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Ivan Dias Marques
Publicado em 4 de junho de 2019 às 05:00
- Atualizado há um ano
Não vou entrar no julgamento da acusação de estupro sofrida por Neymar. Entendo que não há elementos suficientes para isso, ainda mais que surgem novos capítulos todos os dias - às vezes várias vezes no dia - envolvendo o jogador e a mulher que o acusa. Aqui me cabe perguntar: cortar ou não cortar Neymar da Copa América por conta do caso?
Estupro não é um crime qualquer. Além de ser hediondo, fere a honra da vítima e também do acusado, mesmo que ele seja inocente no final das contas. Pra completar, por estratégia de seu staff (pai e advogados), o atacante do PSG divulgou sua conversa com a mulher e fotos íntimas dela, possivelmente cometendo um crime. Entendo que a situação de Neymar é bem delicada. Institucionalmente, a Seleção e a CBF podem ser acusadas de acobertar um crime grave. Não pegou bem internacionalmente a concentração da equipe ser visitada por viaturas da Polícia Civil por dois dias, atrás de Neymar. A Copa América será disputada no Brasil em dez dias e conhecemos a corneta que a torcida pode fazer, ainda mais vacinada pelo trauma dos 7x1 contra a Alemanha, em 2014. Não duvido que, caso a Seleção jogue mal, comecem a gritar “Ô, ô, ô, Neymar estuprador”. Torcedor, vocês sabem, não tem pena alguma. Além disso, o clima na Granja Comary já mudou. Desde que o caso veio à tona, no sábado (1º), as perguntas aos jogadores nas entrevistas coletivas têm sido todas sobre Neymar. Os companheiros garantem apoio, blindam o craque. Ontem, foi a vez de Tite ser entrevistado pelos jornalistas e o foco, mais uma vez, foi Neymar e sua situação fora dos gramados. Só se fala disso nas mesas-redondas e nas conversas por aí. Vale lembrar que o comportamento do atacante já era uma questão debatida, já que o jogador agrediu um torcedor do Rennes no final de abril. Por este fato, perdeu a braçadeira de capitão da Seleção. A situação vivida pelo jogador abalaria emocionalmente qualquer pessoa, ainda mais sendo inocente, como ele alega. O peso de uma acusação desse porte influencia nos contratos de imagem com patrocinadores particulares e também com o PSG. Por outro lado, afastar Neymar nesse momento passaria a sensação de que a CBF e a Seleção estariam condenando o atacante antes de um julgamento propriamente dito. Apoiá-lo e dar estrutura jurídica e emocional são deveres da entidade, já que o jogador está a serviço da equipe nacional. Neymar parece ver a Copa América como uma competição em que ele pode recuperar sua imagem esportiva, após o fracasso na Copa do Mundo da Rússia-2018, quando virou meme no planeta todo pelo "cai-cai", e na Liga dos Campeões, com o PSG. Ele se apresentou com antecedência para ter uma preparação maior para a competição continental. O jogador, claro, é fundamental nos planos de Tite, que também está em busca de uma afirmação, após a decepção na Rússia-2018. Ainda que seu contrato seja até o Mundial do Catar-2022, o treinador sabe que um insucesso na Copa América pode abreviar sua passagem pela Seleção. Com ou sem corte, o ambiente do elenco já não é o mesmo. Mais um problema para Tite resolver.
Ivan Dias Marques é subeditor de Esporte e escreve às terças-feiras.