Crise no tabuleiro: redução de mistura do biodiesel pode aliviar escassez de dendê

CORREIO lançou campanha para ajudar as baianas de acarajé

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  • Da Redação

Publicado em 16 de agosto de 2020 às 15:12

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: arquivo CORREIO

Uma medida tomada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) na última quinta-feira (13), após série de reportagens do CORREIO sobre as dificuldades das baianas de acarajé, poderá beneficiar indiretamente uma das iguarias mais celebradas do Brasil. A redução temporária de 12% para 10% na mistura de biodiesel   no diesel poderá contribuir para aliviar a escassez de azeite que ameaça o futuro das vendedoras de acarajé. O óleo de palma é uma das matérias primas da mistura do biodiesel. Dele também sai o azeite de dendê.

A pandemia do novo coronavírus aliviou a situação por alguns meses, mas a reabertura da economia pôs a escassez novamente em evidência, conforme o CORREIO havia sinalizado em reportagem na semana  passada. Com os estoques de azeite de dendê praticamente zerados, o preço do vasilhame de 16 litros dobrou, passando de R$ 65 para uma faixa entre R$ 125 e R$ 130 de abril para agosto.

Em relação à produção de combustível, a retomada da atividade econômica também agravou o problema. Ao anunciar a redução da mistura do biodiesel no diesel, a ANP tinha informado que a medida foi necessária para dar continuidade ao abastecimento nacional, porque a demanda por diesel B continuou alta no início da pandemia e deverá aumentar com a reabertura dos negócios. Em nota, a BR Distribuidora, considerou a decisão acertada, mas cobrou medidas mais urgentes, ainda para agosto, para manter o equilíbrio no fornecimento.

As vendedoras de acarajé representam o elo mais frágil de uma batalha de mercado. Consumidoras finais de azeite de dendê e de óleo de palma, elas não podem repassar o encarecimento das matérias-primas para os preços por causa do desaquecimento da economia. No auge da pandemia, a maioria parou de trabalhar e só agora está reabrindo os negócios, com preocupação.

“A nossa situação está desesperadora. Agora que as baianas estão retornando, não conseguem comprar o azeite. E, quando conseguem, não podem repassar essa alta [do preço da matéria-prima] para os clientes“, diz Rita Santos, presidente da Associação Nacional das Baianas de Acarajé, Beiju, Mingau e Similares (Abam).  O CORREIO  lançou uma campanha de doação para aliviar a situação das vendedoras mais afetadas em parceria com a Abam.

Falta de investimentos Por trás da escassez de dendê, está a queda na produtividade dos extrativistas. Tradicionalmente, o azeite de dendê vem de oito municípios da costa sul da Bahia, em esquema de produção familiar, com pequenos produtores que não recebem assistência tecnológica de órgãos como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Desde 2017, a produção caiu 37,8%, segundo o Sindicato dos Produtores Rurais de Nazaré (BA). Somente no primeiro semestre deste ano, a produção foi 7,8% inferior ao do mesmo período do ano passado, conforme o CORREIO publicou na edição deste final de semana, inclusive, mostrando que o estado do Pará impulsiona a produção. 

Segundo Rita Santos, a redução da mistura de biodiesel alivia temporariamente a situação das vendedoras de acarajé. Para ela, o problema das vendedoras de acarajé só será resolvido com investimento maciço do governo nos pequenos produtores.

“A medida da ANP é uma ajuda importante, mas pequena porque a gente enfrenta a concorrência com a Petrobras, que compra tudo, e porque o verdadeiro problema está nos produtores de dendê da Bahia. Eles usam equipamentos muito defasados, principalmente para armazenar o óleo. Os tonéis, que hoje estão enferrujados, deveriam ser em aço inoxidável. Eles também precisam investir em plantio de novos pés”, explica Rita.

Como ajudar? Lançada há duas semanas, a campanha #colecomasbaianasdeacarajé do CORREIO segue firme e pretende ajudar as profissionais não só de Salvador, mas outras regiões do estado. Segundo a Abam, das mais de 2 mil baianas que vendem seus acarajés em Salvador, no momento cerca de 80% estão paradas ou fora de seus pontos se virando como podem. As que trabalham nas praias (no total 750) são as mais prejudicadas. Essas perderam quase que 100% dos clientes e não sabem quando vão poder retornar. 

Além das reportagens especiais no site e no impresso, também produzimos ações audiovisuais nas nossas redes sociais. Essa será apenas a primeira fase da campanha. Em breve, divulgaremos os próximos passos. Por enquanto, cole com as baianas e ajude depositando qualquer quantia na seguinte conta bancária (as doações serão revertidas em cestas básicas).

Confira a conta para fazer suas doações 

ABAM - Associação Nacional das Baianas de Acarajé, Mingau, Beiju  e Similares. Caixa Econômica Federal Código Operação: 003 Ag: 4802  Conta corrente: 000056-1 CNPJ: 02561067000120