Depois da festa: ambulantes permanecem na Arena para garantir preparação da festa

Festival Virada Salvador é uma oportunidade para ganhar dinheiro neste final de ano

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  • Da Redação

Publicado em 29 de dezembro de 2019 às 19:25

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

Vindas de Feira de Santana, no Centro-Norte da Bahia, Raquel Alves e Mariane Rocha chegaram na Arena Daniela Mercury, na Boca do Rio, às 11h deste domingo (29) para ver o show de Luan Santana no Festival Virada Salvador 2020, que só começa logo mais à noite.

Enquanto elas vão ficar cerca de 24 horas acordadas para ver o ídolo de perto, os ambulantes que trabalham no local também quase não dormem  - mas é para se prepararem para mais um dia de festa.

Depois que todos foliões saem da arena, quem trabalha na festa continua no local para conseguir lucrar no evento. Com isso, os vendedores acabam passando o dia na arena dormindo onde dá, enfrentando filas para tomar banho e tentando se esconder do sol debaixo dos sombreiros.

Mas, as horas de trabalho e espera na arena valem a pena para Igor Souza, 28 anos. Logo no primeiro dia, ele se empolgou com as vendas e tem uma boa expectativa para os outros dias do Festival Virada Salvador.

“Nem parei para contar quanto eu ganhei. Foi bom, graças a Deus, vendi 90% do que eu comprei. Pelo que vendi ontem (sábado) aqui, nos outros dias do festival deve sair mais. Se continuar assim, saio da festa com um sorriso de orelha a orelha”, afirmou. Vendedor Igor Souza vendeu 90% das mercadorias compradas para o primeiro dia da festa (Marina Silva/CORREIO) Dona da creperia D’zana, Rosiany Tolentino, 50, trabalha em eventos e acredita que o Festival Virada só perde para o Carnaval, em vendas. No primeiro dia do festival, foram cerca de 300 crepes vendidos, o que resultou em R$ 3 mil em vendas.

“Ontem (sábado), já deu a expectativa de que vai dar bom. Com o que eu ganhei, deu pra manter a mercadoria. Mas, vamos lucrar mesmo do dia 31 para o dia 1º”, disse.

Com dificuldade de conseguir um trabalho de carteira assinada, o casal Luan dos Santos, 26, e Micaele Alcântara, 23, decidiu vender bebidas no festival. Os vendedores ainda não conseguem mensurar os lucros, mas afirmam que as vendas foram boas.“Por enquanto, tá valendo vender aqui, mas vamos ver no final. Pra quem não tem trabalho fixo, vale vir aqui”, disse.Os dois criaram uma técnica para conseguir vender mais cerveja. Eles enchem um isopor pequeno com as latinhas e vão para o meio da multidão na arena. Micaele explicou que quem está vendo o show não sai para comprar bebida e os vendedores têm que ir atrás dos clientes.

“A gente fica com a caixa grande aqui e tem duas pequenas que a gente usa para circular no meio do povo. O horário bom pra ir para o meio da galera é quando entra um cantor”, contou. Casal descansa na arena para se preparar para as vendas da noite (Marina Silva/CORREIO) Rotina Para conseguir trabalhar vendendo bebidas no festival, os ambulantes passam por uma rotina puxada. São quase cinco dias dormindo mal, carregando latinhas e enfrentando filas para tomar banho na arena.

Depois de trabalhar noite adentro, eles têm que comprar mais produtos para reabastecer o isopor e se preparar para mais um dia de festa. Apesar de os portões da festa só abrirem às 16h, os ambulantes vão logo cedo se abastecer.

Além de trabalhar como vigilante, Jaime Araújo, 50, vende bebidas em festas de Salvador. Ele conta que pesquisa os melhores preços entre os mercados da região da Boca do Rio para conseguir maximizar o lucro.“Quando amanheceu o dia, eu tentei tirar um sono e depois fui correr atrás da mercadoria. Fui no mercado com um colega e a gente pagou um menino para trazer os produtos”, disse.Para deixar o local e ir comprar as mercadorias ou ir para casa tomar banho, os vendedores se revezam para tomar conta das barracas. Quem está sozinho pede para um colega olhar o isopor. Mesmo com o revezamento, muitos trabalhadores permanecem horas a fio na Arena Daniela Mercury, onde ocorre o evento.

O casal de vendedores Micaele e Luan, por exemplo, ficaram na arena enquanto outras duas pessoas foram em casa buscar comida e descansar. Os quatro se reúnem para trabalhar no horário dos shows todos os dias. Amigas decidiram vender comida para os ambulantes que acampam na arena (Marina Silva/CORREIO) Oportunidades Com o plantão dos ambulantes, outras oportunidades de trabalho surgem na arena antes dos shows começarem. Durante o dia, pessoas andam pelo local vendendo marmitas. As amigas Bárbara Salles e Suelly Ramos decidiram unir os esforços para conseguir uma grana para o final de ano.

As duas saíram do bairro da Liberdade para vender geladinho e marmitas para os ambulantes da arena. Este domingo foi um dia de teste e a dupla vai voltar nesta segunda (30) com mais comida.“As 22 quentinhas já foram todas. Estamos sem trabalhar e é uma oportunidade para ganhar. Vou pra casa feliz”, contou Bárbara.Estrutura De acordo com a Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop), são 600 ambulantes licenciados para atuarem dentro da Arena Daniela Mercury nesta edição do festival. Apesar de poderem sair da arena, muitos dos vendedores não conseguem voltar para casa. Sendo assim, eles deitam no chão para tentar dormir e tomam banho em containers no local. “Depois dos shows, tenho que guardar a mercadoria, pegar o papelão para tentar dormir porque a gente mora longe e não vale pegar o ônibus”, contou a vendedora Aldenir de Oliveira, 47.Na manhã deste domingo, Jaime Araújo usava a água de um isopor para se refrescar no calor. Ele explica que o contêiner com chuveiros destinado para os ambulantes tem muita fila e é complicado para tomar banho no local.

“O banheiro de tomar banho é ruim porque só são dois contêineres com a água pingando”, relatou a vendedora Micaele Alcântara.

A Empresa de Limpeza Urbana do Salvador (Limpurb), informou que são disponibilizados dois contêineres dentro da Arena Daniela Mercury com 20 chuveiros ao todo - 10 para uso masculino e 10 para uso feminino. Os chuveiros funcionam até o dia 1º de janeiro, das 5h às 15h, e são de uso exclusivo dos ambulantes que trabalham na festa.

A Limpurb pontuou que ainda foram instalados 555 sanitários químicos na arena para uso comum de todos, inclusive dos vendedores ambulantes.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro