Coronavírus: a histeria coletiva da estação

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  • Flavia Azevedo

Publicado em 2 de fevereiro de 2020 às 10:11

- Atualizado há um ano

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Parece que os chineses, ao comerem ensopado de morcego (ou algo assim), trouxeram para o mundo dos humanos uma variação de um tipo de vírus que dá um tipo de doença respiratória com letalidade de, aproximadamente, 3%. Há chances de que esse vírus já esteja em território brasileiro. E eu, que até pensei que o Verão terminaria sem uma doença pra gente morrer de medo, vejo, outra vez, mais do mesmo: coronavírus é o nome da histeria coletiva da estação.

Já foi cólera, ebola, h1n1, zika, sars, chikungunya e outras que não lembro agora. Não importa. Quero só falar do fetiche pelo alarmismo, do prazer que o povo sente ao se apavorar e apavorar os outros com fantasias de pandemias mortais. Freud explicaria bonito, Groddeck talvez ainda mais. Só mesmo com sangue nos olhos e dedos nas feridas tiraríamos, realmente, os véus dessa excitação quase sexual, da dramaticidade e gráficos dos telejornais, desse afã de compartilhar os vídeos e áudios mais fantasiosos, dessa disposição que transforma pessoas em zumbis tocadores das trombetas do apocalipse, a cada Verão.

Fácil entender de onde tiramos essa "vocação", mas não estou aqui pra falar  da manipulação das massas, capítulo a parte. Também não vou dizer que as doenças não existem, claro. Apenas quero trocar uma ideia, de indivíduo para indivíduo, no meio dessa bagaça. Fico "incrívi", como diz minha amiga, ao ver, por exemplo, pessoas bem alfabetizadas e que tiveram acesso às melhores universidades divulgando áudios anônimos, como se trouxessem verdades. Pior do que isso, verdadeiramente assustadas com vídeos de "jornalistas" não identificados que são evidentes colagens toscas de imagens. Isso, sem que consigam se fazer sequer, entre tantas, a pergunta mais básica: por que não se identificam? Com um mínimo de serenidade, poderiam concluir que se alguém tivesse provas da "verdade escondida" sobre um surto de amplitude mundial, não precisaria ter medo de nada. Venderia para o comprador certo e estaria milionário/a. 

Pânico instalado, não se fala em outra coisa. Minha amiga apavorada por uma escala que o filho vai fazer em Xangai, só acalmou um pouco quando ele provou, por A+B que tem mais chance de uma pessoa morrer num assalto no Brasil do que gripado na China. Basta ver os números, mas isso ninguém faz e não vejo muita gente se propondo a, de fato, promover uma cultura de paz. Lembrei que, no ano passado, fui eu a desesperada porque meu filho iria pro Rio e não tinha sido vacinado contra febre amarela que era a vedete daquela estação. Levei ele ao posto, vacinei com a vacina que sempre existiu e - apesar de nao ser obrigatória em área não endêmica - poderíamos ter usado há mais tempo. Simples. Tão simples quanto entender que a vida é e sempre foi perigosa, independente dos holofotes em uma ou outra questão.

Há quem fale até em cancelar o Carnaval como se, só nas neste ano, ele se anunciasse como um manancial tanto de prazeres quanto de doenças infecto contagiosas. Me poupe. A sífilis tá bombando, aliás, e sobre ela pouca gente fala. "Ainnn, mas esse Coronavírus pega pelo ar". Sim, igual ao sarampo que também tá de volta, complica em 30% dos casos e, portanto, mata, proporcionalmente, bem mais. As hepatites estão aí, nos golinhos de copos alheios e beijos na boca que ninguém deixa passar. Todos estão com as vacinas em dia? Duvido. E mesmo que estivessem, a leptospirose tá aí toda possível nas areias sujas de praia e latinhas não lavadas que todo mundo bota na boca. Fora gripes, herpes, tuberculose... quer mais? Bom, melhor deixar pra lá. 

Independente da veracidade da mensagem, Magali, minha professora de redação, me ensinou a perguntar "a quem interessa essa narrativa" diante de qualquer texto, discurso, conversa ou reportagem. A partir daí, começar a pensar. Sou grata. Sendo assim, por mais que eu não queira entrar no tema "manipulação das massas", preciso dizer que percebo o tipo de povo que nos tornamos: ingênuo, assustado, sensacionalista e mal informado. Entre tantas armadilhas, todo ano caímos nessa da "pandemia", com data marcada. Portanto, cuido de me proteger, sim, mas de corpo e alma. Isso porque entendo perfeitamente o que minha amiga Ana disse: "um povo assombrado não olha ao redor". Quero informar que não estou assombrada. Me fiz entender? Obrigada. De nada.