Conheça Caíque, o traficante que 'manda' no Nordeste de Amaralina

Abandonado na infância e 'aviãozinho' na adolescência, ele hoje é o braço direito de Val Bandeira, chefão do CP que está preso

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  • Bruno Wendel

Publicado em 13 de junho de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

Caíque, 25, é suspeito de envolvimento em vários homicídios, diz polícia (Foto: CORREIO/Reprodução) Ainda moleque, Antônio Caíque Santos Oliveira teve o destino igual ao de muitos outros meninos largados à própria sorte no Complexo do Nordeste de Amaralina, região formada por quatro comunidades carentes de Salvador. Ele foi mais um menino cooptado pelo tráfico, que começou nas funções de aviãozinho e olheiro e que, na adolescência, se exibia com um fuzil que pesava mais do que seu corpo franzino.

A diferença é que a maioria dos meninos que cresceu junto com Caíque não chegou à sua idade – porque foi morta pela polícia ou por rivais –, e tampouco à sua posição – isso em relação aos que ainda vivem. Com 25 anos, Caíque é um dos gerentes da facção Comando da Paz (CP), grupo criminoso que controla o tráfico nos bairros que formam o complexo: Nordeste de Amaralina, Santa Cruz, Vale das Pedrinhas e Chapada do Rio Vermelho.

Caíque é um dos olhos e gatilho de Joseval Bandeira, o Val Bandeira, que mesmo cumprindo pena Unidade Especial Disciplinar (UED), no Complexo Penitenciário da Mata Escura, continua mandando na região do Nordeste. Val Bandeira, o chefão do Comando da Paz, quase foi solto no ano passado (Foto: Reprodução) No sábado (9), a polícia matou no final de linha da Santa Cruz um dos homens ligados à facção. Trata-se de um traficante conhecido como Budigo que, segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), teve envolvimento com a morte do cabo da Polícia Militar Gustavo Gonzaga da Silva, 44. Antes de ser executado, o policial foi torturado por traficantes da área onde Caíque comanda, na última sexta-feira (8). O corpo foi mutilado. Cabo PM Gonzaga foi assassinado com requintes de crueldade da sexta (Foto: Reprodução) A partir da morte do policial, Salvador e Região Metropolitana amargaram o final de semana mais violento do ano: 30 homicídios, todos de homens, a maioria com idades entre 15 e 29 anos e moradora de bairros periféricos. Os casos são investigados pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). A própria SSP também diz avaliar se parte das mortes ocorreu por retaliação ou ação de grupos de extermínio com policiais envolvidos.

Solto, sem estudos “Ele era um menino comum. Vivia solto, não estudava, vivia na ociosidade. Os pais não ligavam para ele. Aí o caminho errado o chamou. Inicialmente, começou a ganhar dinheiro sendo olheiro e aviãozinho de um grupo criminoso que atuava no Comando do Boqueirão (CB), na Santa Cruz”, contou um agente da 28ª Delegacia (Nordeste de Amaralina).

O CORREIO revelou com exclusividade a existência da quadrilha CB, em setembro de 2012. Nessa época, Caíque não era mais um garoto. Era um homem respeitado no bando. “No final da adolescência, Caíque teve autorização da cúpula do CB para montar sua primeira boca. Daí foi ganhando respeito, pegando o gosto de matar os rivais e usuários que deviam e inocentes desavisados de outros bairros que circulavam na região do Nordeste”, contou o policial.

A ascensão de Caíque veio com a chegada do CP no complexo do Nordeste de Amaralina, dois anos depois. “Ele já era um dos homens importantes do CB e, quando o CP chegou, todos os grupos criminosos se aliaram à facção. Nisso, ele se tornou um dos gerentes do CP”, contou o agente.

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Morte de Rambo Caíque já ficou preso por tráfico de drogas na 28ª Delegacia. Ainda de acordo com o agente da unidade, Caíque é investigado por envolvimento na morte do ex-policial civil Carlos Alberto das Neves Barreto, mais conhecido como Rambo. Ele foi assassinado em junho de 2016 no mesmo bairro que fez sua fama, o Vale das Pedrinhas.

Rambo ficou famoso no bairro na década de 1980, quando trabalhou com importantes delegados, a exemplo do delegado José Magalhães na 7ª Delegacia (Rio Vermelho), além da sua forma ostensiva de combater o crime.

Carlos Alberto chegou a aparecer no Fantástico vestido do personagem vivido por Sylvester Stallone no cinema. A fama veio tanto pela ascensão, quanto pela queda, quando se envolveu com o tráfico de drogas e foi preso em flagrante por policiais federais em uma boate na Barra.

Depois disso, Rambo passou a trabalhar como segurança de rua no Vale das Pedrinhas. De acordo com informações da polícia, cerca de 20 homens o executaram. A polícia acredita que Caíque era um deles.