Coronavírus: Escolas de Salvador recomendam que crianças que viajaram fiquem em casa

A orientação é para estudantes que estiveram no exterior nas últimas semanas

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  • Gil Santos

Publicado em 11 de março de 2020 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arquivo CORREIO

A executiva Ana Carolina Velloso, 36 anos, viajou para os Estados Unidos no mês passado e levou a filha de 5 anos. A família retornou no último fim de semana e a menina voltaria às aulas na segunda-feira, mas as duas foram surpreendidas com um pedido da escola para que a pequena protelasse em 14 dias o retorno à sala de aula. Com medo do coronavírus, escolas de Salvador estão aconselhando estudantes a ficarem em casa, mesmo sem apresentar sintomas.

Todas as instituições ouvidas pelo CORREIO frisaram que a recomendação vale apenas para as crianças que estiveram em áreas de risco e que se trata de uma orientação e não uma proibição - que seria ilegal -. Ou seja, o aluno não será impedido de frequentar as aulas caso os pais desconsiderem o pedido. A medida divide opiniões e sinaliza que ainda existem muitas dúvidas sobre a Covid-19, infecção causada pelo novo coronavírus.

Para Ana Carolina a escola precisa observar as consequências dessa decisão antes de pedir para as crianças ficarem em casa. “Na escola da minha filha foi divulgado um comunicado, em fevereiro, aconselhando as crianças que visitaram as áreas tidas de risco a ficarem em casa. China, Itália, Alemanha, França, Japão e outros. Não falava nada sobre os EUA. Estivemos na Flórida, estado que não tem caso confirmado e, mesmo assim, pediram para deixar ela em casa por 14 dias”, disse.

Ela contou que programou as férias do trabalho para terminar junto com o período de retorno às aulas e que, agora, está sem saber o que fazer. “Não posso deixar o trabalho de lado para ficar em casa por 14 dias. A escola deveria ter avisado com antecedência e dado um desconto na mensalidade já que a criança vai passar metade do mês em casa. Vou seguir a recomendação durante uma semana, depois, minha filha vai voltar às aulas”, disse.

Já a enfermeira Alice Santana, 39, disse entender e ser a favor da decisão das escolas. Ela acredita que a medida é para preservar a própria criança e os outros estudantes, professores e funcionários da instituição.“Pode até ser um transtorno, mas é mais seguro para todos. Esse vírus se dissemina muito rápido e quem viaja passa por aeroportos e tem contato com muita gente durante a viagem. É uma precaução das escolas que eu acho necessária, ainda que isso dificulte a nossa vida enquanto pais”, afirmou.  Cuidado redobrado Segundo os especialistas, a transmissão do coronavírus ocorre pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, com a boca, nariz ou olhos.

A diretora da Escola Arco-Íris, no Acupe de Brotas, Adriana Rossetto, disse que a instituição foi uma das primeiras a divulgar informativos para os pais sobre como proceder em caso de viagens para o exterior, e que a recomendação da escola é de que a criança fique em casa, mesmo sem sintomas, por uma questão de saúde.

“Enviamos um aviso para que pessoas que estavam viajando fora do país tomassem algumas precauções com relação aqueles países que apresentam risco, para que a criança ficasse 14 dias em casa antes de voltar para a escola. A gente iria assumir toda a questão pedagógica para que a criança não fosse prejudicada”, afirmou.

A escola tem realizado palestras e discussões sobre coronavírus, e há dois anos trocou os bebedouros por filtros, depois do surto de H1N1 que atingiu o país.“A gente não proibiu. Essa é uma orientação, uma precaução. Esse é um problema grave no mundo, e temos que pensar no coletivo, não apenas na gente. Não dá para levar a criança porque não tem com quem deixar. Se ela viajou, passou por aeroportos, é preciso cuidado”, disse.A instituição tem cerca de 400 estudantes, de 1 a 10 anos. Para o infectologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e coordenador do Laboratório de Retrovírus da Ufba, Carlos Brittes, os cuidados precisam ser redobrados, mas não há motivo para pânico.

“Lavar as mãos e cobrir a boca e nariz quando vai tossir ou espirar são prevenções gerais, mas não garante total proteção porque tem pessoas que podem estar infectadas e que ainda não desenvolveram os sintomas ou não vão desenvolver. Não sabemos ainda como o vírus vai se comportar em nosso meio. Não temos uma disseminação em nosso meio, na Bahia são apenas dois casos, então, não há motivo para pânico”, afirmou.

Ambientes suscetíveis

As escolas são apontadas como ambientes propícios para a disseminação de doenças virais porque concentram em um pequeno espaço uma quantidade grande de pessoas. O infectologista orientou que os baianos busquem fontes confiáveis para esclarecer dúvidas sobre a Covid-19 antes de tomar decisões. “O melhor sempre será os sites dos órgãos de saúde porque eles concentram as informações verdadeiras”, aconselhou.

A diretora da Escola Recanto de Fadas, na Pituba, Lilia Moisés, apostou na conscientização dos pais e em oficinas lúdicas para as crianças como formas de prevenção. Além disso, a escola intensificou o uso de álcool em gel, lixeiras com pedal e ampliou a equipe da limpeza para manter os ambientes higienizados.  “Nas oficinas, as crianças aprenderam a como tapar a boca e o nariz ao tossir ou espirrar, e outras formas de prevenção. No dia 18 de março, teremos uma palestra sobre a higienização das mãos e, no dia 25 de março, outra sobre alergias na infância. A conscientização é o mais importante”, disse.A direção da Recanto de Fadas não identificou alunos que viajaram para o exterior, mas afirmou que em casos suspeitos a recomendação é ficar em casa. A instituição tem cerca de 200 crianças, de 1 a 6 anos.

O Colégio Antônio Vieira, no Garcia, deu a mesma recomendação. Em comunicado enviado aos pais, pediu que aqueles que viajaram ou tiveram contato com pessoas de regiões que registraram casos confirmados do novo coronavírus procurem um especialista, infectologista ou pediatra, para uma avaliação, antes de enviar os filhos para a escola.

No Centro Educacional Vitória-Régia, no Cabula, professores se esforçam para ensinar os pequenos a como lavar as mãos corretamente. A partir desta semana, os estudantes vão assistir a palestras e fazer trabalhos, com vídeos e cartazes, sobre o tema. São 1,4 mil alunos apenas nesta instituição, sendo 390 deles na educação infantil.

Escolas públicas também previnem

A educação pública também entrou na discussão sobre a Covid-19. Uma parceria entre as secretarias estaduais da Educação (SEC) e da Saúde (Sesab) está promovendo palestras e rodas de conversas sobre o novo coronavírus nas escolas da rede estadual. O objetivo é transformar a comunidade escolar em aliada no combate à doença.

Na manhã desta terça-feira, 10, alunos do 7º ao 9º ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Pinto de Aguiar, em Mussurunga, participaram de uma roda de conversa, que tirou dúvidas e reforçou a importância de atos de prevenção como a higienização frequente das mãos.

Já a Secretaria Municipal de Educação (Smed) informou que as 185 unidades de Salvador contam com apoio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) para a prevenção de doenças virais. E  que costumam adotar o uso do álcool em  gel no dia-a-dia.