Corregedor descarta intolerância religiosa no caso da ialorixá agredida

“Estamos na Bahia. Aqui todo mundo é católico, mas gosta de um sambinha também", disse o corregedor

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  • Da Redação

Publicado em 10 de novembro de 2010 às 08:15

- Atualizado há um ano

Alexandre Lyrio | Redação CORREIO

Antes mesmo de concluir o processo administrativo que investiga as agressões sofridas pela ialorixá Bernadete Souza Ferreira dos Santos, o corregedor adjunto da Polícia Militar, tenente-coronel Manuel Souza Neto, afirmou que tanto a intolerância religiosa quanto a tortura “não serão comprovadas de jeito nenhum”.

O corregedor, que promete finalizar hoje o relatório da sindicância, esteve ontem no assentamento Dom Helder Câmara, em Ilhéus, no Sul do estado, e conheceu o local onde a mãe de santo disse ter sido torturada e jogada num formigueiro por sete PMs que participavam de uma operação em busca de drogas no assentamento. 

"Pegaram Oxóssi, puxaram os cabelos e jogaram num formigueiro", contou Bernadete

Depois de ouvir os PMs, a vítima e oito testemunhas, o corregedor disse que não lhe pareceu haver intolerância. “Estamos na Bahia. Aqui todo mundo é católico, mas gosta de um sambinha também. Não tem intolerância religiosa. Isso não vai ser provado de jeito nenhum”.

O coronel afirmou que não houve tortura. “Não teve ninguém colocado em formigueiro. Aliás, nem tem formigueiro. O que existe é uma grama rasteira com algumas formigas”, disse o corregedor, que também considerou legal a presença da PM numa área federal.

"Sou bacharel em Direito. Não existe impedimento legal porque eles estavam numa operação". Para Souza Neto, é preciso apenas saber se houve excesso por parte dos policiais.

Vítimas, testemunhas e o advogado ficaram indignados com as declarações do corregedor. “Quem quiser pode vir aqui ver o formigueiro e ouvir as testemunhas. As marcas das mordidas estão nas minhas pernas”, disse a ialorixá.

O advogado de Bernadete, Valdir Mesquita, disse não se surpreender com a “postura corporativista” da PM. Diante das afirmações do coronel, as esperanças dos assentados recaem agora sobre o Ministério Público (MP) e a Justiça comum. O MP espera a finalização do inquérito da Polícia Civil.

“A sindicância da PM não vai ter muito efeito pra gente não. Sempre há o receio do corporativismo. E se o próprio inquérito da Civil não se mostrar consistente a gente faz nossa investigação independente”, avisou Cícero Ornelas, coordenador do Núcleo de Combate à Discriminação. Hoje, Bernadete será recebida pelo governador Jaques Wagner.