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Carol Aquino
Publicado em 15 de junho de 2018 às 21:54
- Atualizado há 3 anos
Dois pacifistas, defensores dos direitos infantojuvenis e conhecidos no mundo, finalmente, se conheceram nessa sexta-feira (15): o médium Divaldo Franco e o vencedor do Nobel da Paz, Kailash Satyarthi. O encontro foi na Mansão do Caminho, no bairro Pau da Lima, em Salvador.>
“Nós estamos aqui para trocar compaixão. Ela é a semente da mudança para melhor. O mundo está crescendo em tecnologia, conhecimento, dinheiro, mas uma coisa está encolhendo, e é a compaixão nos nossos corações”, pontuou o pacifista indiano.>
Satyarthi, através da organização Bachpan Bachao Andolan, que defende os direitos das crianças, conseguiu salvar mais de 85 mil de situações de trabalho forçado, tráfico humano, entre outras formas de violência. >
O encontro foi combinado pelo Ministro Corregedor do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Lelio Bentes Correa, que também é perito da Organização Internacional do Trabalho (OIT).>
“Kailash veio ao Brasil para fazer uma palestra. Quando soube deste ser humano extraordinário (Divaldo) e dos resultados que ele tem alcançado pela promoção da paz, do amor ao próximo, da compaixão, ele quis muito vir”, revelou. >
Admiração mútua Satyarthi, com a fala pausada, porém firme, não escondeu a admiração pelo brasileiro. “O que é feito aqui (na Mansão do Caminho) parece com trabalho social, mas é um trabalho divino. Trazer um sorriso para o rosto das crianças, empoderamento para as crianças e suas famílias, é trabalho de Deus”, disse, sem economizar nos elogios. >
Foi este trabalho divino que Satyarthi conheceu durante a tarde, acompanhado da sua esposa Sumedha Satyarthi. Sempre ao lado de Divaldo, os dois visitaram a instalação da Mansão do Caminho, desde o Centro de Parto Normal, onde interagiram com as mães, até as escolas, onde brincaram com as crianças.>
Na Mansão do Caminho, elas são cuidadas desde a hora do parto até a juventude. Além do centro para nascimentos, o espaço conta com creche, pré-escola e ensino fundamental. As crianças têm acesso ainda à educação integral, aulas de artes e esportes, curso de informática e acesso à saúde. Além disso, elas recebem doações de pão, café, leite e açúcar para levar para casa. >
Sentido Divaldo conheceu a obra de Kailash quando o mesmo ganhou o Nobel da Paz, em 2014, junto com a ativista de direitos de educação das mulheres, Malala Yousafzai. Encantado, passou a estudar a sua biografia e a admirar a sua história de vida.>
“A visita desse homem incomum tem um sentido muito profundo, porque muitas vezes sentimo-nos a enxugar gelo nos ideais que expressamos. Principalmente o ideal infantojuvenil, que é o único meio de construir uma sociedade feliz”, apontou Divaldo Franco, ressaltando que não há saída para a construção de uma sociedade melhor sem educação. >
O brasileiro, que se considera principalmente um educador, conta que esta é a missão da sua vida e assim como Satyarthi sentiu ainda na juventude o impulso para lutar pelo direito à educação e que ao conhecê-lo se sentia mais empolgado com a sua tarefa. “Ver o exemplo deste matrimônio (referindo à Kailash e sua esposa Sumedha) que se dedica a salvar vidas, a construir vidas, eu sinto um vigor imenso para continuar”, pontuou. >
Paz Divaldo é reconhecido também pela sua luta pela paz. Fundador do Movimento Você e a Paz, que estimula a não violência e a mudança do sentimento de agressividade. O convite à reflexão nasceu em 1998, e desde então se espalhou por várias cidades do Brasil e por pelo menos dez países mundo afora. >
E por falar em não violência, quando Kailash é questionado como podemos fazer para superar o drama que atinge milhares de jovens brasileiros, vítimas da criminalidade, a resposta do pacifista surpreende. Ao invés de terceirizar a culpa, ele acredita que a saída é dotar os jovens de protagonismo.>
“O que eu sinto é que uma necessidade de esperança da sociedade nos jovens brasileiros. Os jovens deviam ter fé e esperança em si mesmos. Eles têm que estar fortemente decididos a fazer esse país melhor e lutar contra o trabalho infantil, escravidão e etc”, disse sobre o motivo que o levou a criar sua campanha “Cem milhões por Cem milhões”. >
O movimento é simples: trata-se de dotar o jovem de meios e plataformas para promover a paz. “Eles querem fazer algo bom para a sociedade, pro mundo, mas não tem lugar para isso. Os jovens devem sentar no banco do motorista e liderar a campanha por paz, educação e segurança”, pontuou. >
A visita do pacifista indiano foi acompanhada por uma comitiva, que além de contar com representantes da Mansão do Caminho, foi integrada por outros membros, como o diretor de televisão da Rede Bahia, João Gomes, e o comandante geral da Polícia Militar da Bahia, Coronel Anselmo Brandão. >