Curte um textão? Veja como redes sociais podem te ajudar na redação do Enem

Professores afirmam que a prática pode desenvolver a capacidade argumentativa e o repertório sociocultural dos jovens

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Publicado em 1 de setembro de 2021 às 05:45

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Shutterstock

Seja para homenagear uma pessoa querida, falar sobre uma experiência pessoal ou refletir as questões da sociedade, se tem uma coisa que muita gente ama é fazer um "textão" nas redes sociais. O hábito é tão comum que virou motivo de piada antes da postagem: "se liga que lá vem textão", escreve quem vai postar o relato, como alerta aos desavisados.  Agora, o que poucos sabem é que os "textões", além de uma forma de expressão, podem também se tornar um bom exercício na preparação para a prova de Redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), afirmam professores da disciplina.

De acordo com eles, a prática de subir textão nas redes é interessante por treinar aspectos importantes para se ter sucesso no exame. Mário Jorge, professor de Língua Portuguesa e redação do Instituto Federal Baiano (IF Baiano), explica que o textão é mais uma oportunidade para o jovem exercitar sua expressão e apresentar uma argumentação. “Ele pode materializar as suas ideias e organizar o que ele pensa de maneira escrita. É fundamental que você utilize todas as oportunidades para escrever e apresentar seu pensamento. Debate, publicação em jornal de escola, textão nas redes, tudo é oportunidade para treinar", afirma o professor. 

Tanto Mário como outros professores afirmam que o textão não é, no entanto, um modo principal de preparação para o exame e sim um recurso paralelo. Para Solange Santana, professora de Língua Portuguesa e Literatura do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFBA), guardadas as devidas proporções, dá para ver essa atividade nas redes como um treino. 

"Eu até paro para ver o textão dos meus alunos porque eles defendem uma tese, fazem uso de estratégias argumentativas e trazem exemplos concretos, dados. Então, eu gosto da ideia, é interessante para o desenvolvimento deles se colocarem nessas situações de produção textual. Vejo como um exercício bem importante no processo", afirma a professora. Neldo Menezes, professor de Redação dos cursos de pré-vestibular Análise e Único, acrescenta que, mesmo que sejam muitas vezes criticados, os textões podem ajudar na preparação de alguém que precisa pôr em prática a argumentação. 

"Por mais que o termo textão assuma um caráter menor e que alguns enxergam como chato, existe um processo de elaboração porque todo mundo que escreve quer ser lido e compreendido. E o processo de organização de ideias para comunicar é válido. O que muda é o suporte, onde está sendo colocado, mas é um exercício sim", comenta. Ana Júlia nunca relacionou o "textão" com o desenvolvimento de sua capacidade argumentativa (Foto: Reprodução/Acervo Pessoal) Mais pesquisa para escrever  Outro aspecto que os educadores apontam é que para fazer um textão, os estudantes pesquisam, o que é fundamental para o repertório e é competência cobrada na prova, lembra Léo Mendes, professor de Redação do Colégio Salesiano. "Realmente, só o fato de estar pensando, escrevendo e pesquisando, já é muito bom. É proveitoso porque é uma coisa que chamamos de pré-texto porque você precisa ter subsídios para escrever. Então, de fato, sob essa perspectiva, a prática do textão é bacana", diz.

Muitos estudantes até têm o textão como prática em postagens ou mensagens privadas trocadas com amigos, mas nunca enxergaram nele uma forma de se preparar para o Enem. Gabriela da Silva, 17 anos, por exemplo, nem imaginava o benefício pedagógico daquele desabafo online: “Não passava pela minha cabeça que os textões que eu fazia no Instagram ou até mesmo no Twitter me ajudariam a desenvolver minha escrita. Mas, esse ano, percebi que essa prática, além de me ajudar a praticar, me deixa atualizada dos temas que estão em alta. É como se o tempo que passo nas redes sociais que antes me prejudicava, agora estivesse sendo usado ao meu favor”, afirma a garota, que quer cursar Direito. 

Ana Júlia Coelho, 16, que ainda está decidindo qual faculdade fazer, vai pelo mesmo caminho. "Eu nunca relacionei muito textão com o Enem. Para mim, fazer isso em post ou discussões com meus amigos era mais uma preparação para a vida do que para o exame, mas vejo que é uma consequência. No Enem, a gente precisa expor o nosso ponto de vista de forma coerente. Na Internet, você precisa fazer justamente isso para não ser mal interpretado. Então, acredito que tem essa ligação que permite que a gente aproveite coisas do textão para o que vamos produzir no exame”, afirma. 

