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Carol Aquino
Publicado em 13 de junho de 2018 às 11:21
- Atualizado há 2 anos
No pequeno povoado de Matarandiba, no município de Vera Cruz, na llha de Itaparica, um mistério tem despertado a atenção dos moradores. No meio de uma área de mata fechada, uma cratera de mais de 40 metros de profundidade, 69 metros de largura e 29 metros de área da superfície apareceu do nada, deixando todos intrigados. >
O buraco fica em um terreno em que a indústria Dow Química tem o direito de explorar água de salmoura, com altíssima concentração de sal.>
A empresa identificou a alteração no dia 30 de maio e fez uma proteção com fita plástica e cartazes para tentar evitar que os moradores se aproximem. Um segurança também fica no local explicando à população do risco de queda. >
O problema é que a cratera, que fica a cerca de um quilômetro do povoado, tem se tornado um ponto de visitação dos moradores. Famílias se arriscam e vão até o buraco para ver o fenômeno, como se estivessem num passeio qualquer de fim de semana. >
O povoado é habitado em sua maioria por marisqueiros, pescadores e caçadores - a maioria, gente de pouca condição financeira e pouca instrução formal.>
Erosão O diretor de manutenção e operação da Dow Química na Bahia, Marcelo Braga, acredita inicialmente que o motivo da abertura do buraco seja um processo de erosão do solo. Há risco de a depressão aumentar, já que o processo de acomodação do solo pode não ter encerrado ainda.>
O medo dos representantes da indústria é que alguém se aproxime e sofra um acidente fatal, já que a terra pode voltar a ceder a qualquer momento. >
“A nossa maior preocupação é que essa erosão é exposta e a gente não tem como impedir que as pessoas cheguem próximo. Tem o risco de as pessoas caírem. Não temos, legalmente, como impedir o acesso das pessoas. Primeiro que não está numa área privada nossa, e segundo a gente não tem o poder de polícia", comentou Braga. >
"A gente pediu para o Inema para fazer o processo de isolamento físico, mas para isso é todo um processo”, concluiu o representante da Dow Química sobre a área que é de tutela do Instituto de Meio Ambiente e Recurso Hídricos (Inema).>
Os fiscais do órgão foram até o local para fazer uma vistoria, mas ainda não concluíram o relatório da análise. >
A Dow Química diz que o buraco fica numa área onde a exploração de salmoura já cessou e acredita que a cratera tenha surgido mesmo de um processo natural. O poço mais próximo do local fica a 200 metros, mas o mesmo está fechado há 32 anos. >
A empresa destaca que tem conversado com a comunidade para prestar os devidos esclarecimentos e comunicar sobre as providências e estudos que estão sendo feitos no local para descobrir a causa do fenômeno e prevenir possíveis acidentes. >
Investigação O geofísico Marcos Botelho, da Universidade Federal da Bahia (Ufba), foi chamado para estudar os movimentos geomecânicos que podem ter dado origem ao buraco.>
Além disso, foi contratado um serviço de imagens por satélite e colocação de sismógrafos que identificam qualquer alteração no relevo derivada de movimentos do solo. >
A empresa afirma ainda que, além de comunicar o fato ao Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) e à comunidade, também informou a abertura da cratera à Prefeitura de Vera Cruz, à Agência Nacional de Mineração e à Secretaria estadual da Casa Civil.>
O prefeito de Vera Cruz, Marcus Vinícius (PMDB), explicou que a prefeitura também acionou o Inema ao saber do aparecimento da cratera. A administração municipal solicitou ainda que a Dow fizesse o isolamento da área.>
“A Dow isolou até 20 metros depois da área, para evitar que curiosos vão até o local. Formamos uma equipe multidisciplinar, com geofísicos e engenheiros ambientais. Hoje (quarta-feira, 13), a engenheira ambiental do município está participando dessa diligência que está sendo feita, junto com o pessoal da Dow”, afirmou.>
Segundo o prefeito, a prefeitura aguarda o resultado de estudos – inclusive o estudo de rocha – para identificar se a cratera surgiu de forma natural ou se foi causada por alguma perfuração. “Para evitar especulação, a gente não antecipa nada, mas estamos tomando todas as providências de isolamento”, diz. Não há prazo determinado para a conclusão dos estudos.>
Procurada pelo CORREIO, a assessoria do Inema informou que uma equipe técnica de fiscalização de emergência do órgão esteve no povoado na última quinta-feira (7). Após o levantamento das informações, a equipe trabalha agora na elaboração de um relatório que deve identificar as causas do aparecimento do buraco. Também não há previsão de quando o relatório ficará pronto.>
A Secretaria da Casa Civil do Estado informou que a Defesa Civil, órgão ligado à secretaria, também acompanha a situação da cratera, junto aos órgãos ambientais. O CORREIO entrou em contato com a Agência Nacional de Mineração, que é a responsável pelo licenciamento na região, segundo a prefeitura, mas não houve resposta até a publicação da reportagem.>
*Colaborou Thais Borges>