Desenvolvimento socioambiental

Miguel Fontes é fundador e diretor da JS/Brasil

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  • Da Redação

Publicado em 21 de fevereiro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Programas de desenvolvimento socioambiental representam um custo ou um investimento para o país? Esse questionamento frequente é justo em função da falta de estudos que demonstrem ou não os efetivos impactos sociais, econômicos e ambientais desses programas que, muitas vezes, acabam sendo confundidos com iniciativas assistencialistas que apenas “oferecem o peixe, mas não ensinam a pescar”.

        No entanto, essa realidade vem sendo modificada nos últimos dez anos com novos estudos que demonstram eficácia, eficiência e impactos sociais, econômicos e ambientais das intervenções socioambientais. Por exemplo, diversos estudos na área da saúde, como prevenção de doenças, demonstram como programas educativos são fundamentais para aumentar a qualidade de vida da população e reduzir os gastos de internação para governos. Estudos realizados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), por exemplo, demonstram que para cada R$ 1,00 investido nas áreas de Saúde e Educação, retornam R$ 1,78 em riquezas para o Brasil.

        É interessante observar que estes estudos começam a avaliar programas com fins públicos financiados pelo setor privado. As possibilidades metodológicas são diversas e podem ser modeladas e aplicadas cientificamente para testar e comprovar os impactos efetivos das intervenções, programas e políticas socioambientais realizadas por atores da sociedade civil, empresas e governos.

Agora, este tipo de estudo também foi realizado na Bahia. Seguindo a hipótese do idealizador da Fundação Odebrecht, Norberto Odebrecht, de que, no Brasil, “o grande desafio da atualidade, no que diz respeito ao adolescente e ao jovem, é sua inserção nos mundos da cidadania e do trabalho e na consequente formação de famílias mais produtivas e mais felizes”, o Programa de Desenvolvimento e Crescimento Integrado com Sustentabilidade (PDCIS) foi avaliado em 2017.

O estudo é inédito e demonstrou, com robustez científica, que a ação educativa integrada para jovens em situação de vulnerabilidade no Baixo Sul da Bahia, em alinhamento com ações para desenvolvimento econômico e conservação ambiental, traz resultados significativos para as comunidades locais. Para cada R$ 1,00 investido no PDCIS, foram gerados R$ 2,13 de retornos econômicos em relação à maior produtividade de famílias, preparo dos jovens para o mundo do trabalho e diferença significativa na necessidade do cadastramento no Bolsa Família. Além disso, os jovens atendidos pelo programa são mais engajados em suas comunidades, aumentam seu desejo de permanecer na região junto a suas famílias.

A avaliação de impactos do PDCIS é mais um exemplo de que os programas socioambientais devem ser priorizados como investimentos tangíveis e lucrativos para toda a sociedade. Em qualquer área do desenvolvimento, seja no setor privado ou público, investimentos constantes são necessários para melhorias das condições de vida da população.

Miguel Fontes é fundador e diretor da JS/Brasil, empresa que trabalha no desenvolvimento de Avaliações de Impacto Socioeconômico desde 1995. É doutor pela Bloomberg School of Public Health da Johns Hopkins University em Avaliação de Impacto e Sistemas de Saúde.