A ideia de desenvolver textos argumentativos nas redes sociais também anima Kamila Salloum, 17, que ficou ainda mais feliz em saber que professores reconhecem o valor da prática. “Eu gosto muito de ver como a didática dos professores tem mudado em relação a redação. Meu professor, por exemplo, ajuda muito nesse aspecto. Ele insiste em mostrar que a redação é prática. Você não precisa ter mil dados estatísticos e argumentos maravilhosos. Você precisa aprender a manipular o conhecimento que você já tem, escrevendo vários textos”, ressalta. Kamila deve usar o "textão" para melhorar sua organização de ideia em forma escrita (Foto: Reprodução/Acervo Pessoal) Palavras de valor Até quem não é lá muito fã de escrever textões reconhece que o hábito de participar de discussões é proveitoso. Paulo Ribeiro, 17, que quer cursar física, defende que qualquer tipo de produção textual auxilia a desenvolver o raciocínio no momento da escrita. “Principalmente em uma redação, já que você tem que argumentar e defender uma ideia. Textões podem ser um bom exercício”, acredita. 

Quem já tinha a prática, como Kamila, agora se sente ainda mais livre para postar seus textões por uma causa nobre e sabendo que, além de ampliar o repertório, pode melhorar a capacidade de produção textual. “Eu fico animada! Acho que naturalmente consigo melhorar minhas formas de expressão e, consequentemente, minha técnica de escrita quando escrevo mensagens mais longas para outras pessoas. É inclusive motivador saber que isso passa a ser uma forma de treinar para o Enem”.

Gabriela também não titubeia na resposta: “Com certeza, sinto que estou levando os estudos para além daquele padrão de todos os dias e que isso aumenta o repertório que posso utilizar no dia da prova”. Mário da Mata é professor do IF Baiano (Foto: Reprodução/Acervo Pessoal) O que não pode faltar em uma boa redação Um bom repertório, tanto de vocabulário quanto de argumentos, é o que o professor Mário da Mata explica que não pode faltar em uma redação que quer receber nota alta no Enem. Segundo ele, essa é uma das principais ferramentas para o estudante não ficar na mesmice da produção textual. 

“As redações estão sendo formuladas de forma muito engessada. A dica que eu acho que é interessante para se diferenciar dos outros é o repertório argumentativo, a capacidade de relacionar suas ideias a fatos históricos, música, arte e movimentos literários, pode ser um grande trunfo", indica.

Agora, para ter a capacidade de adotar as indicações de Mário, o aluno precisa saber o que deve fazer no texto e como chegar ao ponto em que sua ideia faça sentido. Como faz isso? Léo Mendes diz que é com planejamento. 

"Em primeiro lugar, é fundamental planejar o texto no rascunho e deixar bem claro seu ponto de vista. A prova da redação é um texto argumentativo em que o estudante precisa se posicionar e, se não faz, acaba quebrando as pernas aí, quando cai em armadilhas como mostrar causa e consequência [na redação]", alerta o professor. 

Já Solange Santana, ao comentar o que não pode faltar na prova de redação, destaca a necessidade de prezar pela coesão. "O que não pode faltar é o repertório sociocultural que extrapole os textos motivadores e o estabelecimento de uma coesão inter e intra-parágrafo porque percebo que os estudantes conseguem estabelecer isso dentro dos parágrafos, mas, por vezes, acabam falhando quando é de um para ou outro", salienta

Canal reúne todos os simulados e vídeo aulas

O Revisão Enem é um projeto multiplataforma - impresso, digital e redes sociais - do CORREIO em parceria com o SAS, plataforma de educação, com o objetivo de auxiliar os estudantes no preparo para as provas.

O projeto traz conteúdos especiais com reportagens, artigos, dicas para a redação e de livros, filmes e séries que têm relação com o exame; além de estratégias de resolução de questões. Há também um canal especial que reúne todos os simulados e vídeo aulas para os alunos.

O Enem exige uma rotina intensa de estudos. Por isso, o CORREIO disponibiliza uma série de simulados interativos, com questões objetivas para os estudantes testarem os seus conhecimentos. Os alunos podem acompanhar semanalmente a resolução das questões, conferir os gabaritos e analisar seu desempenho, além de revisitar as questões no dia e na hora que quiserem.

Nas redes sociais (@correio24horas), o jornal traz conteúdos nos grupos de leitores do Whatsapp e vídeos no Instagram/IGTV com dicas sobre como fazer a redação dentro das competências avaliadas no Enem; e também o Raio X do ENEM, que tira dúvidas de cada disciplina.

Conteúdos da 5ª semana já estão disponíveis:

- Simulado

- Vídeo aula 

- Vídeo direto ao ponto

*Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro