Considerado guru dos Novos Baianos, Luiz Galvão escreveu maioria das canções do grupo

Poeta e compositor, baiano de Juazeiro morreu em São Paulo, na noite deste sábado (22)

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  • Osmar Marrom Martins

Publicado em 23 de outubro de 2022 às 08:55

. Crédito: Foto: Divulgação

Poeta, compositor e considerado um guru do grupo Novos Baianos. Luís Dias Galvão, mais conhecido como Luís Galvão nasceu em Juazeiro, na Bahia, no dia 22 de outubro de 1935 e foi registrado em 1937. 

Ele se mudou para Salvador, onde conheceu Moraes Moreira (1947-2020) e Paulinho Boca de Cantor com os quais criou o grupo Novos Baianos, em 1968. Moraes, Galvão, Pepeu, Paulinho e Baby do Brasil fizeram história juntos.  Na noite deste sábado (22), aos 87 anos, Galvão nos deixou. Morreu após pouco mais de um mês internado no Instituto do Coração (Incor), em São Paulo. 

Galvão conhecia João Gilberto (1931-2019) desde a adolescência e essa amizade foi fundamental para que o grupo Novos Baianos, quando chegasse ao Rio e Janeiro ter uma referência.

Ainda em Salvador, eles realizaram o show Desembarque dos Bichos Depois do Dilúvio Universal que tinha como hit a música Ferro na Boneca. Essa canção deu nome ao primeiro disco do grupo, gravado pela RGE dirigida por João  Araújo, o pai do futuro astro Cazuza.

Depois que João Araújo saiu da RGE e fundou a Som Livre, o grupo gravou o álbum mais aclamado deles, Acabou Chorare (1972) considerado pela revista Rolling Stones Brasil como o maior disco brasileiro de todos os tempos. A eleição foi realizada em 2007 contou com 60 especialistas, entre estudiosos, produtores e jornalistas. 

Trajetória de sucesso A trajetória de Galvão na música popular brasileira é extensa. Em 1968, participou do V Festival de Música Popular da TV Record  (SP), com a canção De Vera (em parceria com Moraes Moreira), interpretada pelo grupo Novos Baianos.

Nos anos 70,  transferiu-se para o Rio de Janeiro onde passou a viver comunitariamente com todos os músicos do grupo, em um sítio localizado em Vargem Grande - onde gravaram Acabou Chorare, comunicando-se constantemente com Gilberto Gil.

Escreveu a maioria das canções gravadas pelo conjunto, musicadas por Moraes Moreira, entre elas Acabou Chorare, Preta Pretinha, Mistério do Planeta e a Menina Dança. O grupo se desfez em 1978 , voltando a se reunir no final do século passado, para a gravação do CD ao vivo Infinito Circular.

Publicou, em 1977, o livro Anos 70: Novos e Baianos, lançado pela Editora 34 (SP), relatando a trajetória do grupo. Morou em São Paulo nos últimos anos ao lado de sua esposa Janete Galvão,  e tem dois CDs de poesias inéditas, lançados de forma independente.

Escreveu também Geração Baseada (1982), Ovos do Brasil (1987/poemas), Novos Baianos: a História do Grupo que Mudou a MPB (2013) e João Gilberto, A Bossa (2021), seu livro mais recente, no qual biografa a trajetória do amigo e conterrâneo João Gilberto. 

Saúde frágil Antes dessa última internação, Galvão vinha de um histórico de emergências médicas após sofrer um infarto em 2017 que deixou sequelas. No dia 12 de fevereiro deste ano, ele foi vítima de um novo infarto em sua casa na capital paulista.

"A primeira coisa que apareceu nele foi a diabetes, há quinze anos, mas a gente vinha controlando, tanto que ele nunca foi dependente de insulina. Aí ele teve depois ele teve um infarto [em 2017] por conta de uma obstrução na carótida esquerda. Colocou dois stents e estava sob controle, sendo medicado. Aí depois ele teve dois AVC's e ficou com algumas sequelas", relatou à época sua esposa. 

Dificuldades financeiras A esposa de Galvão contou ao Blog do Marrom, em agosto de 2022,  sobre as dificuldades da família de arcar com despesas médicas, estimadas em R$ 20 mil mensais, além da falta de condições para contratar um plano de saúde. 

Nos últimos cinco anos, Galvão recebeu tratamentos hormonais, técnicos - tudo tecnologia de ponta, que justifica o alto valor. Mas de um ano pra cá, as coisas se tornaram mais difíceis. A família já vendeu carro e tentou vender um sítio na Bahia para custear os tratamentos. 

Segundo Janete relatou ao CORREIO, antes da morte de Galvão, uma advogada foi contratada para atualizar os contratos que garantem os repassem de direitos autorais de discos como o Acabou Chorare e o Novos Baianos F.C. lançados em 1972 e 1973, respectivamente. 

Para minimizar as despesas, familiares e amigos  chegaram a fazer uma campanha que inclui um  bazar com 5 livros escritos por Galvão - incluindo produções que não estão mais nas livrarias - e  pediram doações via PIX. 

Janete declara que Baby do Brasil tomou conta do gerenciamento e finanças da banda desde que Moraes Moreira faleceu, em 2020, e não estaria  prestando contas à família de Galvão.

A advogada responsável pelo caso é Deborah Sztajnberg, especialista em direitos autorais, que trabalhou em casos como o do processo movido por Roberto Carlos contra o pesquisador Paulo Cesar de Araújo no caso das biografias não-autorizadas. Ela também já defendeu artistas como Raul Seixas e é autora do livro Cala Boca Já Morreu: A Censura Judicial das Biografias, lançado pela Editora Multifoco.

“Sempre tentamos resolver os problemas de uma maneira que não seja necessária judicializar as questões. Temos uma série de documentos, estou conversando com todos os autores e vamos continuar nessa toada até o final da semana. Ir para o judiciário é muito caro e desgastante, no momento o que queremos é priorizar o bem-estar de Galvão e seus direitos”, resumiu a advogada em entrevista ao CORREIO no dia 30 de junho deste ano.

O caso, no entanto, acabou sendo judicializado no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro em agosto deste ano. Inclusive, em recente decisão, foi indeferida a gratuidade de justiça requerida por parte de Galvão.