tantas chamadas, meu Deus? Meu coração já nem pergunta, apenas silencia todos os toques e bate calado e em paz ao longo do dia.