Deque e pedras portuguesas: veja o que mudou na Praça Cairu

Revitalização foi entregue nesta quinta-feira (30), após investimento de 8 milhões de reais da Prefeitura e Ministério do Turismo

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  • Marcela Vilar

Publicado em 30 de julho de 2020 às 17:36

- Atualizado há um ano

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. por Arrison Marinho/CORREIO

A população de Salvador recebeu mais uma obra do projeto de requalificação do Centro Histórico da cidade: a nova Praça Visconde de Cairu, no Comércio, que foi entregue pela Prefeitura nesta quinta-feira (30). Com a obra, que custou mais de R$ 8 milhões - sendo 4,6 milhões do Ministério do Turismo -, os soteropolitanos vão poder contemplar a Baía de Todos-os-Santos com uma vista privilegiada e com espaço à vontade, sem aglomeração, nos seus 32 mil metros quadrados de extensão.    “Se não estivéssemos vivendo a pandemia, hoje estaria havendo uma grande festa aqui em Salvador para celebrar a inauguração da nova Praça Cairu, que é um dos cartões-postais mais emblemáticos de nossa capital”, afirmou o prefeito ACM Neto durante a inauguração. “Ela é um ponto de encontro de soteropolitanos, baianos, brasileiros e pessoas dos quatro cantos do mundo. Não há um turista que venha a Salvador e que no seu roteiro não esteja a Praça Cairu”, completou.   [[galeria]]

As mudanças promovidas pela prefeitura foram desde o piso do calçamento, que agora tem uma parte de granito e pedras portuguesas azuis e brancas, à construção de um deque para a contemplação da baía. Toda a parte do estacionamento foi modificada e o canteiro de árvores foi fechado para permitir a circulação de pedestres. Além disso, a rampa de veículos que dá acesso ao Terminal Náutico foi revitalizada, assim como a parada de ônibus de turismo. O busto do Visconde de Cairu, que dá o nome à praça, também está de cara nova após a reforma, que contou ainda com a instalação de 97 luminárias e 13 projetores. Só com a nova iluminação foram gastos R$ 277 mil.

A coordenação do projeto foi feita pela Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF), comandada pela arquiteta Tânia Scofield, que buscou preservar ao máximo a estrutura original. A execução ficou sob responsabilidade da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Obras Públicas (Seinfra), através da Superintendência de Obras Públicas (Sucop).    O prefeito mencionou ainda que o processo de revitalização teve que superar muitas interferências, como a retirada de um posto de gasolina e um açougue para que se pudesse recuperar o cais e a rampa do Terminal Náutico, que envolveu também discussões com a Embasa, Coelba e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). “De um lado, uma área histórica do século XVIII, mas, do outro, havia uma sensação e sentimento de abandono porque não se fazia manutenção e a infraestrutura estava toda comprometida” ponderou o prefeito. “Toda essa luta valeu a pena porque Salvador ganha um presente extraordinário”, conclui Neto.    As pedras de cantaria, que foram usadas para revitalizar o cais que data do século XVIII, precisaram ser buscadas na cidade de Santa Luz, no interior da Bahia, um dos poucos municípios que têm o material hoje. Já a da escada que leva ao mar é a pedra de lioz, que veio de Lisboa, mas que foi restaurada com mármore. “É um valor histórico e arquitetônico muito grande”, comenta a presidente da FMLF, Tânia Scofield. A pesquisa para encontrar as peças foi de responsabilidade do professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Mário Mendonça, especialista em Restauração de Monumentos e Centros Antigos, que é um dos graves conhecedores do acervo histórico da capital baiana, que foi a primeira capital do Brasil.    O secretário municipal de Cultura e Turismo, Pablo Barroso, afirma ainda que a intervenção, além de valorizar a região histórica da cidade, busca atrair não só turistas, mas também o povo de Salvador, público-alvo da campanha municipal para a retomada da visitação à cidade. “Assim que as pessoas puderem voltar a circular pela cidade, essa obra vai ter uma importância enorme para os turistas e baianos. Tudo isso faz parte do projeto de retomada, que é voltado para os soteropolitanos conhecerem e reconhecerem melhor a cidade”, explica o secretário.    Já o presidente da Associação de Comerciantes do Mercado Modelo, Nelson Tupiniquim, considera que essas mudanças terão efeitos diretos no estabelecimento, que é o “coração” da praça. “Tem uma visibilidade muito bonita, circulação, ventilação e, tendo uma segurança adequada, é só ponto positivo. Com esse espaço a gente pode atender melhor o visitante da cidade e o próprio soteropolitano”, opina Tupiniquim.  Projeto de requalificação do Centro Histórico A revitalização do local é parte de um grande projeto da prefeitura, que busca revitalizar toda a área do Centro Histórico de Salvador, que é tombada pelo Iphan como Patrimônio Histórico Nacional e considerada Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O investimento total das 35 intervenções - que incluem ruas, monumentos, praças e edificações - é de mais de R$ 300 milhões, que têm apoio financeiro do Ministério do Turismo e bancos internacionais, como o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).    A Cairu, que foi construída no final do século XIX, é a quarta praça a ser revitalizada pelo projeto. As primeiras reformas foram feitas na Praça da Inglaterra, na Marechal Deodoro, que ficam na Cidade Baixa, e no Terreiro de Jesus, no Pelourinho. A próxima a ser requalificada será a Praça Castro Alves.   Monumento Mário Cravo O único ponto da praça que ainda está sem reformulação é o Monumento Mário Cravo, que pegou fogo em dezembro do ano passado. O prefeito disse que teve um impasse com a família do artista, que cobrou valores muito altos para que a Prefeitura tivesse acesso ao projeto original e pudesse restaurar.

“Só não começamos [a reconstrução] porque houve desalinhamento de posições entre a prefeitura e a família de Mário Cravo. Meu desejo é que o monumento seja reconstruído exatamente com a configuração original. Uma parte [da família] concordava em ceder os projetos originais à prefeitura, uma outra parte quis cobrar um valor que me recuso a pagar. Não existe pagar milhões para ter direito de acesso a um projeto original num momento como esse, não seria nada razoável”, esclareceu o prefeito Acm Neto. Caso o conflito não seja resolvido, Neto informou que abrirá um concurso público para selecionar um novo projeto.   Requalificações já feitas Praça Inglaterra - investimento de R$ 1,2 milhão Praça Marechal Deodoro -  investimento de R$ 5,1 milhões Terreiro de Jesus - investimento de R$ 1,6 milhão Praça Cairu – investimento de R$ 8 milhões  Rua Miguel Calmon - investimento de 4,3 milhõesO que falta  Casa dos Azulejos Azuis, onde será a Casa da Música - investimento de R$ 7,8 milhões - termina em dezembro de 2020  Arquivo Público/Casa da História de Salvador - investimento de R$ 27,4 milhões - termina em julho de 2021 Avenida Carlos Gomes – investimento de R$ 1 milhão Avenida Joana AngélicaAvenida Sete de Setembro e Praça Castro Alves - investimento de R$ 20 milhões

Outros pontos alcançados pelo projeto - Hub Tecnologia - Casa do Carnaval - Cerimonial da Conceição da Praia - Arcos da Montanha - Elevador do Taboão - Rua Cônego Pereira - Mercado São Miguel - Muralhas do Frontispício 

* Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro