'Cravaram uma faca em meu coração', diz pai de uma das mortas em ação policial no Cuzuru

Familiares e vizinhos dizem que policiais são autores dos disparos

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  • Da Redação

Publicado em 5 de junho de 2021 às 15:10

- Atualizado há um ano

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Sentado no sofá de casa, Jair Soares, 51 anos, não acreditava no que seus olhos viam através da tv. O noticiário dava conta de que duas mulheres morreram quando baleadas na Rua Contenda, no bairro do Curuzu, justamente onde a filha dele morava. Bastante nervoso e mesmo com taquicardia, ele correu para o local rezando para que sua intuição estivesse errada. Mas infelizmente não estava.

“Quando cheguei, disse que ela e a vinha estavam sentadas na porta de casa e foram baleadas pela polícia. Foi como se alguém tivesse cravado uma faca no meu coração”, desabafou ele, pai da manicure Viviane Soares, 32, uma das mulheres mortas durante ação da Polícia Militar na noite desta sexta-feira (04). Viviane foi  atingida no peito. 

A vizinha dela, a aposentada Maria Célia de Santana, 69, foi baleada na cabeça e também não resistiu. De acordo com os moradores, um homem estava num veículo roubado quando foi surpreendido por policiais militares. O motorista deu ré no carro e bateu num caminhão. Em seguida, ele abandonou o veículo e fugiu. Os moradores disseram ainda que os policiais atiraram em direção ao suspeito e os disparos atingiram Viviane e Maria Célia, que conversam na porta de suas casas. 

A família de Viviane acusa os policiais militares pelos crimes. “Fiquei sabendo que os PMs disseram que foi troca de tiros. Mentira! As testemunhas disseram que o homem do carro correu sem atirar, mas os policiais chegaram atirando para todos os lados e mataram duas inocentes. Uma polícia despreparada! É preciso uma requalificação urgente da tropa ou mais pessoas inocentes serão mortas desta forma”, declarou Jair.  Viviane estava na porta de casa com a vizinha quando ambas foram baleadas (Foto: Divulgação)  Viviane deixou um filho de 10 anos. “O que vai ser do meu neto agora? Vai crescer sem mãe porque sua vida foi tirada pelo despreparo de policiais. Eu realmente não esperava por isso. O irmão dela faleceu na quarta devido a um problema renal. Logo depois acontece isso. Duas perdas doem demais para o coração de um pai”, disse Jair.  Ele disse que uma das principais qualidades de Viviane era o fato de que ela gostava de trabalhar e também de ajudar as pessoas.  “Minha filha era do corre. Trabalhava fazendo unhas, sobrancelhas, fazia faxina e ainda tinha tempo para ajudar as outras pessoas, recolhendo e fazendo cestas básicas para doar aos mais carentes. O bairro está revoltado com isso”, declarou.  A família da aposentada Maria Célia também acusa a polícia de ser a autora dos disparos que mataram as duas mulheres. “Está todo mundo ainda em estado de choque. A família inteira não tem dúvida que as mortes foram fruto de policiais despreparados. Como pode? As duas estavam na porta de suas casas e foram mortas desse jeito?”, declarou o sobrinho da idosa, Cláudio Brasil, 51.  Maria Célia não tinha filho e morava com a irmã, que tem problemas mentais. Era ela quem cuidava da irmã. “Minha tinha era tudo para a irmã. Vivia exclusivamente para ela. E agora? Como vai ser?  A família ainda está arrasada, tentando digerir tudo isso que está acontecendo. Parece que a ficha não caiu ainda , que estamos num eterno pesadelo”, disse Cláudio. 

Tiros Provocada, a Polícia Militar enviou uma nota ao CORREIO. De acordo com a PM, equipes da Operação Apolo foram acionadas logo após receberem informações de que um Renault Kiwd que tinha sido roubado no bairro de Nazaré, na noite de sexta-feira (4), estaria no bairro do Curuzu.     Maria Célia foi socorrida junto com Viviane mas as duas não resistiram (Foto: Divulgação) “Quando chegaram ao local, os policiais identificaram o veículo e ao se aproximarem dele para efetuar a abordagem, foram recebidos a tiros por um homem armado. Na fuga, o indivíduo causou uma colisão traseira em um caminhão baú e saiu do veículo efetuando disparos contra a guarnição. Houve revide, mas o acusado conseguiu fugir a pé”, diz a nota. 

A versão da PM diz ainda que “ durante buscas na região, os policiais identificaram duas mulheres, transeuntes, alvejadas por disparos de arma de fogo”. “Logo em seguida, a equipe socorreu as vítimas imediatamente ao Hospital Geral Ernesto Simões Filho (HGESF), onde foram atendidas, mas terminaram não resistindo aos ferimentos”, relata a PM.   

A nota termina dizendo que a ocorrência foi registrada na Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). 

Investigação A Polícia Civil disse que o caso é investigado pela 3ª DH/BTS. “Conforme informações iniciais, o fato ocorreu durante o confronto entre um criminoso e policiais militares, que atendiam uma ocorrência sobre um carro roubado”, diz a PC.  

A nota da PC diz ainda que o veículo roubado foi periciado, cápsulas foram coletadas no local e outras perícias foram solicitadas.