Delegacia de Alagoinhas registra cinco fugas só neste ano: 'do jeito que tá, nunca vi'

Servidor relata acesso fácil de celulares; sindicato pedirá interdição após novas fugas

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  • Tailane Muniz

Publicado em 2 de agosto de 2018 às 03:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Sindpoc/Divulgação

Oito fugas foram registradas, nos últimos nove meses, no Complexo de Delegacias de Alagoinhas, que pertence à 2ª Coordenadoria Regional de Polícia do Interior (Coorpin), no Nordeste do estado. No primeiro semestre de 2018, ocorreram cinco casos, sendo o último na madrugada dessa terça-feira (31), quando dois presos provisórios cavaram buracos e conseguiram escapar.

Entre novembro de 2017 e esta quarta-feira (1), ocorreram oito fugas, com 46 fugitivos e destes, 22 foram recapturados, segundo informou nesta quinta-feira (2) a Polícia Civil. 

Segundo o Sindicato dos Policiais Civis e Servidores da Segurança Pública do Estado (Sindpoc), o complexo tem capacidade para 38 presos, mas abrigava 60 detentos. 

Ainda de acordo com o Sindpoc, os dois custodiados que fugiram na terça foram identificados como Iranilson Vidal dos Santos, 30 anos, preso por porte ilegal de arma, e Thiago Souza Almeida, de idade não revelada, detido por tráfico de drogas e receptação. Ambos cavaram buracos e conseguiram fugir pela lateral da cela em que estavam. A situação acabou motivando um princípio de rebelião (ver mais abaixo).

Até o fechamento desta reportagem, os dois não haviam sido capturados. A falta dos fugitivos foi dada após uma vistoria diária de cela e contagem dos presos - que ficam provisoriamente em Alagoinhas, até serem transferidos para a penitenciária de Esplanada, município vizinho. Policiais relatam condições precárias de celas (Foto: Divulgação/Sindpoc) Presidente do sindicato, Eustácio Lopes disse que as condições do complexo acabam contribuindo para a alta incidência de fugas. "Infelizmente, é um lugar que precisa ser interditado para reformas. Não há condições de abrigar tantos presos em um lugar cuja estrutura é precária e sem qualquer salubridade".

Lopes relatou ao CORREIO que o sindicato vai oficializar, junto ao Ministério Público da Bahia (MP-BA), o pedido de interdição total do local."Entramos com o pedido junto ao MP em Alagoinhas, mas não obtivemos retornos, por isso, a previsão é de que amanhã (hoje, dia 2), a gente esteja em Salvador para fazer isso na sede (do MP-BA)", adiantou.Procurado, o MP-BA informou que não teve o pedido oficializado por representantes do sindicato dos policiais e que, portanto, não pode comentar o caso.

A Secretaria da Administração Penitenciária e Ressocialização (Seap) também foi procurada pela reportagem, mas informou, por meio de sua assessoria, que não atende às questões referentes às fugas de presos provisórios de complexos de delegacias e que apenas a Secretaria da Segurança Pública (SSP) pode falar acerca do assunto.

A Seap, que é responsável pela recepção e transferência dos presos das delegaciais para o sistema prisional, informou que 30 detentos foram transferidos, na manhã dessa quarta-feira (1º), para o Complexo Penitenciário de Mata Escura, em Salvador. 

O CORREIO procurou a SSP para comentar as declarações, mas não obteve retorno. Não há informação sobre quantos presos foragidos já foram recapturados.

A reportagem conversou com um policial civil que trabalha no local há anos. Segundo o servidor, que preferiu não se identificar, os presos têm fácil acesso a celulares e outros materiais proibidos."Nós não temos como dar conta, somos poucos, o espaço é pequeno e não somos suficientes para qualquer número maior do que o suportado, que é de 38. O plantão tem três investigadores para atender à população, dar apoio à Polícia Militar e fazer o próprio plantão, quando registramos os crimes. Do jeito que tá, eu realmente nunca vi", comentou.Interdição O CORREIO teve acesso a um documento do mês passado - atribuído à 1ª Vara Criminal da Comarca de Alagoinhas, do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) -, que informa a decisão da Justiça pela interdição parcial imediata do Complexo de Delegacias da cidade.

