‘Dá pra fazer o que a gente acredita com estratégia’, diz Monique Evelle

Ativista social lança livro sobre empreendedorismo feminino neste sábado (9), em Salvador

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  • Da Redação

Publicado em 4 de novembro de 2019 às 13:50

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Diva Nassar/ Divulgação

Nascida e criada em Salvador, no Nordeste de Amaralina, Monique Evelle é idealizadora de diferentes negócios sociais da comunicação, educação e empreendedorismo sustentável, como o Desabafo Social, criado por ela aos 16 anos. Reconhecida pela Revista Forbes como uma das personalidades com menos de 30 anos que estão fazendo a diferença - hoje Monique está com 25 -, ela se considera uma ativista social, mas não nega que quer sua parte em dinheiro. "Preto e dinheiro não são coisas rivais [...] Não preciso escolher, posso fazer os dois", diz. No sábado (9), às 16h, ela lança o livro Empreendedorismo Feminino: Olhar Estratégico Sem Romantismo no Espaço Cultural da Barroquinha, durante a Virada Sustentável. O evento gratuito contará com apresentação musical das artistas Dani Vieira, Duquesa e Juli, e o livro estará à venda por R$ 34,90.

Você acredita que os negros realmente têm projetos mais focados no social que os brancos? Eu acho que a gente primeiro cria projetos e organizações muito ligadas ao social, à filantropia, porque é a realidade que a gente conhece e quer transformar. Só que preto e dinheiro não são coisas rivais. No livro, eu parto desse lugar. Tento não falar muito de mim, e mais dos aprendizados que tive ao longo desses anos. Eu comecei com o Desabafo Social aos 16, hoje estou com 25. Conto o que passei quando criei o projeto, vendo empreendedorismo como filantropia, e depois de como direcionei isso melhor e passei a pensar em outros projetos para ganhar visibilidade e dinheiro. Não preciso escolher, posso fazer os dois. Se a pessoa não consegue pagar as contas com seu negócio, não é negócio. Você vai ter que trabalhar em outro lugar para manter isso, porque sem dinheiro não roda. Então, é um hobby, que você faz nas horas livres. Parece forte, mas algo que eu tenho dito é que nesse livro eu cometo sincericídio [risos]. 

Como assim sincericídio?  Dou dicas do que passei para dar esse choque de realidade. O mecanismo do empreendedorismo diz que temos de ser inovador e original, e não é assim que funciona. Temos muita gente empreendendo, de todas as maneiras. A jornada de cada um é muito individual. A gente vê essas histórias inspiradoras e fica pensando em quem vai ser o próximo Obama, ou o próximo Paulo Rogério, a próxima Monique Evelle. Todos temos trajetórias individuais particulares, apesar  de sermos pretos. Também não surgimos do nada, tem uma construção aí.

Que tipo de problemas você destaca na postura do empreendedor que quer investir no social? No livro falo da síndrome do impostor, e também da síndrome da oportunidade estagnada, que foi um termo que criei para tratar um pouco dos problemas decorrentes do que chamo de “ciclo vicioso da reclamação”. Se você quer empreender, não dá pra passar tanto tempo reclamando, é preciso pensar rápido. É muito legal criar projetos com a palavra afro, com a palavra black, mas o retorno de investimento não é a mesma coisa. Um empreendimento desse tipo pode ter até visibilidade, mas não necessariamente rentabilidade. Isso é o que percebi ao longo da minha trajetória, mas também na pesquisa que fiz para o livro. O nome do projeto Redes Vivas mesmo é algo que foca naquilo que a gente acredita, mas que também paga conta. A gente não paga boleto com amor, mas dá pra fazer muito do que a gente acredita se a gente pensar mais estrategicamente. (Foto: Reprodução) É um manual? Eu não digo que é um manual, é uma lista de aprendizado, com dicas. são aprendizados meus, do que eu vivi e do que eu observei. Joguei um formulário na internet, e muita gente respondeu. Muita coisa foi parar ali. Não é um livro de grandes pesquisas, com muitos dados. O que conto são histórias que estão no dia a dia dos empreendedores. Por exemplo, hoje todo mundo diz que o futuro da comunicação e da produção de conteúdo é a curadoria, mas ninguém quer pagar por isso. Todo mundo chega pedindo à gente uma dica, uma consultoria, mas não leva em conta que isso exige tempo, dedicação, estudo. Então, falo disso tudo, e apresento dicas, ferramentas. Monique não brotou assim, não existe isso. É uma espécie de diário de campo meu também. 

Você fala sobre empreendedorismo feminino, é esse público que você quer atingir? É voltado para o público em geral, mas eu falar com as mulheres. Eu nunca sei quem está do outro lado, me lendo. Eu sei quem é Monique, e eu posso falar desse lugar. E para mim, está tudo bem falar a partir desse entendimento. Escrevi o livro há um ano, e não quis alterar ele depois, apesar de ter sentido vontade algumas vezes. Quis deixar registrado o que eu estava pensando na época. As mudanças são eu hoje, e podem virar outros livros depois.

Qual a expectativa de lançar o livro em Salvador, durante a Virada Sustentável? Vai ser muito significativo, sou bairrista. A oportunidade da Virada, um evento gratuito, onde as pessoas poderão chegar a mim por ele, é muito válida.Fazer parte de algo é mais significativo para mim que fazer um lançamento dentro de uma livraria, em um shopping. Ainda vai ter uma apresentação de jovens empreendedoras da música, muito dedicadas e profissionalizadas, que estão investindo em algo que elas amam fazer desde muito cedo. Vai ser esse momento de divisão.