Corretora de prova do Enem dá dicas de como escrever a redação perfeita

Especialista explica uso de gírias, citações e regionalismo

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  • Fernanda Varela

Publicado em 4 de setembro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Professora de Redação e corretora das provas da disciplina no Enem, Luana Duarte dá dicas (Foto: Arisson Marinho/Arquivo CORREIO)  Tirar uma boa nota na Redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é barril dobrado pra muito estudante. A prova segue um modelo e é necessário se ligar pra não perder pontos e descer ladeira abaixo na nota. Esse parágrafo, por exemplo, poderia prejudicar e muito um candidato na hora da correção da avaliação. 

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O início desse texto provocaria arrepios - acreditem, do pior tipo possível - nos corretores da prova de Redação do Enem. O CORREIO conversou com um deles, a professora da disciplina e especialista em análise do discurso, Luana Duarte, que já adianta: gírias e regionalismos devem ser esquecidos na hora de fazer a prova, assim como as contrações. 

"A gíria faz parte da linguagem coloquial, não é uma boa ideia usar na prova do Enem, que pede um texto de norma culta padrão. O uso pode ser mal visto pela banca avaliadora e o aluno pode perder ponto. O avaliador pode considerar que há uma pobreza de vocabulário, que o estudante não sabe trabalhar melhor a redação", explica.

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Em vez de escrever "entrar na onda das redes sociais", por exemplo, ela indica que o candidato opte por "aderir ao uso das redes sociais", por exemplo. 

Outra coisa "barril" para o estudante é usar regionalismos, como esse. É que, além de não fazer parte da norma culta, esse tipo de linguagem pode ser de difícil compreensão para quem vai avaliar a prova.

Luana explica que é fundamental ter cuidado com o famoso "baianês", principalmente porque as expressões locais podem ter diferentes significados nas regiões brasileiras. "Tem que ter cuidado. Muitas vezes os termos são facilmente modificados de uma região para outra. O candidato corre risco de não ser compreendido pelo avaliador. Se o corretor for de Curitiba, por exemplo, ele não vai entender. Deve-se usar sempre a linguagem formal", alerta.E substituir nem é tão difícil assim. O "baba" vira "futebol", o "barril dobrado" se transforma em "grande dificuldade" e o famoso "buzu" pode facilmente ser trocado por "ônibus".

Outra coisa que tira ponto 'pra' caramba é essa contração da palavra "para". Pode parecer besteira, mas não passa despercebido na correção da prova do Enem e reduz a nota do candidato. Segundo Luana, isso é analisado na competência 1, que representa o critério de verificação dos aspectos gramaticais e organização sintática do texto apresentado na avaliação.

E os ditados? Aqueles provérbios populares como "A voz do povo é a voz de Deus", "Cada macaco no seu galho" e "Caiu na rede, é peixe" costumam ser considerados clichês e utilizá-los não é a melhor alternativa, segundo a corretora. Ela explica que, além de não serem objetivos e terem o poder de gerar diferentes interpretações, os ditados podem complicar a vida do aluno.

"Se o ditado for citado e não interagir com ideia central do texto, o uso pode ser um tiro no pé. O aluno usa a expressão sem causar nenhum efeito na ideia que vai defender, usa por usar, e isso também faz perder ponto. Outra coisa, se você usa um ditado para embasar seu ponto de vista, precisará refletir sobre ele, analisar, interpretar, perderá muitas linhas com isso. O ideal é ser claro, objetivo. Não faça o corretor pensar muito no que você quis dizer, faça ele entender de primeira", avisa Luana.

O segredo, segundo ela, é apelar para a citação de autoridades, ou seja, de especialistas no assunto. Essa é a melhor alternativa para quem quer deixar o texto mais rico. Ditados devem ser evitados (Foto: Reprodução) As citações Na hora de usar as citações, não se engane. Não precisa decorar a frase de efeito do filósofo alemão Arthur Schopenhauer ou do historiador francês Jacques Le Goff. No seu texto pode ter Valeska Popozuda, Harry Potter, Batman, seus livros favoritos e até aquela frase de efeito que Seu Madruga disse em algum momento nos saudosos episódios de Chaves.