O texto, assinado pelo juiz Álvaro Marques de Freitas Filho, diz que há "perigo de dano, substanciado pelo risco de mortes e ofensas às integridades físicas e psicológicas dos detentos, policiais e terceiros, diante da situação da carceragem local, com superpopulação carcerária em condições indignas".

De acordo com representantes do Sindpoc, o complexo de Alagoinhas dispõe de nove celas para homens e duas para mulheres. "Na época da decisão do TJ, estávamos superlotados, com 98 presos. A SSP não obedeceu a decisão, mas removeu gradativamente alguns, ficamos com 60, o que ainda era um grande número. Agora, com 30, estamos com a situação mais equilibrada, mas o desejo é de que seja interditado totalmente para uma reforma porque não há mais condições", informou o presidente do Sindpoc.

Eustácio comentou que o problema se agrava com a "escassez de servidores". "O problema começa com a permanencia dessas pessoas aqui, que deveriam estar no presídio de Esplanada, que aguarda há dois anos por reformas e também não tem condições de abrigá-los. Depois disso, tem o fato de que o complexo [de Alagoinhas] acaba recebendo presos de 23 cidades, poucas delas têm carceragem. Além disso, faltam investigadores, faltam escrivães e delegados. Os policiais que deveriam estar investigando autoria e materialidade estão tomando conta de presos. É o que fazemos por aqui, enquanto a população fica alheia", relatou. De acordo com o Sindpoc, presos se rebelaram após nova fuga (Foto: Divulgação/Sindpoc) Rebelião Embora a assessoria da Polícia Civil não tenha confirmado, o Sindpoc chamou de rebelião uma ação de presos que terminou com celas quebradas dentro do complexo, na manhã dessa terça-feira (31), após a fuga de Thiago e Iranilson. Conforme informaram policiais do local, a administração resolveu suspender as visitas de familiares dos presos após constatar a fuga, o que revoltou os detentos."Eles terminaram de quebrar as celas que já estavam bastante danificadas e aí a situação só foi controlada algumas horas depois, à tarde, quando eles retornaram para seus lugares", disse Eustácio, acrescentando que a intenção era promover a fuga em massa. Em nota, a Polícia Civil informou que não houve rebelião na Delegacia Territorial (DT) de Alagoinhas, nesta terça-feira (31). "Ocorreu um princípio de motim, que foi rapidamente controlado e ninguém ficou ferido. Entre novembro de 2017 e esta quarta-feira (1), ocorreram oito fugas, com 46 fugitivos e destes, 22 foram recapturados. Além da recaptura, um plano de ação para impedir mais fugas está em curso", disse.

Veja a nota na íntegra:

A Polícia Civil da Bahia (PCBA) informa que não houve rebelião na Delegacia Territorial (DT) de Alagoinhas, nesta terça-feira (31). Ocorreu um princípio de motim, que foi rapidamente controlado e ninguém ficou ferido. Entre novembro de 2017 e esta quarta-feira (1), ocorreram oito fugas, com 46 fugitivos e destes, 22 foram recapturados. 

Além da recaptura, um plano de ação para impedir mais fugas está em curso. O plano consiste no aumento do efetivo de policiais responsáveis pela custódia de detentos, ações preventivas integradas com a Polícia Militar (PM), além da intensificação de revistas periódicas nas celas. Dando seguimento as providências, a apuração das fugas também está em andamento.

A PCBA também esclarece que o prédio da DT / Alagoinhas tem 24 anos de inaugurado. A unidade faz parte da lista de prioridades de reformas da Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA) e os reparos inicias já foram providenciados, sendo que a sua reforma já foi aprovada pelo Governo do Estado. 

No tocante a interdição solicitada pela 7a Promotoria de Alagoinhas, a Justiça determinou o limite de 38 presos, conforme a lotação máxima daquela unidade, além da retirada de custodiados de outras comarcas. 

A PCBA está realizando as tratativas com a Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização do estado da Bahia (Seap), para a continuidade das transferências de presos. Os 30 custodiados transferidos nesta quarta-feira (1), correspondem a metade da atual população carcerária da unidade.