De camiseta a cupom: nem morta, a mulher preta tem direito de descansar

A morte de Kathlen, a campanha da Farm e outros destaques da semana

  • Foto do(a) author(a) Andreia Santana
  • Andreia Santana

Publicado em 12 de junho de 2021 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Kathlen Romeu. 24, estudante de design de interiores, grávida de 14 semanas, foi morta, na terça, 08, em Lins do Vasconcelos, comunidade do Rio de Janeiro onde morava, ao ser atingida por balas de um tiroteio entre policiais militares e traficantes, segundo afirmou a PM carioca. A jovem caminhava na rua com a avó quando os tiros começaram. Foi a sétima grávida a morrer de bala perdida no Rio de 2017 para cá, informou a plataforma Fogo Cruzado. Também engrossou a estatística das vidas pretas perdidas para a violência. 

O Atlas da Violência 2020, feito com base em dados de 2019 – o de 2021, baseado nas mortes de 2020, ainda não foi divulgado -, mostra que os assassinatos de pessoas negras cresceram 11,5% entre 2008 e 2018, enquanto os homicídios de brancos, amarelos e indígenas caíram 12,9%.

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública, feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), que também elabora o Atlas junto com o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), aponta ainda que 74,4% das vítimas de homicídios no Brasil em 2019 eram negras.  Kathlen esperava o primeiro filho e cursava design de interiores (Foto: Reprodução/Redes Sociais) Recortando por gênero, mulheres pretas morrem menos que homens pretos – elas representam 0,8% das vidas negras ceifadas pela violência - mas ainda assim, são mais vítimas de homicídio do que as não negras. Ainda o Anuário: entre 2008 e 2018, enquanto o número de não negras assassinadas no país caiu quase 12%, o de negras subiu pouco mais de 12%. 

E as pretas, objetificadas e desumanizadas em vida, não descansam nem depois de mortas. No caso de Kathlen, a violência brutal que lhe tirou a vida não permitiu que ela conquistasse o respeito de um ‘descanse em paz’.

Em ação desastrosa de marketing da Farm, Kathlen virou nome de cupom. A jovem revendia a marca de roupas, que criou promoção, um dia depois da sua morte, onde oferecia cupom com o código de revendedora de Kathlen. Quem comprasse com o código, teria a comissão resultante da venda revertida para doação da Farm aos familiares da garota. 

A campanha saiu do ar depois que a Farm foi duramente criticada nas redes sociais, inclusive famosos como a chef Paola Carosella, e acusada de tentar lucrar com a tragédia. Teve gente que argumentou que a campanha seria menos desrespeitosa se a Farm apenas fizesse doação aos familiares de Kathlen, enquanto outros argumentaram que pessoas pretas não precisam de caridade, mas de respeito e de não serem mortas por uma estrutura social racista.

O assunto acabou entre os mais comentados das redes sociais na semana. Diversos grupos que lutam pelo fim do racismo estrutural que está por trás das mortes de negros e negras, aproveitaram para dar o recado para marcas brancas que transformam as tragédias derivadas do racismo em camiseta. Em lojas online é possível ver estampas com o rosto de George Floyd ou Marielle Araújo à venda. Mas, a pergunta é: quanto custa uma vida negra no Brasil?

Outros destaques do noticiário

Vale terá de pagar R$ 1 milhão por empregado morto Desabamento de barragem matou 270 pessoas, maioria trabalhava na Vale (Foto: Corpo de Bombeiros de Minas Gerais) A Justiça do Trabalho condenou, na segunda-feira, 07, a mineradora Vale a pagar R$ 1 milhão por danos morais para as famílias de cada empregado que morreu no rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), em 25 de janeiro de 2019. A tragédia deixou 270 mortos, sendo mais de 90% deles trabalhadores. Os valores deverão ser destinados aos espólios das vítimas e seus herdeiros. 

A decisão foi tomada no âmbito de uma ação civil pública movida em janeiro pelo sindicato Metabase Brumadinho. A sentença é inédita em ações judiciais envolvendo o caso da barragem. Até então, a Justiça já havia, em diferentes processos, estipulado valores para reparar danos morais causados aos familiares dos mortos. 

