Complexo do Alemão: Família de menina baleada nega confronto de PM e traficantes

Agatha estava com a avó em uma Kombi quando foi atingida por um tiro de fuzil nas costas

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  • Da Redação

Publicado em 21 de setembro de 2019 às 15:15

- Atualizado há um ano

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Agatha Félix, de 8 anos, morava no Complexo do Alemão (Foto: Reprodução das redes sociais) Familiares da pequena Agatha Vitória Sales Félix, de 8 anos, baleada na noite desta sexta-feira no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio de Janeiro, negam a informação dada pela Polícia Militar (PM) de que, na hora do disparo que acertou a criança, equipes policiais da UPP Fazendinha foram atacadas de várias localidades de forma simultânea. Elias César, tio da criança, rebate a troca de tiros e afirma que houve apenas um disparo, o que atingiu Agatha pelas costas. As informações são do jornal O Globo.

"A ação da PM se deu porque os policiais haviam mandado um motociclista parar, mas ele não atendeu à ordem. A kombi estava no Largo do Birosca (na Fazendinha) e os policiais atiraram na moto. É mentira que teve tiroteio , foi um tiro só. Nenhum PM foi atacado", garante o tio, apontando a presença de, pelo menos, cinco militares.

De acordo com O Globo, a nota enviada pela corporação destaca que equipes foram atacadas e os policiais revidaram à agressão. "Os policias foram informados por populares que um morador teria sido ferido na localidade conhecida como 'Estofador'. Uma equipe da UPP se deslocou até o Hospital Getúlio Vargas e confirmou a entrada de uma criança de 8 anos ferida por disparo de arma de fogo", diz a nota. Ainda segundo a PM, a Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) irá abrir um procedimento apuratório para verificar as circunstâncias.

Na manhã deste sábado (21), parentes e amigos foram até o Instituto Médico Legal (IML), no Centro do Rio, para a liberação do corpo. Ainda não há informações sobre o local e o horário do velório e sepultamento da menina. Segundo a família, os pais estão passando mal, ainda em estado de choque, e não tiveram condições de comparecer ao IML. (Foto: Reprodução) Defensoria Pública: confronto se mostra ineficaz

Ainda de acordo com o veículo, a Defensoria Pública do Rio emitiu uma nota de solidariedade: "A defesa do direito à vida é um dos princípios basilares da nossa instituição. Por esta razão, acreditamos em uma política de segurança cidadã, que respeite os moradores das favelas e de qualquer outro lugar. A opção pelo confronto tem se mostrado ineficaz: a despeito do número recorde de 1.249 mortos em ações envolvendo agentes do estado apenas este ano, a sensação de insegurança permanece. No caso das favelas, ela se agrava", diz o texto, que lembra também a morte do policial Leonardo Oliveira dos Santos , atingido em Niterói.

A nota reforça ainda que, "se coloca à disposição dos familiares de Ágatha — e de todo cidadão fluminense" — para auxiílio jurídico.

Manifestação reúne moradores no Alemão

Na manhã deste sábado (21), dezenas de moradores e ativistas sociais fazem uma manifestação pacífica pelas ruas do Complexo do Alemão. Carregando faixas e cartazes, eles pedem pelo fim das mortes de crianças e jovens em comunidades do Rio. Com a ajuda de um carro de som, os manifestantes também pedem a presença do governador Wilson Witzel. Além disso, citam os nomes de moradores mortos em ações policiais seguidos pelo termo "presente", grito que ganhou destaque após a morte da vereadora Marielle Franco. Manifestação reúne moradores no Alemão (Foto: Renê Silva/Voz das Comunidades) Nas janelas e varandas da Avenida Itararé, onde a manifestação ocorre, moradores agitam panos brancos como sinal de paz. Mototaxistas também acompanham o grupo. O coletivo Mães de Manguinhos também participa do ato para apoiar a família de Agatha.