Dia do Samba reúne artistas em comemoração reduzida no Pelourinho

Neste ano, celebração foi encabeçada pelo cantor e compositor Edil Pacheco e pelo escritor e poeta Clarindo Silva

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  • Da Redação

Publicado em 2 de dezembro de 2021 às 20:03

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Paula Fróes/CORREIO

Com muita emoção, alegria, música boa e diversos artistas, o Dia do Samba foi comemorado, nesta quinta-feira (2), na Cantina da Lua, no Pelourinho. Os cantores presentes aproveitaram o momento para homenagear os sambistas que já se foram cantando o ritmo que é a cara do Brasil. A festa teve sua primeira edição na década de 70, em Salvador, mas já se tornou uma data nacional, celebrada sempre no dia 2 de dezembro. Neste ano, a celebração foi encabeçada pelo cantor e compositor Edil Pacheco e pelo escritor e poeta Clarindo Silva. No local, a música foi feita por artistas como Muniz do Garcia, Guiga de Ogum, Almir do Apache, Chocolate da Bahia e Gal do Beco.    Durante a comemoração, que começou por volta das 11h e seguiu pelo resto do dia, os sambistas cantavam com muita alegria, homenageando Paulinho Camafeu, Firmino de Itapuã, Moraes Moreira e Riachão. O público, por sua vez, recebeu calorosamente os artistas presentes no local, sabiam cantar todas as letra tocadas, acompanhando o ritmo das canções com palmas e muito samba no pé. Edil Pacheco explicou que não teria a festa, mas que decidiu realizar a celebração de última hora e até mesmo sem dinheiro.    “No ano passado, não tivemos devido a covid-19. Esse ano, a praça em que fazíamos, Caramuru, não foi liberada. Para não deixar de fazer, organizamos aqui, na Cantina da Lua. Hoje, é a 48° edição do Dia do Samba e está tudo muito lindo aqui”, contou o sambista. Sobre os artistas homenageados, Edil Pacheco disse que são pessoas da tribo do samba. “Todo mundo tem uma sintonia com o samba e eu fico muito contente de estar aqui, nesse lugarzinho especial que é a Cantina da Lua, fazendo um samba com todas as pessoas maravilhosas que estão aqui. O samba já corre na veia do brasileiro, na do baiano mais ainda”, declarou.    Em 2019, a 47° edição da festa do Dia do Samba precisou ser adiada e aconteceu somente no dia 7 de dezembro, na Praça Caramuru, no Rio Vermelho. Assim como na última edição, este ano aconteceu um revezamento entre os cantores no palco, que entoaram grandes sucessos dos sambistas baianos. Pacheco acompanha o Dia do Samba desde sua criação. Nos primeiros anos, como cantor, trazia um samba muito ligado às marchinhas de Carnaval e que, até hoje, servem de base para outros ritmos baianos. De 1987 pra cá, ele passou a produzir a festa.   Clarindo Silva, dono da Cantina da Lua, afirmou que o Dia do Samba é um dia histórico de muita emoção. “Esse ano não ia ter nada na Bahia, que é o quartel general do samba, aqui nasceu o samba, aqui é o berço cultural desta nação. Eu disse não, nós vamos fazer. Fizemos, trouxemos a cidade para o Pelourinho, para mostrar a grandiosidade desse lugar. Qualquer parte do mundo que a gente chega, que falamos do Pelourinho, as pessoas se emocionam”, relatou o poeta.    De acordo com Clarindo, o Pelourinho e a Bahia como um todo são lugares mágicos onde nasceu o samba e, por isso, o dia 2 de dezembro não poderia passar em branco. “Eu sempre me emociono quando falo do Pelourinho, acredito que eu tenha uma ligação espiritual com esse lugar, precisamos nos apropriar disso aqui”, disse o escritor. Ele aproveitou, também, para fazer um apelo à Secretaria de Cultura de Salvador e da Bahia para que se crie uma verba específica somente para celebrar o Dia do Samba. “Por aqui passaram grandes artistas. Eu me pergunto como que a cidade da música não prestigia, não valoriza e não engrandece o samba. A cidade merece uma casa de samba no centro histórico, precisamos mostrar que o Pelourinho é viável. É importante termos a sensibilidade que é possível preservar, porque o povo que não preserva o passado, não vive o presente e jamais poderá construir um belo futuro”, concluiu.    O cantor Chocolate da Bahia afirmou que viu Edil Pacheco organizando a festa com muito esforço com Clarindo Silva e agradeceu: “é muito importante essa celebração para o tanto de gente que temos aqui, que são viciados nessa droga que é o samba. ‘Hoje acordei cantando samba, um samba que me fez lembrar de alguém, lembrei da rainha brasileira, que sambou como ninguém, ê baiana, saudade desse povo que te ama’", cantou o sambista.  Segundo o artista, é obrigação do povo homenagear aqueles que já se foram.    “Quando os amigos saem deste planeta e vão para outro, é um dever do nosso coração preservar a memória deles com a gente. Eu faço isso lembrando verdadeiramente dos nossos momentos felizes juntos. Eu com Firmino de Itapuã viajando a Bahia inteira, inaugurando a Cesta do Povo, quando eu cantava 'Viva a Cesta do Povo! Viva! Dá um viva de novo'”, cantou. “O samba é imortal, com o Dia do Samba ou sem, o samba está no pé, na boca e no coração do povo”, finalizou.    Considerado uma das maiores referências da história e da cultura do samba de Salvador, o sambista Guiga de Ogum também marcou presença no local. “Para mim é maravilhoso estar aqui entre esses baluartes do samba. É muito bonito comemorarmos o Dia do Samba, apresentar nosso trabalho, ser mais reconhecido e se aproximar de outros artistas”. O cantor ainda relembrou de Paulinho Camafeu, um dos homenageados, que faleceu na última terça (30). “Paulinho Camafeu é um dos ícones da música, foi muito meu amigo. A morte é continuação da vida, não podemos achar ruim, a gente sente, mas ele está registrado na nossa memória, assim como os outros. Temos que nos homenagear quando eles estão vivos e preservar o trabalho deles depois da morte”, declarou o sambista.    O coletivo É Samba da Bahia, que atua na valorização e difusão do samba produzido no Estado da Bahia, também estava presente no local. Dois de seus representantes, Maria Pinheiro e Everton Marcos, afirmaram que a importante tradição carnavalesca de Salvador, que revelou grandes nomes como Nelson Rufino, Walmir Lima, Ederaldo Gentil e Guiga de Ogum, teve pouco destaque na indústria fonográfica até o presente momento, sobrevivendo principalmente na memória de velhos sambistas da cidade.   Para trazer às novas gerações este escondido tesouro musical, o coletivo criou o projeto “Sambas-enredo da Cidade da Bahia - Registro de Memórias”, que já está disponível nas plataformas digitais. Na produção, estão presentes como intérpretes nomes consagrados no cenário artístico nacional como Walmir Lima e Edil Pacheco, bem como sambistas de relevo da cena local como Guiga de Ogum, Paulinho do Reco, Muniz do Garcia, Jorginho Commancheiro, Almir do Apache e Luiz Bacalhau. 

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo