Compra de baianos na internet supera R$ 1 bilhão

Consumo de produtos do varejo eletrônico por parte dos baianos corresponde a 4,2% do total nacional e a 31% do consumo da região Nordeste

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 8 de setembro de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Se o consumo no varejo da Bahia vai mal, com queda de 1,7% nas vendas, de abril para maio, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgada em junho, o mesmo não se pode dizer do varejo eletrônico, que faturou R$ 1 bilhão com pedidos provenientes do estado no primeiro semestre de 2018.

Segundo a 38ª edição do Webshoppers 38, estudo produzido pela Ebit|Nielsen, referência em informações sobre o e-commerce brasileiro, o consumo de produtos do varejo eletrônico por parte dos baianos corresponde a 4,2% do total nacional, estimado em R$23,6 bilhões, e a 31% do consumo da região Nordeste.

Com mais comodidade, opções de preços em conta e possibilidade de planejar melhor as compras, o consumidor da Bahia busca na internet o que poderia até encontrar no comércio físico local, mas dependeria de mais paciência para esperar o produto chegar à cidade e ser colocado à venda.

No caso da publicitária Monique Maione, uma carioca de 28 anos que não gosta de perder tempo quando se fala de estar na moda, comprar por meio da internet um par de tênis com solado alto, cujo modelo ela tinha visto em uma viagem a São Paulo, foi uma decisão rápida. Monique Maione aproveita a internet para fazer compras Foto: Acervo Pessoal

“Pode ser que venda aqui em Salvador, já vi parecido, mas nunca vi um com um salto alto assim como esse”, ela disse, informando em seguida que pagou R$ 159 no calçado comprado há dois meses, com frete gratuito. “Acho que vi um tênis desses numa loja aqui esses dias, mas não era todo branco, como eu queria”.

Comprar pela internet tem facilitado a vida de Monique. Ao invés de ficar esperando o dia certo – que nem sempre chega – para ir à rua comprar itens que necessita para a casa, ela tem feito isso pelo mundo virtual. No início do ano, por exemplo, gastou quase R$ 500 com almofadas, secador de cabelos, toalha e roupa de cama.

“Comprando pela internet, consigo me programar melhor. Não preciso ficar esperando o dia certo, a hora que vou ter tempo para ir à rua. E às vezes demora muito mais tempo desse momento aparecer que os dias para a entrega da compra pela internet. Então, para mim é vantagem não só com relação a dinheiro, mas a tempo”, falou.

As compras de hoje, ela disse, costumam ser feitas em sites que ela já costuma usar, ou então por meio de aplicativos de vendas, mas já passou por um pequeno problema ao encomendar da China uma peça de acrílico que ela achou que tivesse uns 5 palmos de altura. “Quando chegou, não tinha 5 dedos”, lembrou, aos risos.

“Mas foi culpa minha de não ter lido direito a informação sobre o produto, lá tinha a informação sobre o tamanho. Por isso, não tive nem como reclamar, acabou que a peça ficou com um primo”, contou. Mas o prejuízo não foi grande: a tal peça de acrílico chinesa – um peso de papel –, custou R$ 20, com frete incluso.

A influenciadora digital Vanessa Pereira Ventura, 27 anos, formada em Relações, informou que busca na internet produtos que geralmente já sabe que é bom, seja por indicação de alguém de confiança ou que já experimentou. “Roupas e maquiagem estão entre esses produtos, que geralmente compro para repor”, ela contou. E faz investimentos também pensando no lado profissional, como a compra nesta sexta-feira (31) de pacote de molduras (R$ 3,50), por meio do aplicativo Unfold.

Mas a compra, ela diz que prefere fazer em vários sites, não fica presa em um. E, também nem sempre dá certo a compra virtual, como ocorreu há um mês com uma calcinha que vem com absorvente junto, é lavável e pode ser utilizada por dois anos. “Acabei deixando para comprar numa viagem que fiz a São Paulo. Pela internet, iria ficar muito caro”, afirmou.

Mais procurados

Na Bahia, segundo o Webshoppers, o segmento mais procurado na internet é o de “moda e assessórios” (20%), seguido, com 12% cada, de “esporte e lazer” e “livros/assinaturas e revistas/apostila”.

“Saúde/perfumaria e cosméticos” (10%), “eletrodomésticos” (9%), “casa e decoração” (8%), “telefonia/celulares” (7%), “informática” (4%), “eletrônicos” e “alimentos e bebidas” (ambos com 3%) completam a lista.

De acordo com Pedro Guasti, conselheiro e Relações Institucionais da Ebit|Nielsen, a procura do consumidor baiano por produtos de determinado segmento é um reflexo das características regionais do Nordeste. E, sem citar dados locais, ele disse que se percebe que a maior parte dos consumidores é do público feminino.

“Temos visto esta diferença da Bahia em relação a outras regiões”, afirmou o executivo, segundo o qual a maior parte das compras são feitas à vista, por meio de boleto ou no cartão de crédito.

No caso da Bahia, Guasti destacou que o grande volume de compras se dá pela facilidade de acesso à internet com os smartphones. Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), em junho a Bahia tinha 14.313.737 linhas móveis (chips), quase a quantidade de habitantes do estado divulgada nesta quinta-feira (29) pelo IBGE, de 14.812.617.

“A Bahia é um mercado forte na região Nordeste, tem uma série de empresas que oferecem diversidade de produtos e mercado eletrônico, o que traz para a região vantagem maior em relação a preços, sortimento de produtos. O mercado atende a uma população exigente, que muitas vezes não encontra produto específico, como um tênis com um a numeração específica”, comentou.

Dentre as empresas que estão se destacando no mercado, estão as que já possuem nomes consolidados no mercado com loja física. Nesse ramo, estão mercados, farmácias, e a depender da empresa a pessoa pode escolher o local de entrega ou retirada dos produtos por meio da filial mais próxima.

“Hoje, há supermercados que possibilitam a pessoa a organizar sua compra todo mês. A pessoa faz tipo uma assinatura do que deseja consumir, e todo mês, desde que não avise que não quer mais a compra, ela recebe em casa os produtos. Pode-se ainda alterar de casa a lista de produtos e o valor a ser pago”, explicou.

Segundo o monitoramento da Ebit|Nielsen, o comércio eletrônico brasileiro registrou no primeiro semestre de 2018 um crescimento nominal de 12%. Para o ano, a expectativa é de crescimento de 12% em todo país, com faturamento de R$ 53,4 bilhões.

Em 2017, o crescimento foi de 7,6% em relação a 2016. “Só o que nos empatou um pouco este ano foi a greve dos caminhoneiros, prejudicou muito as vendas entre o final de maio e início de junho. Mas estamos retomando o crescimento”, garantiu Guasti.  Planejamento

Seja no comércio físico ou virtual, o planejamento é de suma importância, tanto no que diz respeito ao marketing dos produtos quanto às vendas nas redes sociais, sobretudo porque 78% das pessoas que acessam a internet no país estão em alguma rede social, segundo indicadores de 2017 do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic).

As principais redes são o Facebook (95% dos usuários da internet) e o Instagram (89,1%), apontou a pesquisa da Rock Content, empresa líder de Marketing de Conteúdo no país. “Além de ter um bom plano de marketing, é preciso também um plano de negócios para o e-commerce, verificar quem são os consumidores, o público que se quer atingir”, disse a analista de gestão de Portifólio do (Serviço Brasileiro de Apoio a Pequenas e Micro –Empresas (Sebrae-BA), Vanessa Correia Lima Mutari.

Outra necessidade, revelou Vanessa, é a de construir um site seguro, de fácil navegação tanto para o empreendedor quanto para o cliente. “No Sebrae, caso a pessoa sinta que precise de uma orientação maior, temos o Sebrae-TEC, que dá um serviço de consultoria personalizada, em que se faz um investimento de R$ 1.900, corresponde a 70%do valor do profissional que dará a consultoria. A pessoa vai ter um site próprio, completo, com o que está precisando”, afirmou Vanessa.

Daí em diante, é se manter atualizado sempre, buscar informações sobre inovações, capacitar equipes que ficarão responsáveis pelo e-commerce da empresa ou, se for uma pessoa só à frente da empresa, saber dividir o tempo para dar atenção também às redes sociais e aos clientes.

“Importante que a pessoa, no mundo virtual, coloque seus produtos de forma clara, informando preços, valores de frete, regras para devolução ou troca, especificar tamanhos, maneiras de pagamento. É bom ter cuidado com as fotos do ambiente, que devem mostrar um local limpo, agradável, para evitar algum tipo de situação”, explicou a analista. Sobre compras no mundo virtual, Vanessa orientou verificar sempre as informações sobre reputação do vendedor ou da empresa. “Consultar o Reclame Aqui ou o Procon (defesa do consumidor), que tem uma lista dos piores sites, é uma outra boa opção”, completou.

A estudante de Designe de Moda, Ritielle Nunes, 29, está iniciando as vendas no mundo virtual na Bahia. Moradora de Simões Filho, ela tem uma loja de roupas femininas que logo passará a vender também assessórios e terá um espaço físico. Ela disse ter feito o site da loja em uma plataforma que vem pronta na internet.

“Só tive ajuda de uma amiga na hora de colocar umas informações mais técnicas para funcionar direito, mas o resto fiz sozinha e foi bem fácil”, contou ela, que também é consumidora de produtos virtuais, sobretudo roupas e assessórios, vindos mais de São Paulo. “Acho um mercado muito bom, apesar de competitivo, mas estou apostando que vai dar certo e estou me dedicando”.  

Veja os cuidadosa e direitos do consumidor nas compras pela internet * O consumidor  que realiza a compra pela internet pode desistir dela em até sete dias a partir do recebimento do produto ou serviço (de acordo com artigo 49 do Código de Defesa do Consumidor). Os valores pagos durante o recebimento do produto devem ser devolvidos, com direito a correções monetárias. 

* O Sistema  Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC) garante que o fornecedor deve oferecer meios eficientes para que a devolução ocorra, além de informar ao consumidor todos os seus direitos.

* As informações  dadas pelo fornecedor devem ser claras, precisas e em português, caso a oferta e publicidade estejam nessa língua.

* A lei garante facilidade e rapidez no cancelamento de cobrança efetuada pelo cartão de crédito em casos de descumprimento do fornecedor ou caso o cliente não reconheça ter efetuado a transação.

* O consumidor pode procurar o Procon para garantir que o produto ofertado seja entregue ou que haja substituição, caso o item seja entregue com problema ou no endereço errado.

* Os Correios não pagam indenização em caso de objetos simples postados sem registro, erros de endereçamento, objetos com valor mercantil não declarado, retenção por autoridade competente, prejuízos indiretos, casos de força maior e o objetos mal embalados.