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De 778 tartarugas encalhadas este ano na Bahia, só três sobreviveram

Estado já tem mais encalhe de tartarugas este ano do que em 2018

  • Foto do(a) author(a) Mario Bitencourt
  • Mario Bitencourt

Publicado em 31 de agosto de 2019 às 06:15

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Divulgação Projeto A-mar

A Bahia já registrou este ano 778 encalhes de tartarugas, e apenas três delas conseguiram sobreviver e foram devolvidas ao mar. A informação é do Projeto Tamar e da ong A-mar, que atuam na proteção a esses animais.

A maioria dos registros, 683, ocorreram no litoral norte da Bahia, entre a Praia do Forte, em Salvador, até a praia de Mangue Seco (na fronteira com Sergipe). A área é de monitoramento do Projeto Tamar.

O restante dos casos – incluindo as três tartarugas que foram salvas – foi registrado no litoral sul do estado, nas cidades de Maraú, Itacaré, Ilhéus e Uruçuca (em Serra Grande), onde o monitoramento é feito pela A-mar.

Os números deste ano já são maiores que os registros do ano passado, quando houve 684 encalhes nas duas áreas de monitoramento (550 casos no litoral norte e 134 no litoral sul).

A diferença de números entre um litoral e outro se dá porque as tartarugas estão mais presentes no litoral norte, onde o Projeto Tamar monitora, durante a temporada da desova, cerca de 8 mil ninhos.

Coordenador do Tamar, Frederico Tognin informou que não há uma explicação real sobre o motivo de estar havendo um aumento dos encalhes dos animais, os quais são provocados, em sua grande maioria, pelas redes de pesca.“Pode ser uma questão biológica – aumento da população das tartarugas – ou uma ação humana, neste caso um aumento da quantidade de barcos. De qualquer forma, é algo que não temos como provar”, disse Tognin.Temporada da desova Nas últimas semanas, os encalhes têm sido vistos com mais intensidade na Bahia porque a época de desova das tartarugas está quase em seu início – vai de setembro a abril –, o que faz os animais se aproximarem mais do litoral.

O litoral norte da Bahia e todo o litoral do estado de Sergipe é onde se concentram as desovas das tartarugas no litoral do Brasil. A cada temporada, no país, são cerca de 2 milhões de filhotes devolvidos ao mar – cerca de 600 mil na Bahia.

Para Tognin, o que preocupa mais com relação às mortes das tartarugas é o fato de que a maioria das que estão encalhando são adultas. “É muito provável que estejam se aproximando do litoral para fazer as desovas”, comentou.

As tartarugas marinhas são conhecidas por sua fidelidade às áreas de nascimento, chamada de “filopatria”. Quando adultas, a maioria delas retorna às mesmas regiões onde nasceram para desovar.

Segundo o Tamar, ainda não se sabe exatamente como conseguem reconhecer os locais de origem, mas estudos apontam que elas são capazes de reconhecer o campo magnético da terra, assim como fazem espécies migratórias de aves ou mesmo grandes mamíferos, como as baleias.

Das sete espécies de tartarugas marinhas que existem no mundo, cinco ocorrem no Brasil: cabeçuda, de oliva, de pente, verde e de couro, sendo que a maior parte das que realizam a desova são as tartarugas de oliva.

Cada uma das tartarugas consegue colocar até 120 ovos, e a cada mil filhotes que conseguem chegar ao mar apenas três conseguem chegar à fase adulta, com 20 anos de idade.

Redes de arrasto No sul da Bahia, os encalhes estão ocorrendo mais por conta das redes de arrasto que são colocadas por pescadores na área de pré-mar, uma faixa intermediária situada entre a maré alta e a baixa. A pesca de arrasto nessa área é proibida.

É que nesses locais onde há mais camarões, um dos principais alimentos das tartarugas, as quais, quando ficam presas nas redes de pesca acabam morrendo porque elas têm respiração pulmonar.

Segundo Welington Laudano, veterinário da A-mar, quando ocorre de as tartarugas ficarem presas, muitas vezes elas estão em apneia (estado de desmaio) e os pescadores acham que estão mortas.

“Assim, alguns usam objetos perfuradores no casco ou no plastão [barriga da tartaruga], depois eles veem que ela está viva e as jogam ao mar. Por isso vemos muitas que chegam à costa com grandes ferimentos”, afirmou.

Um dos casos de encalhe que mais chamou a atenção ocorreu no dia 24 de agosto, em Maraú, sul do estado. Uma tartaruga foi encontrada praticamente sem a cabeça. Segundo apurou a A-mar, a tartaruga estava com o pescoço deformado por conta de um “anel de borracha”, semelhante aos que se usa para apoio de peças mecânicas.

“Tudo indica que ela, quando era pequena, colocou a cabeça nesse anel, e cresceu com ele no pescoço a vida toda. Com o tempo, ele foi apertando e deformou o pescoço, até chegar à vida adulta”, contou Laudano. O animal tinha 20 anos.

O Ibama (órgão ambiental federal) foi procurado pelo CORREIO para comentar sobre a fiscalização dos barcos que realizam pesca com rede de arrasto em áreas de pré-mar, mas não houve resposta.

A Marinha do Brasil, por sua vez, informou que na área de jurisdição do Comando do 2º Distrito Naval, que inclui o litoral da Bahia,  realiza inspeções navais com foco na fiscalização das embarcações e sua documentação. "Quando solicitado apoio pelo Ibama ou durante as operações interagências realizadas na área de jurisdição, são fiscalizados os crimes ambientais", afirmou a Marinha, em nota.