Desfile inspirado nas águas baianas acontece neste sábado (18), no MAM

A coleção possui 30 peças e foi criada por alunos do Instituto Oyá

Publicado em 17 de dezembro de 2021 às 05:00

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Nara Gentil/ CORREIO

Uma mistura de moda, cultura e arte acontecerá neste sábado (18), no Museu de Arte Moderna da Bahia, durante o desfile do Instituto Oyá, com peças originais criadas por alunos de um curso gratuito oferecido pela organização. No total, são 30 peças que fazem referência às águas dos rios e mares que entrecruzam a Bahia em suas conexões políticas, sociais e culturais. O público, restrito a convidados, poderá perceber o conceito da coleção através de elementos que remetem a redes de pesca e búzios nas roupas. 

A coleção "Transformação", criada pelos alunos do curso de Moda, Modelagem e Corte & Costura, começou em 2020 e está em sua segunda edição. O projeto do Instituto Oyá de Arte e Educação, localizado no terreiro Ilê Axé Oyá, em Pirajá, tem o objetivo contribuir na profissionalização de jovens e adultos de comunidades periféricas e fomentar a economia criativa nas comunidades locais. Nesse ano, o curso contou com cerca de 70 alunos de diversas faixas etárias. Jeferson Lima, 29 anos, designer e responsável pela comunicação visual do projeto, explica que o Oyá Criativa é como se fosse um pilar de criatividade dentro do instituto quando se fala de corte, costura, modelagem, design de moda e estamparia. 

Jeferson foi aluno do curso em sua primeira edição, em 2020, e depois foi contratado como aprendiz pelo instituto. “Há um ano eu estava no lugar de aluno de estamparia com Alberto Pitta, hoje sou aprendiz. Então, em plena pandemia, sem perspectiva de renda, o Oyá Criativa me trouxe a oportunidade de seguir carreira”, declarou o profissional. Segundo ele, o conceito da água da coleção remete tanto ao mar como ao rio da Bacia do Cobre, que fica na parte de trás do instituto. “A água é muito importante nesse sentido de trazer vida, de ser ciclo, mas também de ser transformação, desde o rio, que vai pro mar, depois para o céu, nas chuvas e completa esse ciclo de transformação”, destaca. 

A estilista e aluna no Oyá Criativa, uma das responsáveis pela coleção, Josye Nascimento, 33, contou que soube do curso do último dia de inscrição, já sem esperança de passar porque havia desistido da carreira de moda. “Fiz duas faculdades privadas na área de moda, mas precisei desistir por questões financeiras. Quando eles me chamaram para participar do curso, pulei de felicidade. Participei de todas as aulas”. Josye desenha desde criança, mas não acreditava que poderia seguir na carreira da moda por ser uma área muito cara, por isso que o projeto do instituto chegou no momento certo para ela. “Aqui eles dão todo o suporte, com vários professores que sempre me acompanhavam durante o processo”, disse. 

As três peças da estilista serão expostas no sábado e foram inspiradas nas experiências de vida que ela teve. A primeira, um macacão preto, é baseada na perda de oportunidades, quando ela precisou sair de duas faculdades. A segunda e a terceira peças, dois vestidos brancos, simbolizam o seu renascimento no meio da moda. A ideia do projeto, segundo a Ialorixá e gestora do Instituto Oyá, Nívia Luz, é criar oportunidade e contribuir para o crescimento e florescimento de carreiras, além de promover educação, acesso ao mercado de trabalho e transformação social, a partir de exemplos positivos, assim como aconteceu com Josye. Desfile contará com 30 peças neste sábado (Foto Nara Gentil/CORREIO) Nívia destaca que o Instituto Oyá nasceu dos sonhos de Mãe Santinha, que era líder do terreiro Ilê Axé Oyá, e sempre foi um espaço criado para servir e acolher pessoas. O local possui mais de 20 anos de existência e já beneficiou milhares de jovens da comunidade de Pirajá e entorno, através de atividades educacionais, artísticas e culturais por meio dos projetos: Oyá Criativa, Oyá Social e Oyá Educa. O último oferece educação artística para jovens periféricos do bairro Pirajá. “Tenho várias histórias de alunos que chegaram no Oyá e se destacaram ao desenvolver suas habilidades. Alguns que chegaram ainda crianças e hoje integram a nossa equipe criativa", destaca Nívia.

Sobre o Oyá Criativa, Nívia especifica que o projeto surgiu para acolher as mulheres, em sua maioria negras e periféricas, e profissionalizá-las nessa área. “Todas essas mulheres, ou a maioria delas, têm uma máquina de costura como herança deixada pela avó, uma madrinha, tia ou mãe. Então, muitas sabiam costurar, aprenderam sozinhas, mas não consideravam isso como uma profissão e foi daí que a Criativa nasceu”, afirmou a ialorixá. De acordo com ela, o objetivo do Oyá é transformar vidas e o desfile vai mostrar a potência dos jovens e do instituto, que já tem mais de 30 anos de existência, para a cidade.

A coleção "Transformação" tem curadoria do diretor criativo ítalo-brasileiro Giovanni Bianco e o desfile contará com a participação de artistas e profissionais que estiveram envolvidos no processo de construção das peças. O projeto foi desenvolvido por oito meses com orientação de quatro professoras especialistas: Ana Paula Tadeu e Leila Saron, mentoras no processo de modelagem e corte e costura; e dos estilistas Carolina Gold e Cid Brito. O curso contou ainda com palestrantes convidados, entre eles, o artista da beleza Ricardo dos Anjos; o diretor criativo do Oyá, Alberto Pitta, considerado um dos mais importantes artistas plásticos na criação do que hoje se conhece por estampas afro-baianas.

*Com supervisão da subchefe de reportagem Monique Lôbo