Criança de seis anos morre baleada durante ação policial em Porto de Galinhas

Moradores da comunidade foram às ruas protestar, interditando a principal via de acesso à praia de Porto de Galinhas e ateando fogo nas pistas

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Publicado em 1 de abril de 2022 às 17:55

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. por Reprodução/Redes Sociais

Uma criança de seis anos morreu após ser baleada, nesta quarta-feira (30), em Porto de Galinhas, no município de Ipojuca, Litoral Sul de Pernambuco, após troca de tiros entre policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) com suspeitos de envolvimento no tráfico de drogas. A tragédia aconteceu em um local conhecido como Praça da Televisão, na comunidade de Salinas.

De acordo com Suzanete Nana, representante do Conselho Tutelar de Porto de Galinhas e Maracaípe, a troca de tiros ocorreu no final da tarde. "A polícia entrou (na comunidade) já atirando e acertou uma criança que correu. Isso aconteceu por volta das 17h30", afirmou.

A morte da menina gerou bastante revolta entre os moradores da comunidade, que foram às ruas protestar contra a atitude dos policiais, inclusive, interditando a principal via de acesso à praia de Porto de Galinhas, ateando fogo nas pistas. 

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Mais de 20 viaturas policiais chegaram para tentar controlar, além de efetivo do Corpo de Bombeiros. Em nota, a Polícia Militar informou que "houve confronto entre uma equipe do BOPE e indivíduos suspeitos de envolvimento no tráfico de drogas na comunidade de Salinas, em Porto de Galinhas. Lamentavelmente, uma criança foi atingida, tendo sido socorrida pelo próprio BOPE e populares".

Segundo informações apuradas pela reportagem da TV Jornal, a menina levou um tiro no peito e foi levada imediatamente para a UPA de Ipojuca, mas não resistiu.

Investigação

Ainda na nota, a Polícia Militar disse que "a ocorrência segue em andamento e ainda não é possível afirmar em que circunstâncias se deu o fato e nem de onde partiu o tiro que feriu a criança. A PM continua no local e intensifica sua participação na área com coordenação do 18º BPM. Somente quando a situação estiver controlada, será possível prestar maiores informações sobre a ocorrência".

No último dia 19 de março, moradores de Salinas também realizaram um protesto contra a ação policial na comunidade. Na ocasião, um ônibus chegou a ser incendiado. Eles relataram que policiais do Bope teriam assassinado duas pessoas dias antes. Morte da menina Heloísa Gabrielle, de apenas 6 anos, gerou protestos em Porto de Galinhas (Imagem: Reprodução/Whatsapp) Enterro

O corpo de Heloysa foi enterrado no Cemitério de Nossa Senhora do Ó, nesta quinta-feira, sob comoção. Um cortejo, com pessoas a pé, de buggy, de carro e de ônibus, seguiu até o local.

Perto das 20h desta quinta-feira, quando a equipe da TV Jornal deixava Porto de Galinhas, foi orientada pela polícia, assim como outros profissionais da imprensa, a esperar mais um tempo até seguir viagem, pois homens armados estariam abordando os veículos nas proximidades do acesso à Nossa Senhora do Ó. No local, um ônibus foi incendiado.

Comércio fechado e protestos

O comércio e vários serviços de Porto de Galinhas amanheceram fechados. Placas pedindo "justiça por Heloysa" estampavam as vitrines das lojas. Protestos também foram realizados, com populares fechando vias e ateando fogo em plantas na estrada. O clima era de medo.

Comerciantes e moradores afirmaram que o fechamento teria sido determinado por traficantes.  "Mandaram ninguém abrir por três dias, até sábado. Disseram que quem descumprir vai ter problemas. Está todo mundo com medo e revoltado pelo que fizeram com a criança", disse um comerciante.

A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Porto de Galinhas também precisou interromper o funcionamento porque recebeu ameaças.

Por nota, a Polícia Militar de Pernambuco disse desconhecer a ordem. "As equipes permanecem maciçamente realizando o policiamento ostensivo na região."

Nas redes sociais, pessoas relataram a sensação de medo nas ruas. "Pagamos caro para chegar aqui e tudo está fechado por que os policiais atiraram em uma criança! Cadê o prefeito dessa cidade para averiguar? Cadê a polícia para proteger os visitantes e moradores?", questionou uma turista.

A prefeita de Ipojuca, Célia Sales, reuniu o Comitê de Crise, ontem, para tratar do caso. Ficou decidido que o poder municipal irá oficializar o governo do Estado "cobrando providências para que a ordem pública e a segurança dos cidadãos e dos turistas, desestabilizada pelo fato, seja restabelecida", informou a assessoria da prefeitura.

Em relação aos protestos e fechamentos de vias de acesso às praias de Porto de Galinhas e de Serrambi, a prefeitura disse que "a Secretaria de Defesa Social do município está realizando o monitoramento dos pontos de tensão e oferece, junto com a Secretaria de Turismo do Ipojuca, um canal de informações para o turista através do aplicativo 153 digital".

"A Prefeitura de Ipojuca lamenta a morte da menina Heloysa, aguarda resposta da investigação e espera que os dias de paz voltem a reinar no maior destino turístico do estado", completou o texto.