Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Mario Bitencourt
Publicado em 31 de agosto de 2019 às 06:15
- Atualizado há 2 anos
A Bahia já registrou este ano 778 encalhes de tartarugas, e apenas três delas conseguiram sobreviver e foram devolvidas ao mar. A informação é do Projeto Tamar e da ong A-mar, que atuam na proteção a esses animais.>
A maioria dos registros, 683, ocorreram no litoral norte da Bahia, entre a Praia do Forte, em Salvador, até a praia de Mangue Seco (na fronteira com Sergipe). A área é de monitoramento do Projeto Tamar.>
O restante dos casos – incluindo as três tartarugas que foram salvas – foi registrado no litoral sul do estado, nas cidades de Maraú, Itacaré, Ilhéus e Uruçuca (em Serra Grande), onde o monitoramento é feito pela A-mar.>
Os números deste ano já são maiores que os registros do ano passado, quando houve 684 encalhes nas duas áreas de monitoramento (550 casos no litoral norte e 134 no litoral sul).>
A diferença de números entre um litoral e outro se dá porque as tartarugas estão mais presentes no litoral norte, onde o Projeto Tamar monitora, durante a temporada da desova, cerca de 8 mil ninhos.>
Coordenador do Tamar, Frederico Tognin informou que não há uma explicação real sobre o motivo de estar havendo um aumento dos encalhes dos animais, os quais são provocados, em sua grande maioria, pelas redes de pesca.“Pode ser uma questão biológica – aumento da população das tartarugas – ou uma ação humana, neste caso um aumento da quantidade de barcos. De qualquer forma, é algo que não temos como provar”, disse Tognin.Temporada da desova Nas últimas semanas, os encalhes têm sido vistos com mais intensidade na Bahia porque a época de desova das tartarugas está quase em seu início – vai de setembro a abril –, o que faz os animais se aproximarem mais do litoral.>
O litoral norte da Bahia e todo o litoral do estado de Sergipe é onde se concentram as desovas das tartarugas no litoral do Brasil. A cada temporada, no país, são cerca de 2 milhões de filhotes devolvidos ao mar – cerca de 600 mil na Bahia.>
Para Tognin, o que preocupa mais com relação às mortes das tartarugas é o fato de que a maioria das que estão encalhando são adultas. “É muito provável que estejam se aproximando do litoral para fazer as desovas”, comentou.>
As tartarugas marinhas são conhecidas por sua fidelidade às áreas de nascimento, chamada de “filopatria”. Quando adultas, a maioria delas retorna às mesmas regiões onde nasceram para desovar.>
Segundo o Tamar, ainda não se sabe exatamente como conseguem reconhecer os locais de origem, mas estudos apontam que elas são capazes de reconhecer o campo magnético da terra, assim como fazem espécies migratórias de aves ou mesmo grandes mamíferos, como as baleias.>
Das sete espécies de tartarugas marinhas que existem no mundo, cinco ocorrem no Brasil: cabeçuda, de oliva, de pente, verde e de couro, sendo que a maior parte das que realizam a desova são as tartarugas de oliva.>
Cada uma das tartarugas consegue colocar até 120 ovos, e a cada mil filhotes que conseguem chegar ao mar apenas três conseguem chegar à fase adulta, com 20 anos de idade.>
Redes de arrasto No sul da Bahia, os encalhes estão ocorrendo mais por conta das redes de arrasto que são colocadas por pescadores na área de pré-mar, uma faixa intermediária situada entre a maré alta e a baixa. A pesca de arrasto nessa área é proibida.>
É que nesses locais onde há mais camarões, um dos principais alimentos das tartarugas, as quais, quando ficam presas nas redes de pesca acabam morrendo porque elas têm respiração pulmonar.>
Segundo Welington Laudano, veterinário da A-mar, quando ocorre de as tartarugas ficarem presas, muitas vezes elas estão em apneia (estado de desmaio) e os pescadores acham que estão mortas.>
“Assim, alguns usam objetos perfuradores no casco ou no plastão [barriga da tartaruga], depois eles veem que ela está viva e as jogam ao mar. Por isso vemos muitas que chegam à costa com grandes ferimentos”, afirmou.>
Um dos casos de encalhe que mais chamou a atenção ocorreu no dia 24 de agosto, em Maraú, sul do estado. Uma tartaruga foi encontrada praticamente sem a cabeça. Segundo apurou a A-mar, a tartaruga estava com o pescoço deformado por conta de um “anel de borracha”, semelhante aos que se usa para apoio de peças mecânicas.>
“Tudo indica que ela, quando era pequena, colocou a cabeça nesse anel, e cresceu com ele no pescoço a vida toda. Com o tempo, ele foi apertando e deformou o pescoço, até chegar à vida adulta”, contou Laudano. O animal tinha 20 anos.>
O Ibama (órgão ambiental federal) foi procurado pelo CORREIO para comentar sobre a fiscalização dos barcos que realizam pesca com rede de arrasto em áreas de pré-mar, mas não houve resposta.>
A Marinha do Brasil, por sua vez, informou que na área de jurisdição do Comando do 2º Distrito Naval, que inclui o litoral da Bahia, realiza inspeções navais com foco na fiscalização das embarcações e sua documentação. "Quando solicitado apoio pelo Ibama ou durante as operações interagências realizadas na área de jurisdição, são fiscalizados os crimes ambientais", afirmou a Marinha, em nota. >