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Jorge Gauthier
Publicado em 18 de fevereiro de 2019 às 05:31
- Atualizado há 2 anos
Quando a advogada Renata Lima, 24 anos, nasceu a banda Olodum estava nas paradas de sucesso com os versos da canção Requebra. Sem nem saber do que se tratava, cantarolava, ainda pequena os versos da canção que foi a grande apoteose do Carnaval do ano do seu nascimento, 1994. De lá pra cá muito mudou na vida de Renata - que obviamente descobriu o Olodum e vive ouvindo as histórias da sua família de que ela adorava a canção - mas também no estilo de música que fez sucesso nos carnavais soteropolitanos. >
No ano do nascimento de Renata foi criado o Troféu Bahia Folia/ Pesquisa Bahia Folia, premiação promovida pela Rede Bahia de Televisão por meio de votação pela internet e pesquisa popular nas ruas, para escolher a 'música do Carnaval'. Nos primeiros anos predominaram entre os vencedores bandas que representavam o samba reggae e o axé music - Olodum, Timbalada e Araketu. Nos últimos dez anos da pesquisa, o pagode levou sete vezes a premiação que também contou com os sucessos de um ano só a exemplo da banda Braga Boys, que fez de Bomba o hino da folia de 2001. >
"Era era jovem e ia atrás dos blocos do Olodum e Timbalada. Hoje, as coisas mudaram. O que faz sucesso mesmo são essas músicas mais animadas do pagodão. Com eu amo Carnaval tive que entrar na aula da FitDance para aprender a dançar as coreografias para não pagar mico na avenida. Antes era mortalha, agora é short batedeira. Tem que se atualizar", relembra com saudade e alegria a aposentada Ivete Santana, 65 anos, que é natural de Lagarto, em Sergipe, mas curte o Carnaval em Salvador desde os anos 1970.>
Para Osmar Marrom Martins, colunista do CORREIO - que já viveu 'muitos carnavais' - , a mudança no tipo de canção que ganha como música do Carnaval é reflexo do crescimento do pagode enquanto gênero musical. "O pagode cresceu bastante nos últimos anos. Apesar de fora da Bahia as pessoas acharem que tudo é axé, o pagode se mostrou grande e veio crescendo nos últimos anos. O axé sempre foi visto como uma música voltada para a classe média. Já o pagodão dialoga com o povão e por isso faz tanto sucesso", sentecia Marrom que aposta nesse ano em um novo pagode de Léo Santana como grande hit da folia. "O povo gosta de botar a rabeta no chão". >
Professor do Departamento de História da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e estudioso sobre Carnaval, Milton Moura, ressalta que no Carnaval tem lugar para todo mundo apesar das pressões da indústria fonográfica para que sejam feitos sucessos instantâneos.>
"Mesmo não gostando de um estilo durante o Carnaval acaba que as pessoas ouvem outras canções que não ouviriam normalmente. Todo ano a chamada 'música do Carnaval' surge durante a festa. Nem sempre é a música que está tocando na rádio que vai ganhar. Esse ano, por exemplo, acho que ganhará força a música de Daniela e Caetano (Proibído o Carnaval). O gosto das pessoas se complexou ao longo dos tempos e isso cria nichos, mas no Carnaval tem espaço para todo mundo", avalia Moura >
Moura analisa ainda que os blocos afro - que emplacavam hits na mídia nos anos 1990 com maior facilidade - perderam força no mercado fonográfico, mas continuam atingindo seus públicos.>
"Não existe repertório velho. Roberto Carlos canta as mesmas músicas há mais de 20 anos e continua encontrando receptividade das pessoas. Assim fazem os blocos afro e outros artistas que não lançam músicas novas todos os anos. Quando Margareth Menezes canta Faraó não tem quem fique parado na avenida. O Olodum faz ensaios lotados mesmo sem está tocando todos os dias nas rádios. Tem muita música que vira música do ano por pressão de gravadora, mas é um sucesso que acaba", pontua o pesquisador. >
Um dos responsáveis pelo pagode desbancar o axé no topo das músicas preferidas da folia é o cantor Márcio Victor, da banda Psirico. Campeão de vitórias no troféu com cinco vitórias - uma delas no ano passado junto com a banda Àttoxxá - , Márcio promete inovar ainda mais para apimentar a mistura do Brasil com o Egito que é o Carnaval de Salvador. >
"Eu fico muito feliz em ter músicas que entraram no história do Carnaval da Bahia. Com essas premiações a minha música chegou onde eu queria: no povo! Agora, eu só quero me divertir. Se for vencedor em qualquer Carnaval vou festejar como se fosse a primeira vez, e se meus colegas da música forem campeões, eu também vou ficar feliz pelo movimento da Bahia. O meu papel agora é inovar e experimentar minhas músicas e minhas levadas para meu público e conquistar as novas gerações que se renova a cada dia. Ter a 'música do Carnaval' foi, e é, muito importante para minha carreira e para esta grande festa”, prometeu o Márcio que esse ano tem como apostas Rei Leão, Subindo e Descendo além de Empina e Joga.>
Aperte o play e relembre as vencedoras do Bahia Folia de 1994 até 2018: 1994 - Banda Olodum - "Requebra">
1995 - Banda Araketu - "Araketu é Bom Demais">
1996- Timbalada - "Margarida Perfumada">
1997 - Daniela Mercury - "Rapunzel">
1998 - Timbalada -"Latinha">
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1999- Bom Balanço - "Juliana">
2000 - Chiclete com Banana - "Cabelo Raspadinho">
2001 - Braga Boys- "Uma Bomba">
2002 - Ivete Sangalo- "Festa">
2003- Chiclete com Banana - "Voa Voa">
2004- Daniela Mercury- "Maimbê Dandá">
2005 - Rapazolla - "Coração">
2006- Vixe Mainha - "Café com Pão">
2007 - Asa de Águia - "Quebra Aê">
2008- Psirico- "Mulher Brasileira (Toda Boa)">
2009 - Ivete Sangalo - "Cadê Dalila">
2010 - Parangolé- "Rebolation">
2011 - LevaNóiz - "Liga da Justiça">
2012 - Banda Eva - "Circulou">
2013 - Filhos de Jorge - "Ziriguidum">
2014 - Psirico - "Lepo Lepo">
2015 - Psirico - "Tem Xenhenhem">
2016 - Banda Vingadora - "Paredão Metralhadora">
2017 - Léo Santana -"Santinha">
2018 - Psirico e Àttoxxá -"Elas Gostam">