Deixa a menina jogar em paz

Por Flavia Azevedo

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Publicado em 28 de junho de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Xingamentos, perseguições, assédios e ameaças: Lorena Sá (graduanda em medicina veterinária), Nádia Santos (administradora) e Bianca Cardeal (veterinária) são mulheres gamers, num ambiente predominantemente masculino e, adivinhe? Vivem, todos os dias, a misoginia explícita dos caras, também no mundo virtual.  Lorena Sá (fotos: divulgação) Quanta - O que vocês jogam? Lorena - Jogo mais em Pc e sou fãgirl dos jogos da Blizzard, desde world of Warcraft, Diablo, Heartstone e Heroes of the storm. Bianca - Jogo no ps4, nintendo switch e pc. A maior parte jogos de ação, aventura, RPG e puzzle. Nádia - Comecei a jogar no PC em plataforma de MMo. (Word Warcraft). Jogo de mundo aberto. Quando vi a revolução do Just Dance, me apaixonei pelo Xbox, mas meu esposo me fez mudar para o PS4 e agora estou jogando aventura e ação. Por último, meu atual Overwatch, um jogo de tiro primeira pessoa.

Q - Como é a relação entre gêneros no ambiente dos jogos? Bianca Cardeal B - Quando eu participava de campeonatos, muitos ficavam com comentários do tipo "oh, deve tá aqui com o irmão/namorado e tá no campeonato pra matar o tempo". Quando perdiam, "vaca gorda, não deve ter ninguém na vida e passa o dia jogando"

Q- E nos encontros presenciais esse comportamento se repete ou apenas sob a proteção do anonimato?

B - Isso foi presencial! Eles falam entre eles, nem olham pra você.

Q - Então, a misoginia é uma realidade nesse ambiente? 

B - Totalmente! Nunca rolou comigo, mas já li postagens do tipo "esse jogo não eh pra menina, vai jogar jogo da Disney". Aí, a Disney comprou Star Wars e a Marvel... hahahahahahhah

L - Hoje, somos mais ou menos 50% do público em jogos online e plataformas digitais. Mas, ainda existe muito machismo e preconceito. O ego masculino não permite que ele perca um jogo para uma mulher.

B - Exatamente! Você não pode jogar melhor que eles, mas se jogar pior "perdemos porque tem menina no time".

L - E ai começa a disseminar o ódio.

Q - A que ponto chega esse ódio? L - Já fui chamada de p***, vadia, macaca.

B - A maioria das pessoas nem sonha com quantas barreiras enfrentamos.

Q- A quem vocês recorrem nos casos de agressão? Que resposta têm?

B - Violência do jogo em si é bem sabido, já a violência verbal é ignorada pelos gamers. Se você reclama é fresca/antissocial.

L - Hoje, ainda é terra de ninguém. Já denunciei inúmeras vezes e NUNCA obtive um feedback legal. Já fui hackeada, ameaçada e nunca houve uma represália. Já perdi tudo em minha conta por socialpatas in game.

Q - Que idade têm esses caras? L - São sempre mais velhos. Homens abusadores e reclusos.

B - Ahahahahaha stalkers everywhere! Vários querem meu nome verdadeiro pra fuçar minhas redes sociais, meu telefone, ENDEREÇO. Os guris só te xingam e vão embora.

L - Uma vez um louco me hackeou, apagou todos os meus personagens e me disse que iria fazer todo dia isso, se não mandasse " nudes" para ele. Nádia Santos N - Existe limites sim. A Blizzard por exemplo tem um sistema de report formidável, com vários exemplos para realizar sua reclamação.

Q - No caso de um dia terem filhas, o que achariam se elas começassem a jogar? Que cuidados teriam?  L - Incentivaria ela a jogar, principalmente comigo. Tentaria ensinar a ter maturidade emocional para lidar com algumas situações e saber impor limites em determinadas circunstâncias, tentando sempre motivar ela a jogar diante das adversidades. Nada de passar nenhuma informação pessoal.

B - Nada de telefone e endereço, se te encherem o saco, printa a tela, reclama com gm, mete nas redes sociais, manda tnc e bota pra f*** em cima deles nos jogos! 

N - Incentivar seria óbvio por ser gamer, mais iria dizer pra não ligar. Muitos desses garotos podem ser coleguinhas de classe ou até parceiros de trabalho. O mundo virtual muda muito rápido, assim como o dos games. Vou falar com ela pra apesar de tudo se divertir. Afinal é o objetivo de qualquer jogo.... diversão.