Coronavírus já atinge cinco continentes em meio a surto de preconceito contra orientais

Avanço da doença gera hostilidade, discriminação e veto a chineses em vários países do mundo

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  • Jairo Costa Jr.

Publicado em 1 de fevereiro de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

Pela segunda vez consecutiva, o coronavírus ganha destaque na edição de fim de semana do CORREIO como o principal assunto dos últimos dias. A escolha não foi à toa. Antes restrito à China e meia dúzias de países, o novo motivo de pânico no mundo se transformou em emergência global, decretada na quinta pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Até o fechamento desta edição, a doença havia infectado mais de 11 mil pessoas e ultrapassado a marca de 250 mortos em 23 nações da Ásia, América, África, Europa e Oceania. Simultaneamente, os números crescem à medida em que se multiplicam os perigos imaginários sobre o vírus, sejam eles por desinformação ou com objetivo de disseminar pânico e preconceito.

É fato que a comunidade internacional está à beira da pandemia de coronavírus. Além da China, foco da doença originada na cidade de Wuhan, países populosos como Índia, Rússia, Estados Unidos, Coreia do Sul, Tailândia, Japão, Alemanha, França, Itália e Reino Unido confirmaram casos de pacientes infectados. Agora, tornou-se praticamente impossível conter o avanço veloz do vírus. É real também a probabilidade de que, enquanto esta reportagem é lida, o Brasil contabilize os primeiros pacientes infectados. Na última atualização do Ministério da Saúde, foram registrados casos suspeitos em São Paulo (7), Rio Grande do Sul (2), Ceará (1), Paraná (1) e Santa Catarina (1), nenhum deles confirmados.

Corrida contra o tempo Diante da rápida disseminação da doença, autoridades em saúde pública ao redor da Terra elevaram o nível de vigilância epidemiológica e de fiscalização em fronteiras aéreas, terrestres e marítimas, na tentativa de identificar eventuais pacientes infectados antes que eles espalhem o novo tipo de coronavírus em seus territórios. Hospitais estão sendo criados ou adaptados para enfrentar a realidade da epidemia, assim como salas de emergência e triagem em portos, aeroportos com conexões internacionais e destinos de forte presença estrangeira. Ao mesmo tempo, cientistas americanos, russos, chineses e australianos correm para desenvolver e testar uma vacina capaz de combater a enfermidade. 

O temor da pandemia levou os EUA a ampliarem o rastreamento de pessoas vindas da China de cinco para 20 aeroportos. Terceira maior companhia aérea do país, a United Airlines confirmou a suspensão de parte dos vôos entre o país e o gigante asiático por uma semana, medida válida já a partir deste sábado. No mesmo compasso, a Mongólia se tornou o primeiro país a fechar as fronteiras terrestres com os chineses. Alemanha e Turquia, por sua vez, desaconselharam viagens de seus cidadãos para nações com casos confirmados. O agravamento do quadro impulsionou autoridades e especialistas a expedirem recomendações para evitar o contágio. 

Basicamente, a orientação é adotar a chamada “etiqueta respiratória”: cobrir a boca em caso de tosses e espirros, lavar as mãos com frequência e, em locais com movimentação intensa de estrangeiros, como aeroportos, usar máscaras de proteção. Foi o suficiente para que pipocassem milhares de imagens de gente ao redor do mundo com a face coberta. Em São Paulo, onde há uma numerosa comunidade chinesa, o estoque do produto nas redes de farmácias e lojas especializadas esgotou em uma semana. Na Bahia, os órgãos públicos de saúde pressionaram pelo cumprimento da lei estadual que obriga estabelecimentos comerciais a disponibilizarem álcool em gel para clientes.

Sinais de histeria coletiva e aversão a asiáticos No rastro dos perigos reais do coronavírus, surgiram também os imaginários. Desde o aumento no número de casos, não param de surgir relatos de hostilidade a cidadãos de origem oriental em diversos países, numa espécie de histeria coletiva alimentada por pânico excessivo, xenofobia e preconceito racial, como se viessem deles a provável extinção da humanidade. Segundo a agência de notícias Ansa, um bar próximo à visitadíssima Fontana di Trevi, em Roma, chegou a proibir o acesso de chineses, após a Itália detectar dois turistas do país infectados com o novo coronavírus, batizado de “2019-nCoV”.  Mesmo em países asiáticos, como Tailândia e Vietnã, visitantes da China estão sendo barrados em hotéis e pressionados sem trégua a voltarem para casa.

Nas redes sociais, crescem manifestações discriminatórias contra chineses, rotulados de “comedores de morcegos e cobras”, em alusão aos indícios de que ambos seriam a fonte do vírus. Sem falar das fake news na internet e grupos de WhatsApp. Entre as quais, foto de vários corpos em uma rua da China, mensagens de autoridades de instituições renomadas recomendando o uso de chás e outras terapias para tratar o coronavírus e pesquisas que apontam a sopa de morcego como fonte para a disseminação da doença. Todas comprovadamente falsas e que em nada ajudam a enfrentar os perigos reais ou imaginários.