Detentos chefiavam quadrilhas de assaltos a bancos de dentro de presídios baianos

Polícia Civil e Polícia Federal apresentaram operações que tiveram detentos como organizadores do crime

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 3 de setembro de 2020 às 18:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação/PF

De dentro do presídio. Foi daí que gerentes operacionais de duas quadrilhas especializadas em roubos contra bancos e instituições financeiras orquestravam todos os crimes que realizaram. Uma das quadrilhas teve mandados de prisão preventiva cumpridos pela Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira (3). Cinco criminosos foram identificados e um deles, o gerente e financiador, atuava de dentro de um presídio.

No mesmo dia, a Polícia Civil divulgou que 14 integrantes de uma organização criminosa envolvida com tráfico de drogas, homicídios e roubos a bancos foram presos. Três desses mandados de prisão foram cumpridos no Complexo Penitenciário de Mata Escura e no Conjunto Penal de Lauro de Freitas.

A operação da PF, batizada de Operação Payback, é resultado de investigações que começaram após dois furtos e uma tentativa de furto em agências bancárias nas cidades de Alagoinhas, Feira de Santana e Simões Filho, todas ocorridas em março deste ano.

De acordo com a PF, a quadrilha agia durante a madrugada, invadindo as agências bancárias através de aberturas feitas nas paredes, normalmente a partir de imóveis contíguos, que eram alugados para a ação criminosa.

A atuação era silenciosa e buscava deixar o mínimo de vestígios possível: o grupo não roubava, mas furtava bancos. Eles faziam buracos nas paredes dos bancos a a partir de imóveis ao lado. De acordo com o delegado Márcio Manoel Cunha, a quadrilha começou a ser investigada neste ano mas já havia suspeita de atuação do grupo desde o ano passado.

Ainda segundo o delegado, a PF descobriu que parte dos investigados tinham se deslocado para o estado de São Paulo na véspera dos cumprimentos dos mandados. Por lá, eles planejavam a realização de novas ações criminosas. Duas prisões foram feitas na capital paulista, uma em Campinas e outra em Joinville, em Santa Catarina.

"Equipes nossas foram para São Paulo e Joinville, acompanhamos a ação deles em São Paulo. Nesse período houve duas tentativas de furtos identificaras por nós, que serão devidamente confirmadas", afirmou o delegado antes de pontuar que a cidade catarinense é conhecida por ter uma série de grupos especializados nessa atividade criminosa.

Em razão da forma de atuação, estruturação e divisão de tarefas, as condutas investigadas se caracterizam como o furto qualificado, crime previsto no art. 155, § 4º, I e IV, do Código Penal, com pena de reclusão de 2 (dois) a 8 (oito) anos e multa; e integrar organização criminosa, crime previsto no art. 2º da Lei 12.850/2013, com pena de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos e multa.

O gerente e articulador financeiro da quadrilha já estava preso na Bahia. Não foi divulgado em qual unidade carcerária o criminoso está cumprindo pena."Sabemos que ele era o responsável por toda a parte operacional, como custeio de passagens e logística dos crimes. Ele já tinha sido preso em flagrante após uma deflagração aqui no interior da Bahia", disse o delegado.Além do valor subtraído, o prejuízo compreende ainda os danos causados aos prédios, instalações, equipamentos e serviços bancários. A investigação prosseguirá com o objetivo de identificar os demais autores e apurar os crimes de Lavagem de Dinheiro, inclusive para recuperação dos valores subtraídos e arrecadação das coisas obtidas com o produto dos crimes.

O Sindicato do Bancários da Bahia, que faz um levantamento dos ataques no estado, não possui dados atualizados deste ano, por conta da pandemia. No site há registros de apenas dois ataques realizados contra agências bancárias no estado em 2020, ambos no primeiro semestre do ano. O primeiro deles no dia 2 de fevereiro, com a explosão de uma agência do Banco do Brasil em Amélia Rodrigues. Um mês depois, no dia 13 de março, uma outra agência do banco foi arrombada em Simões Filho. Segundo o sindicato, os dados deverão ser atualizados nos próximos dias.

Rursus Alagoinhas está na rota de criminosos que gostam de roubar instituições financeiras. Foi lá onde onze integrantes de um grupo criminoso foi alcançado por equipes da  Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco). Outras três ordens judiciais foram cumpridas no Complexo Penitenciário de Mata Escura e no Conjunto Penal de Lauro de Freitas.

Batizada de operação Rursus, a investigação chefiada pela Draco prendeu uma organização criminosa envolvida com tráfico de drogas, homicídios e roubos a bancos.

Chefe da investigação, a delegada Andrea Ribeiro disse ao CORREIO que a Polícia Civil estava investigando a quadrilha há cerca de 1 ano e 7 meses e que, no decorrer do inquérito, descobriu os outros crimes, para além do tráfico de drogas, praticados pela quadrilha.

"Começamos com esse foco mas no curso disso percebemos que eles não estavam envolvidos somente neste delito, mas também com roubos a instituições financeiras, casas lotéricas no município de Alagoinhas e adjacências. Eles atuavam muito no entorno como Catu, Pojuca e regiões próximas a Alagoinhas", disse a delegada. Policiais do COE não tiveram resistência para prender quadrilha (Foto: Divulgação/SSP) Os três detentos envolvidos com a quadrilha eram lideranças da facção sediada em Alagoinhas. Eram eles quem determinavam crimes e gerenciavam a venda de drogas, através de troca de mensagens e ligações telefônicas.

Questionada sobre se era possível determinar que os detentos tiveram acesso a celulares em pleno cárcere, a delegada afirmou que não era possível confirmar essa informação e que a capilaridade dos bandidos passava também por visitas, que serviam como 'telefone sem fio' para o restante dos comparsas.

Principal foco da operação, na cidade de Algoinhas equipes do Draco, da COE, do Depin e da Cipe Litoral Norte cumpriram mandados nos bairros de Conjunto Nunce Pereira, conhecido por B13, Feiticeira, Alecrim e Barreiro.

"Não houve resistência durante a prisão. Essa é a importância de fazer uma investigação focada em elementos probatórios consistentes. As informações foram buscadas em campo, com inteligência e colaboradores. De forma que quando deflagramos a operação estava tudo muito redondinho", afirmou a delegada do Draco.

Com um dos alvos foram apreendidos um revólver calibre 38 e munições. Utilizando os cães Jade (Cockerspaniel), Hoss (Pastor Alemão) e Sonic (Labrador), do Canil da COE, imóveis usados pelos tracicantes foram vistoriados. Porções de entorpecentes acabaram apreendidas.