Em 49 páginas do despacho, a juíza Viviane Célia Correa, do Tribunal Regional do Trabalho (TRT-MG), reconheceu que os próprios mortos também sofreram danos morais que precisam ser indenizados.

Segundo o TRT-MG, a decisão contempla 131 funcionários contratados diretamente pela Vale. O valor decidido é inferior ao pedido no processo. O sindicato Metabase Brumadinho pleiteava R$ 3 milhões para cada trabalhador morto.

Raro eclipse anular é registrado pela Nasa Eclipse permite ver aros de fogo em redor da lua (Foto: Bill Ingalls/Nasa) Um eclipse anular raro foi registrado pela Agência Espacial Americana (Nasa) na quinta-feira, 10. No fenômeno, visto em regiões do Canadá, Groenlância e Rússia, a sombra da lua não cobre totalmente o sol, deixando à vista aros de fogo em redor do satélite.

Boas histórias para os pequenos Pesquisa foi feita com crianças em UTIs (Foto: Ana Flávia Coutinho/Viva e Deixe Viver) Contar histórias para crianças traz benefícios físicos e emocionais. É o que prova estudo inédito realizado pelo Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino, Universidade Federal do ABC e Associação Viva e Deixe Viver, com pacientes de 2 a 7 anos, internados em UTIs. Ao final de leituras diárias de 30 minutos, crianças relataram sentir menos dor, passaram a encarar o tratamento de forma mais positiva e ficaram mais confiantes. Os resultados foram publicados no periódico da Academia Nacional de Ciências dos EUA.

Trabalho Infantil em crescimento Em quatro anos, 8,4 milhões de crianças começaram a trabalhar (Foto: Marcello Casal/Agência Brasil) O número de crianças vítimas de trabalho infantil aumentou pela primeira vez em 20 anos, atingindo 160 milhões no mundo, anunciaram, quinta-feira, 10, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Nos últimos quatro anos, houve aumento de 8,4 milhões de crianças trabalhando. O relatório Trabalho Infantil: estimativas globais de 2020, tendências e caminhos destaca a necessidade de medidas para combater a prática, que pode também ser agravada pela pandemia.

Na sexta-feira, 11, em entrevista ao programa A Voz do Brasil, o secretário Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), Mauricio Cunha, divulgou que o Brasil tinha 1,8 milhão de crianças em situação exploratória de trabalho infantil até 2019, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Desse total, 65% são meninos negros abaixo de 14 anos.

Teste de vacina brasileira ButanVac já tem sete mil doses prontas (Foto: Governo de SP/Divulgação) A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou, na quarta, 09, os testes em humanos para o desenvolvimento da ButanVac, projeto conduzido pelo Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo. A ButanVac é uma vacina com tecnologia nacional e que, caso obtenha registro, poderá ser fabricada integralmente no Brasil. A agência autorizou condicionada à apresentação de dados complementares sobre o andamento das pesquisas. Segundo o governo de SP, 7 mil doses dessa vacina já foram produzidas.

Na campanha pela máscara Camila, o pai Antonio Pitanga e outros artistas postarem fotos com máscara (Fotos: Reprodução/Instagram) "A ciência tá aí pra provar que existem casos de reinfecção e que a vacina é muito eficaz, mas só 11% da população está vacinada, o vírus ainda está circulando e mais de 2000 pessoas ainda estão morrendo por dia. Já deu pra entender o recado, né, gente? USE MÁSCARA SEMPRE!", Camila PitangaA atriz e outros famosos reforçaram nas redes sociais, na sexta-feira, 11, a campanha pelo uso de máscaras de proteção na pandemia. Essa semana, o presidente Jair Bolsonaro disse que iria pedir parecer sobre suspensão da obrigatoriedade da máscara para pessoas vacinadas, o que não é recomendado pelos especialistas em saúde, pois o vírus ainda está circulando e a vacinação avança lentamente no país. Após ser criticado, o presidente recuou e disse, na sexta, 11, que a decisão sobre a obrigatoriedade das máscaras é de prefeitos e governadores.