Dia de Finados: parentes se reúnem para prestar homenagens

Cemitérios de Salvador estiveram cheios durante o sábado, com manifestações de saudade; Dom Murilo Krieger rezou missa no Campo Santo

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  • Fernanda Santana

Publicado em 2 de novembro de 2019 às 15:18

- Atualizado há um ano

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. por Marina Silva/CORREIO

Desde 1965, Onícia e o filho Antônio repetem, de mãos dadas, o mesmo caminho em direção ao túmulo de Antônio da Silva. “Nunca faltei um dia sequer, ele foi o grande amor da minha vida”, lembra Onícia Ferreira, 84, de frente ao túmulo do marido. Neste sábado, dia de Finados, mãe e filho repetiram a tradição de uma vida.

Nas mãos, familiares e amigos trazem flores de todas as cores. À frente de lápides e gavetas, relembram com saudade a vida de entes queridos. Desde a morte do marido, ela cuida de todos os detalhes para homenagear a quem chama de seu grande amor. Nunca casou-se novamente. “Já pequenininho, eu vinha com ela”, conta o advogado Antônio da Silva, 58, uma criança de apenas três anos quando o pai, delegado, foi assassinado. 

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Até às 9h, cerca de 10 mil pessoas já haviam passado pelo Cemitério do Campo Santo, na Federação. Os 30 mil túmulos e gavetas do cemitérios começaram a ser visitadas cedo. A partir das 6h, chegaram os primeiros grupos. Antes de visitar as lápides do pai, da mãe e do marido, Theodil Brites, 76, contou de seu sentimento de leveza no dia de homenagem aos mortos.  “Acho que não seja de tristeza. Nascemos e crescemos. Nossa morada não é aqui. É na eternidade”, acredita Brites.Durante todo dia, a Santa Casa de Misericórdia, administradora do Campo Santo, estima que 25 mil pessoas tenham circulado pelos corredores do cemitério. Às 9h, Dom Murilo Krieguer, arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, rezou a segunda missa do dia. A mensagem principal é que a tristeza e a saudade não se sobreponham ao amor e as lembranças. “A lembrança da partida de pessoas queridas pode deixar um sentimento de tristeza, mas a lembrança é animadora. O que fica na lembrança ,e mais ainda no coração de Deus, é o bem”, pregou Dom Murilo.Somente três dias depois do sepultamento da mãe, Wellington Silva Lima, 51, tenta assimilar a morte como um caminho. “É um dia difícil, um caminho que todos nós vamos trilhar. A única certeza é essa, a morte”, repete, como mantra, para que lembre dos momentos bons. 

Mensagens de paz Há cinco anos, um grupo de pelo menos 20 homens, todos vestidos de azul, reúnem-se no Campo Santo. Da entrada aos fundos do cemitério, rezam o terço por familiares e mortos. “Hoje é um dia especial, de relembrar quem foi para a eternidade”, comentou Aurelino dos Santos Filho, 66. O grupo sai da Paróquia da Boca do Rio para cumprir a tradição e, no percurso, pessoas se agrupam ao redor dos homens de azul.

Pelos cemitérios,  outros grupos participam do Dia de Finados pra apoiar aqueles que, pelo pouco tempo ou força do trauma, não conseguem aceitar a morte. Há 27 anos, Noelia e Tânia, do Grupo Shalom, conversam com desconhecidos sobre as dores da morte. Mas principalmente sobre a importância de seguir adiante. “Muita gente ainda não aceita. Paramos, conversamos, a morte é um caminho”, diz Noelia Carvalho, 59, antes de seguir a missão, iniciada às 6h e finalizada pouco antes das 11h.

Jardim da Saudade Durante a missa no Jardim da Saudade, iniciada às 10h, Dom Estevam dos Santos afirmou que o Dia de Finados é "dia de pensar nosso presente para pensar na eternidade. "Hoje eu, amanhã você, um dia nós". Ao longo do dia, em média, 10 mil pessoas passaram pelo cemitério, que também tem 10 mil jazigos. 

Depois da missa, pétalas brancas foram jogadas do céu por um helicóptero. No chão, familiares se abraçavam e crianças corriam atrás das pétalas. (Foto: Marina Silva/CORREIO) Depois, 52 pequeninos paraquedas também caíram sobre o público. Em cada um deles, mensagens para os enlutados. Nas mãos, a jornalista Ieda de Melo, 50, carregou uma das mensagens jogadas. A lembrança da mãe, falecidade há dois anos, aos 89 anos, foi imediata. Na tira de papel, o recado: "Por mais difícil que possa parecer ser uma perda, o tempo será sempre um aliado para diminuir a dor". (Foto: Marina Silva/CORREIO)