Depois da tarifa para turista, passagem de barco para o Morro de São Paulo sobe 25%

Para entrar no Morro, os turistas ainda pagam uma tarifa de R$ 15

  • Foto do(a) author(a) Mario Bitencourt
  • Mario Bitencourt

Publicado em 20 de dezembro de 2017 às 07:31

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arquivo CORREIO

A população de Morro de São Paulo, na Ilha de Tinharé, pertencente ao município de Cairu, no Baixo sul da Bahia, passará o Natal com menos dinheiro no bolso. É que nesta segunda-feira (18), os trabalhadores passaram a pagar R$ 2,50 no transporte de barco entre Gamboa e Morro. Até domingo, era R$ 2, aumento de 25%.

Morro e Gamboa ficam na Ilha de Tinharé, separados a uma distância de quase 7 quilômetros. O barco que os trabalhadores usam faz a travessia em 15 minutos. Na área, o transporte hidroviário, feito por barcos e lanchas, segue o itinerário Gamboa-Morro de São Paulo-Valença, cidade do outro lado do mar.

O preço da travessia, contudo, tem valor diferenciado: turistas pagam R$ 4 entre Gamboa e Morro e R$ 12 se quiserem ir até Valença, saindo de Morro ou Gamboa. Esses R$ 12 também são pagos por nativos que precisam ir a Valença, e moradores da Gamboa acham que deveria ser menor porque a distância para Valença é mais curta.

Para entrar no Morro, os turistas ainda pagam uma tarifa de R$ 15, imposta pela Prefeitura de Cairu no dia 1º de novembro deste ano. Para o Ministério Público da Bahia (MP-BA), a lei que autoriza a cobrança é inconstitucional  e entrou com ação na Justiça em novembro para derrubá-la.  

Devido ao aumento, os moradores de Gamboa, que compõem cerca de 80% dos trabalhadores do Morro, organizam um abaixo assinado para reduzir o valor a R$ 2.

Impactos A cadeia do turismo de Morro de São Paulo, que possui 12 mil leitos em 220 estabelecimentos para hospedagem e 125 bares e restaurantes, gera 4 mil empregos.

Os moradores de Gamboa dizem ter conseguido mais de 500 das 2 mil assinaturas que esperam obter até o final de janeiro, quando devem acionar o MP-BA sobre o assunto.“Não vamos deixar isso continuar, ninguém aguenta. R$ 5 por dia é muito dinheiro no bolso do trabalhador do Morro, a maioria aqui ganha salário mínimo e muitos não recebem auxílio-transporte. Não teve nenhuma conversa com a comunidade, isso é muito errado”,declarou a turismóloga Sidmaria Nascimento dos Anjos, 30, que mora em Gamboa e atua numa pousada no Morro.Outro problema enfrentado pelos moradores da Gamboa é que, segundo eles, a tripulação dos barcos, na hora do embarque, costumam dar prioridade para quem está indo para Valença, já que pagam mais caro.

“Já teve dia que sai do meu trabalho as 14h e só fui conseguir pegar um barco as 17h30 porque não me deixaram entrar”, disse a camareira Joana da Silva Aragão, 25.

Também morador da Gamboa, o recepcionista Danilo Jesus Silva, 34, está preocupado com o aumento da passagem, já que não recebe auxílio algum relativo a esse custo.

“Sai do meu bolso todo o dinheiro da passagem. Antes, com R$ 2, era R$ 20 por semana, agora vai ser R$ 25, e ao final do mês R$ 100 de passagem. É um custo que faz muita diferença para quem ganha pouco”, disse o recepcionista.

Há ainda reclamações com relação a falta de iluminação pública e de coleta de lixo no bairro da Mangaba, onde, segundo os relatos, há três dias que a coleta não é feita.

A Prefeitura de Cairu, em nota, afirmou que “não houve interrupção dos serviços de coleta de lixo no bairro da Mangaba, em Morro de São Paulo, nos últimos dias.”

