'Deus sabe o que você fez', diz mãe de irmãos mortos sobre Kátia Vargas

Marinúbia Gomes esteve presente nesta quarta (7) em quarto julgamento do caso

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  • Da Redação

Publicado em 7 de agosto de 2019 às 16:27

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauro Akin Nassor/CORREIO

Já são quase seis anos que um acidente de trânsito matou os irmãos Emanuel e Emanuelle Gomes Dias, de 21 e 23 anos. A essa altura, ela estaria formada em Direito, curso que escolheu para seguir, enquanto ele, que morreu quatro dias antes de fazer aniversário, estaria com 27 anos. A mãe deles, a enfermeira Marinúbia Gomes, não viu nada disso.

Até aqui foram 2.126 dias de saudade - sem previsão para passar. O que também não tem data prevista é o desfecho desse caso, que teve seu quarto julgamento nesta quarta-feira (7). Visivelmente mais magra do que na época que perdeu os filhos, de roupa preta e cabelos amarrados, Marinúbia passou a maior parte do tempo de olhos fechados, enquanto enxugava as lágrimas cada vez que relembrava aquele 11 de outubro de 2013, o pior dia da sua vida. 

O silêncio visto na sede do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), no Centro Administrativo (CAB), onde ocorreu o julgamento, foi quebrado quando a mãe dos meninos saiu da sala. Muito emocionada, ela demonstrou em suas expressões a exaustão por ver, mais uma vez, o julgamento ser adiado. Agora, a sessão será no dia 4 de setembro, porque um dos desembargadores pediu vistas para que ele pudesse analisar os autos mais profundamente.

Chorando bastante e levando a mão ao rosto por diversas vezes, ela fez um desabafo e admitiu que, hoje, a única coisa que ela queria era uma confissão da médica. "Eu sei que você não fez porque quis, mas você fez, Kátia Vargas. Deus sabe o que você fez", disse.Amparada pelo marido Otto Malta e pela irmã Mércia Gomes, ela mostrava nas expressões o quanto esses seis anos foram de dor e desgaste. Com a voz falha e respirando mal por conta da emoção, ela fez um apelo à mulher que é acusada de jogar o carro contra a moto onde estavam Emanuel e Emanuelle.

"Kátia Vargas, nem que você não vá presa, eu não desejo mal a você, eu nunca desejei. Eu lhe perdoo por todas as coisas, mas me diga com as suas palavras: 'Marinúbia, eu sou responsável por isso, mas eu não fiz porque eu quis'. Eu só queria isso", desabafou a mãe dos jovens. Marinúbia se emocionou durante julgamento (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) No julgamento desta quarta, 20 desembargadores analisariam a responsabilidade da médica no acidente. No entanto, pouco após o início da sessão, um desembargador pediu vistas e houve adiamento do julgamento, para que ele pudesse analisar os autos mais profundamente.

Independentemente da decisão que os 20 desembargadores da Seção Criminal tomarem, os advogados ainda podem ingressar com recursos ao Superior Tribunal de Justiça, podendo chegar até mesmo ao Supremo Tribunal Federal, instância máxima da Justiça brasileira.

'Não cabe perdão' Marinúbia também falou que sabe da dor que a família de Kátia Vargas atravessa e que não pretende julgá-la, mas evitou falar em perdão. "Se você (Kátia Vargas) for inocente, que seja inocentada por esses homens, pelos desembargadores. Se você for inocente, eu também te inocento, mas neste momento ainda não cabe inocência e nem perdão de nada", afirmou a mãe dos irmãos.Sempre citando Deus quando fala do julgamento do caso, Marinúbia disse que já esperava não ver o seu pesadelo chegar ao fim nesta quarta. Para ela, já era esperado um novo julgamento em outra data. "Estou sempre na expectativa de todas as coisas, em todos os momentos que entrei lá eu disse: 'meu pai Celestial, está entregue nas suas mãos, seja a decisão que for. Quem sou eu para apontar, acusar para julgar?'. Eu sei a dor daquela família toda pelo erro que Kátia Vargas cometeu quando jogou o carro, que eu não tenho dúvidas que ela fez, porque são 18 testemunhas falando a mesma coisa, mas não cabe a mim julgar", completou.

O discurso de que Marinúbia perdoa a médica não é novo. No dia 3 de agosto, data do primeiro julgamento na segunda instância, a enfermeira já havia dito que 'libertava' a médica. “Nós não queremos a dor nem o sofrer de ninguém. Emanuel era um coração bom, um coração generoso. (...) Ele já libertou Kátia Vargas, eu a liberto também, mas queremos que a responsabilidade seja dada”, bradou na ocasião. Emanuel e Emanuelle morreram em outubro de 2013 (Foto: Reprodução) Já demonstrando fraqueza na voz e sempre amparada pela irmã, a enfermeira concluiu seu desabafo dizendo que, independentemente da oftalmologista ser considerada culpada ou inocente, ela aceitará a decisão. Porém, a dor que carrega seguirá presente em sua vida. 

"Eu agradeço a Deus, a todos os desembargadores que estavam lá dentro que eram a favor ou contra. Agora eu vou esperar o dia 4 de setembro (data marcada para o julgamento ser continuado), e seja a resposta que vier, positiva ou negativa, essa é a resposta de Deus. Nada traz Emanuel e Emanuelle de volta", finalizou.

Relembre o caso Os irmãos Emanuel, 21 anos, e Emanuelle, 23, morreram na manhã de 11 de outubro de 2013, depois que a moto em que eles estavam bateu em um poste em frente ao Ondina Apart Hotel. Na época, testemunhas disseram que Kátia Vargas saiu com o carro da Rua Morro do Escravo Miguel, no mesmo bairro, e fechou a passagem da moto pilotada por Emanuel, que levava a irmã na garupa, no sentido Rio Vermelho.

Após uma parada no sinal, Emanuel teria protestado contra a atitude da médica, batendo com o capacete contra o capô do carro. Foi quando o sinal abriu para a moto, mas não para o carro da médica, que faria um retorno no sentido Jardim Apipema.

Kátia, então, segundo as investigações, furou o sinal vermelho e acelerou o veículo em direção à motocicleta. Foi quando Emanuel perdeu o controle da direção e se chocou contra o poste, em alta velocidade. Ele e a irmã morreram na hora. Após o impacto, a médica chegou a entrar na contramão e bateu, alguns metros à frente, no portão do Ondina Apart Hotel.

Ela ficou internada no Hospital Aliança e saiu de lá direto para o Presídio Feminino de Salvador, na Mata Escura, onde ficou presa por 58 dias, até ter o alvará de soltura assinado pelo juiz Moacyr Pitta Lima, no dia 16 de dezembro de 2013.

Em dezembro de 2017, sete pessoas consideraram que a médica é inocente e, portanto, não provocou a colisão que acabou com a morte dos irmãos, no bairro de Ondina, em Salvador. A decisão, no entanto, foi reformada por desembargadores da Segunda Turma da Câmara Criminal do TJ-BA. Agora, os 20 desembargadores da Seção Criminal decidirão se anulam, ou não, o júri popular que absolveu Kátia. Até agora, o placar está em dois para anular e dois para não anular.

Cronologia do caso - 11 de outubro de 2013: Emanuel, 21 anos, e Emanuelle, 23 anos, morrem depois que a moto em que eles estavam bateu em um poste em frente ao Ondina Apart Hotel. Testemunhas disseram que Kátia Vargas fechou a passagem da moto.

- 11 de outubro de 2013: Após o acidente, Kátia Vargas foi internada no Hospital Aliança.

- 17 de outubro de 2013: A médica deixou o Hospital Aliança em uma viatura da 7ª Delegacia Territorial (DT/Rio Vermelho) e foi encaminhada para o Presídio Feminino, no Complexo Penitenciário da Mata Escura.

- 16 de dezembro de 2013: A médica foi solta do Presídio Feminino após ficar presa por 58 dias até ter alvará de soltura assinado pelo juiz Moacyr Pitta Lima.

- 06 de dezembro de 2017: O júri popular é realizado no Fórum Ruy Barbosa. Sete pessoas entenderam que Kátia não causou a colisão que terminou com a morte dos jovens e, portanto, era inocente.

- 16 de agosto de 2018: A Segunda Turma da Câmara Criminal do TJ-BA, por maioria, decidiu anular o júri popular. A defesa de Kátia Vargas entrou com um recurso da decisão na mesma semana.

- 07 de agosto de 2019: Desembargadores da Seção Criminal começaram a julgar se o júri popular deve ser mesmo anulado ou não. Um desembargador pediu mais tempo para analisar o processo. Dois desembargadores votaram para anular e dois para manter a decisão.

- 4 de setembro de 2019: Data pré-definida para que os desembargadores da Seção Criminal voltem a julgar o caso.