Conheça o vinho laranja em 6 rótulos

Esqueçam os clássicos franceses e italianos: o vinho laranja é o novo objeto de desejo do enófilo

  • Foto do(a) author(a) Paula Theotonio
  • Paula Theotonio

Publicado em 10 de dezembro de 2020 às 10:57

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Vinhos laranja são bastante gastronômicos e vão super bem até mesmo com comidas que levam dendê (divulgação) Também chamados de âmbar, são feitos mantendo por mais tempo o mosto de uvas brancas com suas cascas durante o processo de maceração. Este contato prolongado altera não somente a cor da bebida, como seus sabores, expressão aromática, complexidade e corpo.

Nas bebidas maceradas por mais tempo, prepare-se para complexas notas de damasco, mel, castanha do Brasil, maçã sobremadura, casca de laranja seca e até mexerica. Na boca podem ser bem secos, densos e possuir taninos bem mais fáceis de perceber que nos rosés, por exemplo.

Mas nem todos são assim, como veremos mais à frente. Há, inclusive, quem descarte o nome “laranja” e prefira referir-se a eles como brancos de longa maceração ou brancos de maior contato com as cascas.

Por essas características tão únicas, acredito que são boas pedidas para as comidas condimentadas brasileiras. Uma amiga sommelière indicou para acompanhar um caruru, por exemplo, cheio de dendê. Eu gosto da ideia harmonizá-lo com a diversidade absurda de preparos natalinos, ou acompanhando uma tábua de frios e charcutaria, como já fiz duas vezes.

8 MIL ANOS DE HISTÓRIA O que parece novidade ou modismo é, na verdade, uma técnica ancestral – criada há cerca de 8 mil anos! Segundo o enólogo responsável pelo resgate deste método, Josko Gravner, povos que ocupavam a região do Cáucaso começaram a introduzir cachos inteiros de uvas brancas em ânforas de argila, com formato ovóide e revestidas com cera de abelha, chamadas kvevris.

Esses recipientes eram mantidos sob a terra, o que baixava a temperatura e permitia uma fermentação lenta (com uso de leveduras selvagens). Poderia levar de semanas a meses até que o processo acabasse e, então, o laranjinha pudesse ser servido sem qualquer tipo de filtragem.

A princípio, a recuperação do método caiu nas graças dos enólogos da própria Geórgia, do nordeste da Itália e na Eslovênia – que hoje fazem excelentes alaranjados ao estilo ancestral. Nos últimos anos, profissionais da enologia em todo o mundo passaram a fazer suas próprias versões, com ou sem ânforas de barro enterradas em solos caucasianos. Já tem até espumante nature laranja, lançado este ano pela Cave Geisse. Mas vou ficar devendo a resenha: o auê foi tão grande que quase não se encontra no mercado.

A seguir, conheça 6 vinhos laranjas com diferentes propostas:

Laranja acessível | Villagio Conti Arancione 2019 (R$ 84 no Seu Vinho Em Casa) — Segundo a vinícola, as uvas italianas Ribolla Gialla, Grechetto, Vermentino e a grega Malvasia de Candia passaram 90 dias em contato com suas cascas durante a fermentação. Em taça ele traz uma leve turbidez, cor âmbar, aromas de frutas amarelas maduras, como mexerica (sim!), casca de laranja e damasco. Na boca traz mais corpo e acidez média. Um excelente vinho para começar a se aventurar!

Laranja ancestral | Shabo Rkatsiteli 2018 (R$ 160 na Wine Spanholo) — Se a sua ideia é provar um alaranjado com história, vá neste exemplar da região de Kakheti, na Geórgia, onde tudo começou. É elaborado com a uva Rkatsiteli, proveniente do Cáucaso, exatamente como manda o figurino: fermentando nos kvevri enterrados a 3 metros de profundidade por 9 meses. O resultado é um vinho encorpado, com boa acidez e levemente tânico; com sabor de laranja, notas florais e toque tostado. No olfato traz ainda notas de mel, damascos cozidos e especiarias.

Laranja diferentão | Vivente Moscato Bianco Chardonnay (R$ 170 na Adega Terroir) — Em Colinas (RS), é feito este laranja sem intervenção e orgânico, que me lembrou bastante kombucha. Após colheita manual, as uvas orgânicas foram maceradas e mantidas em contato com as cascas por 15 dias, passando depois por uma fermentação com leveduras nativas. No olfato e no paladar, traz um expressivo buquê de flores, frutas e um toque de mineralidade. Na boca é ácido e divertido.

Laranja levinho | Paso a Paso Las Criollas de Don Graciano Field Blend (R$ 180 na Adega Terroir) — Orgânico e natural, é elaborado com as variedades Criolla Grande, Moscatel Rosado e Torrontés Sanjuanino. Neste caso, foram 20 dias de maceração e apenas 50% do mosto passou pela co-fermentação com cascas. O resultado já foi um vinho bem mais leve, aromático, acidez média, com aroma que lembra kombucha e levemente amanteigado. Provei com ceviche e amei!

Laranja natureba e brasileiro | Trebbiano On The Rock 2018 (R$ 246 na Adega Terroir) — Este é brasileiro e elaborado 100% de uvas Trebbiano provenientes dos Caminhos de Pedra, em Bento Gonçalves. As uvas são desengaçadas e maceradas por 10 dias em um lagar de basalto (dita rocha-mãe da Serra Gaúcha), construído especialmente para este vinho. Após fermentação com leveduras nativas, 30% do vinho permanece por 10 meses em uma barrica de carvalho francês usado e 70% fica em um pequeno tanque de inox. Não é filtrado. O resultado é um laranja de cor intensa e pouco alcoólico, com apenas 11,8%.

Laranja potente | Attilio & Mochi Amber 2018 (R$ 255 na Edega) — Provei este na vinícola, que fica no Valle de Casablanca, Chile. Delicioso, encorpado e com aromas de frutas secas amarelas, como damasco; este vinho é um corte de Roussane e Viognier (50% cada), maceradas e fermentadas juntas. Ambas vêm de vinhedos com trato orgânico, sem uso de produtos sintéticos, como pesticidas ou herbicidas. 60% da bebida é envelhecida em barricas novas durante 2 meses, enquanto os outros 40% ficaram em tanques inox com as leveduras. Um achado!