“A prefeitura informa ainda que a coleta acontece sempre nas primeiras horas da manhã, por isso, o lixo deve ser colocado nos pontos de coleta neste horário”, acrescentou.

“Em relação à iluminação pública, a prefeitura reconhece a necessidade de melhoria, e informa que mapeou os pontos críticos para que sejam atendidos em breve prioridade”, finaliza a nota.  

Justificativas Donos de embarcações entrevistados pelo CORREIO alegaram que o aumento se deu em razão de o valor de R$ 2 já vir sendo cobrado há mais de 5 anos, sem reajuste. Destacaram ainda que nesse período houve aumento dos preços de combustível e de salário mínimo pago aos trabalhadores das empresas de transporte marítimo.

Porém não souberam informar quem autorizou o aumento da cobrança, o que, em tese, deveria ser feito pela Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia (Agerba).

Autarquia ligada à Secretaria de Infraestrutura do Estado da Bahia (Seinfra), a Agerba é responsável pelos terminais de Gamboa e Morro de São Paulo, conforme consta no site oficial da agência.

Até o início do mês, contudo, os terminais estavam sem empresa operando e as cobranças das travessias vinham sendo feitas nas embarcações, situação que pode ser observada ainda nesta terça-feira (19).

No dia 11 de dezembro, após a realização de um contrato emergencial, a empresa Dattoli, que atua no transporte marítimo na região, assumiu a administração dos terminais de Valença, Morro de São Paulo, Gamboa e Boipeba.

Por determinação da Associação de Transporte Marítimo (Astram), a partir desta quarta-feira (20), a cobrança das taxas de embarque para turistas e nativos será feita somente nos terminais.

O CORREIO entrou em contato com a Astram para falar com o presidente da entidade, Cláudio Nascimento, mas a atendente disse que não poderia informar o contato dele e não deu mais retorno.

Foi a Astram quem anunciou, por meio de cartazes colados nas embarcações, que os moradores de Gamboa passariam a pagar R$ 2,50. O valor de R$ 4 dos turistas já vem sendo praticado há mais de 5 anos, segundo donos de empresas de navegação.

Apesar de ter em no site a informação de que administra os terminais de Gamboa e Morro de agência diz que “fiscaliza os contratos de concessão remunerada de uso [dos terminais] firmado com os licitantes vencedores”.

Gerente da empresa Dattoli, Ednaldo Júnior alegou que o valor de R$ 2,50 que os moradores de Gamboa vão pagar é relativo a isenção que eles têm de uma taxa de utilização dos terminais, de R$ 1,50.

“Essa taxa já vem no valor de R$ 4 que os turistas pagam, e o que estamos fazendo para o morador é a isenção dessa taxa”, disse ele, afirmando depois que “antes eles pagavam R$ 2 porque a cobrança era feita no barco, onde tinha influência de amizade”.

Ainda segundo Ednaldo Júnior, cada terminal que ele gerencia tem uma média de movimentação diária de 500 passageiros. “É a quantidade atual, no final do ano e início de 2018 vai aumentar, com certeza”. Ele não soube estimar a quantidade de embarcações que fazem a travessia.

Vereador pelo PMDB em Cairu e dono de três embarcações avaliadas em R$ 300 mil, no total, o empresário Antonio Costa Damascena, o Pikui, disse que a cobrança de R$ 2,50 nas embarcações dele só é feita para quem não fez a carteirinha de nativo.

Ele é dono da Gamboa Tur. “Fiz mais de 450 carteirinhas para que os nativos andassem de graça, tem mais de um ano isso. Aí, quem não fez, está pagando”, ele disse.

“Acho que os nativos têm de ser mais bem tratados, mas também não pode ficar uma bagunça, com todo mundo andando de graça nos meus barcos. Tem mais de 20 anos que transporto trabalhador de graça e muita gente reconhece o trabalho social que eu faço”, discursou o político.