Davati enviou oferta ao Ministério da Saúde um dia após 'jantar da propina'

De acordo com o vendedor, o valor irregular seria de US$ 1 para cada dose. Roberto Dias foi exonerado na quarta do cargo

Publicado em 1 de julho de 2021 às 19:53

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação/Waldemir Barreto/Agência Senado

A empresa Davati Medical Supply fez uma oferta de vacinas ao Ministério da Saúde um dia após um suposto pedido de propina para aquisição das doses. A oferta foi enviada pela empresa no dia 26 de fevereiro, conforme documento entregue à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, ao qual o Broadcast Político teve acesso. O ofício é assinado pelo CEO da companhia, Herman Cárdenas, e endereçado ao Ministério da Saúde, com cópia ao ex-diretor de Logística em Saúde do ministério, Roberto Ferreira Dias.

O policial militar Luiz Paulo Dominguetti Pereira, que prestou depoimento hoje na CPI, se apresentou como um representante informal da Davati. Ele afirmou aos senadores que, no dia 25 de fevereiro, durante jantar em Brasília, recebeu um pedido de propina de Roberto Dias para que o contrato avançasse. De acordo com o vendedor, o valor irregular seria de US$ 1 para cada dose. Roberto Dias foi exonerado nesta quarta (30) do cargo. Na CPI, aliados do presidente Jair Bolsonaro negaram que o governo tenha cometido irregularidades.

A Full Corporate Offer (oferta) enviada pela empresa apresentou uma proposta de 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneva ao preço de US$ 3,50 por unidade, totalizando uma negociação de US$ 1,4 bilhão. A empresa se comprometeu a fazer uma intermediação e adquirir as doses de um titular de alocação da AstraZeneca. A fabricante, porém, argumentou que não tem intermediários e que sempre negociou diretamente com a Fiocruz no Brasil. Na proposta enviada ao ministério, a empresa norte-americana cita o nome de Dominguetti como "Via: Mr. Luiz Paulo Dominguetti Pereira", sinalizando a representação.

Durante a sessão, o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), afirmou que o Ministério da Saúde eliminou a possibilidade de aceitar a oferta. Ele sustentou que a AstraZeneca não negociava com intermediadores e que Roberto Dias não tinha poder no ministério para avançar nos contratos.

"Decorrente dessas solicitações de documentos que atestassem a idoneidade da oferta para a aquisição de vacinas, a proposta foi considerada não procedente pelo Ministério da Saúde, uma vez que a própria AstraZeneca informou que apenas realiza a negociação de ofertas diretamente com os governos", disse o governista.

Conforme o Broadcast Político publicou na manhã desta quinta, 1º, a Davati Medical Supply confirmou que Dominguetti intermediou a relação da empresa com o governo federal na posição de "vendedor autônomo". A empresa negou, no entanto, ter conhecimento sobre a solicitação de propina relatada pelo policial militar.