Designer de moda Carol Barreto fala sobre moda como ativismo: 'Não me via artista'

Carol falou sobre a importância da aparência como uma espécie de narrativa e elemento pelo qual é possível presumir a origem de uma pessoa

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  • Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2020 às 23:16

- Atualizado há um ano

. Crédito: Imagem: Reprodução/Instagram

Professora da Ufba, a designer de moda santamarense Carol Barreto foi a convidada da vez do programa Conexões Negras desta sexta-feira (9). Apresentada pela colunista Midiã Noelle, a live tratou da moda como ativismo político, especialmente feminista e antirracista. Carol falou sobre a importância da aparência como uma espécie de narrativa e elemento pelo qual é possível presumir a origem de uma pessoa. Primeira brasileira a se apresentar na Black Fashion Week de Paris, em 2015, ela relembrou sobre a sua trajetória enquanto artista autoral.

O interesse pela moda surgiu ainda na infância, desenhando em cadernos, mas os rabiscos reproduziam os parâmetros de beleza da branquitude. Ávida consumidora de revistas, ela lembra de não se sentir representada naquelas páginas. Lendo uma matéria, soube da existência de escolas de moda em Paris e sonhou com aquela carreira, mas a França lhe parecia impossível. 

Numa época de internet pouco acessível, descobriu que a Universidade Federal do Ceará (UFC) tinha um curso de Design de Moda e enviou um fax para a instituição, que respondeu com um croqui e um programa da graduação, que exigia conhecimento de inglês, francês, desenho e modelagem. A partir daí, ela correu atrás de ter essas habilidades e passou no vestibular de Letras com Inglês na Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs). 

Além de toda a cultura presenciada nas ruas de Santo Amaro, comos os shows de Caetano Veloso e Maria Bethania, as apresentações dos Caretas de Saubara e da capoeira de Angola, Carol conta que buscou referências nas leituras sobre cinema e pintura. 

“Com os meus olhos e ouvidos e todos os sentidos que me foram presenteados, pude me constituir ser humano e consequentemente, artista, mas ao mesmo tempo, havia uma briga porque estudei numa escola de arte, a literatura, e nunca ouvi falar sobre mulheres negras que fossem artistas”, relata. 

Na faculdade, ela achava estranho e não aceitava receber elogios de professores aos seus trabalhos porque não se reconhecia como uma artista. “Um professor me chamou e disse: ‘Carol, você fala como artista. Por que você não fala nós? Você está sempre apresentando OS artistas’. Eu era tímida, mas já vestia roupas que eu criava, com um óculos azul que ninguém usava, mas não conseguia me entender como artista”, ri.

Há pelo menos sete anos falando sobre o conceito de moda como ativismo, a designer faz parte da organização do Afro Fashion Day, a passarela mais preta do Brasil, e lembrou que na última edição fez a cobertura do evento para a Revista Raça. 

"É uma iniciativa super importante. São pessoas que organizam que, para a gente da moda, sempre foram grandes aliadas como Gabi Cruz e Fagner Bispo. É importante saberem que a gente está lá por eles também, pela maneira respeitosa que sempre trabalharam com a gente. Então, acompanhem!”, disse.

A seletiva 2020 do evento invadiu o TikTok (@correio24horas) nos últimos dias e a galera mostrou todo o seu talento desfilando na passarela virtual. De 12 a 14 de outubro, as pessoas poderão curtir os seus vídeos preferidos, compartilhar com os amigos e se juntar à torcida para levar o candidato à etapa final.