Cooperativa é alternativa para garimpeiros de Novo Horizonte

Município desponta como um exemplo para outras cidades baianas graças a um trabalho de formalização do garimpo

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  • Donaldson Gomes

Publicado em 8 de agosto de 2019 às 04:43

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

A história de Novo Horizonte está ligada à mineração. O município com população estimada em pouco mais de 12 mil habitantes nasceu na primeira metade do século passado graças à extração e o comércio de ouro. Por muitos anos, a feira do pequeno povoado de Ibitiara, até então denominado Marcelino, que foi sendo visto com cada vez mais interesse pelos visitantes. Mas foi a exploração quartzo rutilado, um material raro usado para joalheria, e da Barita, mineral que é usado pela indústria do petróleo, quem deu a verdadeira vocação do município.

Novo Horizonte, a 560 quilômetros de Salvador, vive do garimpo. De acordo com a estimativa da prefeitura local, 30% da economia de lá é agrícola, enquanto 60% da população vive direta ou indiretamente da mineração. Instalado numa faixa de terra com alto potencial para o desenvolvimento da atividade mineral, Novo Horizonte desponta como um exemplo para outros municípios baianos com as mesmas características graças a um trabalho de formalização do garimpo, com a criação de uma cooperativa para a atividade. 

Dados publicados pela Agência Nacional de Mineração (ANM) mostram que, em 2018, as operações garimpeiras com 11 tipos minérios – como Esmeralda, Ametista, Turmalina e Diamante – resultaram em uma movimentação econômica de R$ 86,9 milhões no país. E isso, levando-se em conta apenas as operações devidamente registradas. Nesse mesmo ano, as operações registradas pela ANM nos principais municípios baianos com operações regulares de garimpo totalizaram uma movimentação de R$ 12,2 milhões.

“Nós temos muitas pessoas que dependem economicamente do garimpo. É muito comum que os governos dêem áreas, mas muitas vezes isso não é suficiente”, explica Antonio Carlos Tramm, presidente da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM). Ele lembra que em diversas regiões, o garimpo é uma opção de sobrevivência. 

“Por que um cara vai se enveredar, para entrar numa floresta, num buraco sem condições de trabalho? Porque ele precisa sobreviver, tirar o sustento para a família. Isso não precisa ser feito em condições inadequadas”, acredita Tramm. A CBPM, a implantação de cooperativas de garimpeiros como uma estratégia para melhorar as condições de trabalho dos profissionais da atividade, além de promover uma exploração ambientalmente sustentável. “Quando se concede uma autorização de lavra, mesmo para a atividade de garimpo, série de condicionantes que garantem o respeito ao ambiente”, diz. 

Solução coletiva Há oito anos, Novo Horizonte começou a se tornar uma dentre as poucas, mas honrosas exceções dentre as regiões da Bahia em que há garimpo. “Nós estamos em uma região que tem uma grande concentração de minérios, como acontece em outros lugares, muitos até próximos a nós, mas aqui não se tem a miséria que se vê em outros garimpos”, destaca o garimpeiro e presidente da Cooperativa dos Garimpeiros de Novo Horizonte, José Flávio de Mota Júnior.

A cooperativa que iniciou suas atividades com 12 filiados, hoje conta com 611 garimpeiros. “Foi uma propulsão para a atividade porque foi o início da legalização aqui na região” conta Flávio Júnior. Inicialmente, houve resistências, dificuldades na adaptação, mas hoje quem vive da extração das riquezas minerais em Novo Horizonte acredita que o processo é compensatório. “Com a legalização, nós temos acesso a assistência técnica, mapeamento geológico, temos acesso a programas ambientais, que era uma carência da gente”, destaca. 

A mineração é uma atividade tão importante por lá, que a estátua do garimpeiro é um dos símbolos locais. 

Hoje, os associados participam de ações para o reflorestamento de áreas dentro da cooperativa e de recuperação de áreas degradadas. 

Com apoio nessas áreas, os profissionais podem se concentrar no que fazem de melhor: extrair minério da natureza. “Nos dois últimos anos estivemos em primeiro lugar na produção nacional de barita”, destaca. O mineral é usado pela indústria petroleira como uma espécie de lubrificante para os equipamentos de perfuração e nas paredes dos poços, para ajudar a estrutura a suportar a pressão no subsolo. 

Atividade importante O geólogo da CBPM, Adalberto Figueiredo Ribeiro, destaca a importância do apoio que a atividade recebe a partir da regularização. “Ainda existe aquela figura do garimpeiro folclórico, que se embrenha no mato para aventurar. Mas o perfil de atividade mais predominante é o do que se profissionalizou, e que precisa de um mínimo de condições”, explica. Neste sentido, o acesso a um bom suporte técnico é fundamental, acredita. “O mais comum é que os garimpos acabem se tornando cada vez mais especializados”, acredita. 

Ribeiro lembra de lugares como Pindobaçu, onde acontece a extração de esmeraldas desde 1963, ou Brejinhos, em Caetité, onde se mineram ametistas desde a época da Segunda Guerra. Uma curiosidade: por lá os lugares receberam nomes de países. A explicação? Disfarçar a verdadeira origem dos achados. 

Fórum discute o futuro da mineração 

Algumas das maiores autoridades da mineração brasileiras estarão presentes em Salvador no próximo dia 14. Representantes de orgãos públicos vão se juntar a empresários do setor, pesquisadores e representantes da universidade para discutir o futuro da atividade. A Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) e a Secretaria de Ciência Tecnologia e Inovação da Bahia (Secti), promovem, com apoio do CORREIO, o 1º Fórum Internacional de Inovação e Sustentabilidade na Mineração, que tem como patrocinadores Companhia Vale do Paramirim, Bahia Mineração (Bamin), Sindicato das Industrias Extrativas de Minerais (Sindimiba) e a Vanádio de Maracás S/A.

Entre as presenças já confirmadas no evento estão Alexandre Vidigal de Oliveira, que é Secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia (MME), Victor Bicca, que é diretor-geral da Agência Nacional de Mineração (ANM), e Rinaldo Mancin, diretor do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). 

Presidentes de mineradoras com projetos na Bahia, como Paulo Misk, presidente da Vanádio de Maracás, e Eduardo Ledsham, da Bahia Mineração (Bamin), também já confirmação a participação no evento. O fórum será realizado na Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), no Stiep, com o credenciamento a partir das 08h. 

Gustavo Roque, coordenador do Mining Hub, em Minas Gerais, é outra presença confirmada. A instituição criada para fazer uma ponte entre o setor e empresas de inovação é considerada um modelo para o hub que será apresentado na Bahia, durante o fórum. 

Serviço 

O que  I Fórum Internacional de Inovação e Sustentabilidade na Mineração

Quando  No próximo dia 14 de agosto, com credenciamento às 08h e palestras entre as 09h e as 17h30

Onde  Na Federação das Indústrias do Estado da Bahia – Rua Edísio Pondé, 342, Stiep, 

Inscrições  Gratuitas, no site bit.ly/forumdemineracao