A avaliadora conta que a prova do Enem costuma aderir bem à cultura popular e que o uso bem feito desse artifício pode ajudar a aumentar a nota da prova."É muito bom usar citações de livros, filmes, séries, personalidades. Mostra que o aluno tem repertório cultural, que sabe atrelar conhecimento do tema e cultura, é a cereja do bolo do texto. Só que ele precisa saber usar e relacionar com a ideia do texto, não é só citar por citar", explica.É necessário ficar atento também na hora de escolher o que será citado. A professora de Redação e de Literatura, Regina Luz, explica que o aluno precisa legitimar o que escreveu. Ou seja, escolher livros, autores, pensadores ou fatos que tenham uma notoriedade.

"Se for citar uma música, escolha a de alguém conhecido, e não algum cidadão comum. O mesmo funciona para a citação de fatos. Só cite se foi algo com repercussão midiática, que foi de conhecimento das pessoas. Não adianta citar algo que ocorreu no seu cotidiano, na sua rua, que ninguém tem conhecimento. Isso não pontua como área do conhecimento, que é avaliada na competência 2", alerta.

No Enem não há determinação de número máximo para a quantidade de citações. Regina indica que não sejam usadas muitas frases de autoridades, porque sempre que forem usadas, elas deverão vir acompanhadas do ponto de vista do aluno. Já em relação à apresentação de áreas do conhecimento, o ideal é que aparecem no mínimo três, para enriquecer o texto. 

Outra dica dada pela avaliadora Luana é que as citações sejam feitas preferencialmente no meio do texto, nunca no início. Isso porque, quando o estudante abre o texto com a ideia de alguma autoridade, quem corrige pode compreender que ele está defendendo a ideia de outra pessoa e, na redação do Enem, o candidato deve defender o seu próprio ponto de vista.  Séries como Orange is The New Black, que trata de temas como carceragem feminina, racismo e comunidade LGBTQIA+ pode ser citada (Foto: Divulgação) Como citar? Na hora de fazer a citação, o aluno pode escolher a direta ou a indireta. Ou seja, apresentar a ideia de um autor entre aspas ou parafraseando. A segunda opção é a ideal para quem não tem certeza de como é a frase certinha, aponta Regina. Em relação aos nomes dos autores, ela explica que, em caso de personalidades estrangeiras, um erro ortográfico simples não penaliza o estudante. Já em nomes brasileiros, sim.

Outra uma coisa importantíssima: toda e qualquer citação precisa ter sua fonte citada, e de forma correta. "O candidato perde ponto quando erra o autor ou inventa a frase. Tudo isso é conferido, não adianta tentar enganar o corretor. Nunca, em hipótese alguma, coloque palavras na boca de alguém. Se não tem certeza do autor, não use a citação", diz Luana.

Resumindo, se uma frase é da escritora Clarice Lispector e você atribui ao poeta Pablo Neruda, perde ponto. Tenha certeza do que está escrevendo.

Também é totalmente proibido que o aluno use os textos motivadores dispostos no caderno do Enem como citação  na prova. "Você pode ler, analisar, decodificar, mas para te dar um norte, nunca como citação. Aquela citação já está ali, não é sua, você não traz nada novo e ainda corre risco de plagiar e zerar pelo menos a competência. Só use se for número, estatística. Ainda assim, interpretando, não só jogando no texto", acrescenta Luana.

Por fim, mais uma dica da corretora: evite enfeitar sua redação. Não use palavras mirabolantes e totalmente fora do seu cotidiano. O texto deve ser leve, objetivo e direto, para facilitar a compreensão. Também é importante praticar e pedir a um professor que corrija as redações.

Este ano, o Enem será realizado em dois domingos: dia 3 de novembro (Linguagens e Códigos, Redação e Ciências Humanas) e no dia 10 de novembro (Ciências da Natureza e Matemática).

Fascículos no CORREIO trazem temas para revisão O jornal CORREIO publica até o dia 30 de outubro 18 fascículos especiais do 13º projeto Revisão Enem 2019. Com simulados que são disponibilizados no site do jornal (correio24horas.com.br/enem​​​​​​​), os conteúdos contam com uma série de questões objetivas, realizadas pelo SAS Educação, para os estudantes testarem seus conhecimentos nas disciplinas cobradas no Enem.

Além disso, sempre às quartas-feiras, o site Correio 24 horas conta com videoaulas, que podem ser acessadas na íntegra na página: www.correio24horas.com.br/revisao. Na versão impressa e no site do CORREIO, é possível acompanhar conteúdos focados em temas que auxiliam os alunos no processo de estudo, com artigos diversos, dicas de como estudar e macetes para fazer um bom exame. O projeto tem o oferecimento da Rede FTC.