Coronavírus: médicos atuam como detetives para evitar propagação da doença na Bahia

Paciente número 1 no estado, feirense que esteve na Itália já está isolada e tem familiares monitorados

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  • Da Redação

Publicado em 7 de março de 2020 às 06:13

- Atualizado há um ano

. Crédito: Estátua de Gandhi, em São Paulo, estado mais afetado pela doença, ganha máscara cirúrgica (foto: RENATO S. CERQUEIRA/ESTADÃO CONTEÚDO)

O novo coronavírus já circula pela Bahia, ao menos nos municípios de Salvador e Feira de Santana. Após a confirmação do primeiro caso no Estado - uma feirense de 34 anos que esteve na Itália em fevereiro -, os desafios das autoridades sanitárias locais agora é o de minimizar o alcance da doença, se possível, evitando casos de transmissão local, quando uma pessoa infectada transmite o vírus para outra. É um trabalho que não abandona a ciência médica, mas que se assemelha a uma investigação policial. E medidas nesse sentido já foram tomadas.

Os agentes da vigilância epidemiológica precisam rastrear todos os passos da que pode ser batizada de paciente número um da Bahia desde que ela voltou do passeio a Milão e Roma. Devem, também,  identificar as pessoas com quem interagiu nesse período e, a depender do tipo de contato, testar se essas pessoas também não foram infectadas. 

Ao mesmo tempo, é preciso isolar pelo tempo que for necessário a paciente número um, evitando que ela entre em contato com novas pessoas, aumentando o campo de ação do vírus. Em média, esse isolamento dura 14 dias. A feirense, conforme determinação do Ministério da Saúde, está cumprindo quarentena em sua residência e, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (Sesab), já não apresenta nenhum dos sintomas da doença. Seus familiares também estão sendo monitorados pelo Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde da Bahia (Cievs-BA) em conjunto com a vigilância municipal de Feira de Santana.

Paralelamente, cientistas e pesquisadores já estão em pleno trabalho de desvendar o genoma do vírus encontrado na Bahia. A descoberta é importante para a criação de uma futura vacina para proteger a população (um ano, em média) e de medicações eficazes para a cura da infecção. O novo coronavírus ainda é pouco conhecido pela ciência, mas já se sabe que é de fácil transmissão. Os primeiros casos identificados datam do final de dezembro, na China. Em cerca de três meses já infectou mais de 101.800 pessoas em aproximadamente 100 países. Muitos casos são assintomáticos, ou seja, os infectados não apresentam sintomas, mas podem, mesmo assim, transmitir o vírus.

Três dias A feirense infectada voltou de viagem em 25 de fevereiro. E só procurou um serviço de saúde três dias depois. “Após identificada como caso suspeito de infecção pelo novo coronavírus, todas as precauções foram adotadas”, informou o médico que a atendeu.

A unidade de saúde, o Hospital Cardio Pulmonar, na Avenida Garibaldi, em Salvador, notificou à Secretaria Municipal de Saúde (SMS), e os exames para diagnóstico foram encaminhados para o laboratório de referência do estado (Lacen), conforme protocolo do ministério.

De acordo com o médico, as pessoas que por acaso tenham tido contato com ela no hospital estão seguras, já que “o paciente usa máscara desde o início do atendimento e é logo encaminhado para o leito de isolamento”. Apesar de ter coletado os exames da paciente, o hospital ficou sabendo apenas nessa sexta (6) da confirmação do caso.

O secretário estadual de Saúde, Fábio Vilas-Boas, ao anunciar o caso confirmado, assegurou que todas as medidas de contenção para garantir “que não houve a contaminação de outras pessoas foram e estão sendo tomadas pela vigilância estadual, municipal e Núcleo Regional de Saúde Leste”. 

Alcance global Apesar de todos os esforços -  em todo o mundo - contra o vírus, o chefe do Departamento de Epidemiologia da Universidade Harvard (EUA), Marc Lipsitch, acredita que o novo coronavírus deve infectar, em um ano, de 40% a 70% da população mundial. Ainda assim, ele assegura não haver motivo para pânico, pois, segundo diz, a Covid-19 (doença respiratória causada pelo novo coronavírus) tem uma taxa de mortalidade na faixa de 2% (a maioria de idosos) e se espalha rapidamente por ter sintomas leves ou mesmo ser assintomática. Por isso, afirma que a tendência é que a infecção se torne uma doença sazonal (mais comum em determinada época do ano).

Cuidados para evitar contágio e transmissão

Evitar contato  próximo com pessoas que sofrem de infecções respiratórias agudas

Realizar lavagem frequente das mãos, especialmente após contato direto com pessoas doentes ou com o meio ambiente

Utilizar lenço descartável para higiene nasal

Cobrir nariz e boca quando espirrar ou tossir

 Não tocar mucosas de olhos, nariz e boca

 Higienizar as mãos após tossir ou espirrar

 Não compartilhar objetos de uso pessoal como talheres, pratos, copos ou garrafas

Manter os ambientes bem ventilados

Evitar contato  próximo a pessoas que apresentem sinais ou sintomas da doença e com animais selvagens e animais doentes em fazendas ou criações

Profissionais de  saúde devem utilizar medidas de precaução padrão, de contato e de gotículas (máscara cirúrgica, luvas, avental não estéril e óculos de proteção)

Fonte: Sesab

Números do Coronavírus no Brasil 

13 casos  confirmados de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, foram identificados no Brasil 

4 estados registram as doenças. São 10 em São Paulo, 1 no Rio de Janeiro, 1 no Espírito Santo e 1 na Bahia. Há um caso à espera de confirmação no Distrito Federal 

768 casos suspeitos são investigados no Brasil 

93 casos foram notificados na Bahia com suspeita clínica, sendo 54 excluídos e 38 aguardam análise laboratorial

36 países  estão sendo monitorados pelo Brasil por apresentarem transmissão ativa do coronavírus

Dados do MS e da Sesab até sexta-feira (3)