Covid-19 no Brasil preocupa Conmebol e ameaça torneios sul-americanos

Diretor da entidade diz que jogos só retornam se todas as fronteiras estiverem abertas

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  • Gabriel Rodrigues

Publicado em 14 de maio de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia

Em um cenário normal sem a pandemia do novo coronavírus, hoje os olhares dos torcedores do Bahia estariam voltados para o próximo adversário do tricolor na Sul-Americana. O sorteio que definiria esse rival deveria ter sido realizado na quarta-feira (13), na sede da Conmebol, em Luque, no Paraguai, mas, por conta do surto da covid-19, essa realidade está cada vez mais distante.

A paralisação no futebol em todo mundo alterou a rotina e calendário do esporte no continente sul-americano. A essa altura, a Copa Libertadores já deveria ter encerrado a fase de grupos e apontado os oito melhores terceiros colocados que se classificariam à Sul-Americana, mas apenas duas das seis rodadas foram concluídas.

Por ter uma das melhores campanhas da primeira fase, o Bahia ficou no pote 1 do sorteio, o mesmo que recebe as equipes da Libertadores, e, além do Vasco, pode encarar adversários de Argentina, Chile, Colômbia, Paraguai, Peru e Uruguai. Em meio à pandemia, o CORREIO traçou um panorama de como está o futebol nos países vizinhos.

Até o momento, somente a Argentina definiu o futuro das suas competições. A federação de futebol do país anunciou o fim dos torneios sem acessos e rebaixamentos. Também não haverá rebaixamentos na competição que será disputada em 2021.

A classificação geral estabelecida até a pausa das atividades foi usada para definir os classificados à Copa Libertadores e Sul-Americana do próximo ano. Apesar do fim das ligas nacionais, Independiente, Lanús, Unión Santa Fe e Vélez Sarsfield estão entre os possíveis adversários do Bahia e aguardam a retomada da Sula.

No Chile, Colômbia, Peru, Paraguai, Uruguai, a situação do futebol é parecida com o Brasil. Os clubes e federações discutem com as autoridades protocolos para retornos às atividades e possíveis datas para a retomada do futebol, mas nada está garantido. Enquanto Chile e Paraguai mantêm expectativas da bola rolar em junho, a Colômbia projeta partidas apenas entre julho e agosto.

Fora do radar do tricolor na Sul-Americana, equipes de Equador, Bolívia, Venezuela também discutem protocolos e aguardam a liberação das autoridades sanitárias.

Brasil preocupa Apesar da expectativa do Bahia em seguir disputando o torneio continental, existe a chance do Esquadrão não entrar mais em campo pela competição em 2020.

De acordo com dados oficiais fornecidos por autoridades de cada país, sozinho o Brasil registra mais casos do coronavírus do que todos os outros nove países filiados à Conmebol juntos. Na atualização divulgada ontem, o total de contaminados pela covid-19 era 178.833 no Brasil, contra 160.516 em todos os outros países.

Os números de mortes registradas no território verde e amarelo  também assustam. Foram 12.484 contra 5.710 no restante do continente. Os dados podem ser explicados pelas medidas mais duras de isolamento adotadas pelos nossos vizinhos. O restante do continente, inclusive, tem feito críticas severas a forma como Brasil trata a covid-19 e enxergam no país um risco.

“Com o que se vive no Brasil, não pensamos, nem passa por nossa cabeça, abrir as fronteiras, já que é o lugar onde talvez haja maior expansão de covid-19, e isso é uma grande ameaça para o nosso país”, disse o presidente paraguaio, Mario Abdo Benítez, ao jornal La Nación.

A Argentina também mantém as suas fronteias fechadas e proibiu voos comerciais até setembro. “Eu falei com o [Sebastián] Piñera (presidente do Chile), com o Lacalle [Pou] (presidente do Uruguai), obviamente que é um risco muito grande. A não ser por dois países, Chile e Equador, o Brasil faz fronteira com toda a América do Sul”, afirmou o presidente da Argentina, Alberto Fernández.

Diretor da Conmebol, o brasileiro Frederico Nantes reconhece que não será possível autorizar o retorno das competições sem a abertura das fronteiras de todos os dez países filiados à entidade. “Não depende só de um país. A gente precisa que as 10 fronteiras estejam abertas. Se uma equipe não pode chegar em outro país para jogar, para a gente não adianta”, explicou Nantes.

Uma renova reunião do órgão da Conmebol vai acontecer na próxima semana para analisar os possíveis cenários para um retorno das competições.