Dinheiro do futuro e de hoje: por onde andam os bitcoins?

Diretor e Educação e Tecnologia da DD Education, Thiago Avancinni, defende popularização do uso do bitcoin no Brasil

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  • Monique Lobo

Publicado em 10 de outubro de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto; Marina Silva/ CORREIO

Falar sobre criptomoedas no Brasil é como falar grego. Pudera, em um país que não tem uma cultura de educação financeira e ainda está distante da inclusão digital, uma moeda que usa a tecnologia da criptografia em suas transações parece coisa de outro mundo. Mas não é. As criptomoedas fazem parte das transformações que a tecnologia tem inserido na vida das pessoas. No entanto, a falta de conhecimento sobre seu uso e funcionamento gera preconceito e resistência muito grande aqui no país.

No caminho contrário, o diretor de Educação e Tecnologia da DD Education, Thiago Avancinni, trava uma batalha para contribuir com a popularização dessas moedas no Brasil. Em sua palestra no Fórum Agenda Bahia, Thiago apresentou um panorama da mais famosa delas: o Bitcoin. Lançada em 2008, por programadores que estão anônimos até hoje.  

“Em dez anos, o blockchain [do Bitcoin] nunca foi corrompido. Não há como desligar o sistema. A quantidade de terahash que roda é centenas de milhares vezes maior que a dos servidores do Google, para se ter uma noção”, contou. Ou seja, segundo ele, esse é um sistema seguro. Seguro e transparente pois seu sistema registra todas as transações em um banco de dados ao qual todos os usuários têm acesso. “Desde 2009, você tem todas as transações registradas nessa espécie de livro razão, um livro público. Ele é imutável”, explicou.

Mas se é seguro e transparente, porque a moeda ainda gera tanta desconfiança? Para Thiago, dois fatores tem contribuindo para essa resistência. O primeiro deles é que se trata de uma tecnologia nova e por isso gera estranhamento.  O segundo fator é próprio da história da moeda digital.  Ele revelou que, desde o lançamento, o Bitcoin passou por diversas visões de mercado. A primeira delas foi de expectativa, o mercado queria entender se ela iria superar os problemas que outras moedas digitais enfrentaram.  

Em seguida, o mercado passou a vê-la como uma alternativa barata. “Isso chegou a um problema maior em 2017, quando a gente teve o boom no mercado de criptoativos, quando grandes investidores entraram no mercado, todas as métricas estavam em alta, o Google Trends acusando o Bitcoin como o principal ativo no meio digital”, destacou Thiago.

“Entre 2010 e 2018, o Bitcoin  passou a ser visto como uma moeda anônima da deep web ou dark net que era usada pra financiar drogas, armas e conteúdo ilícito. Até hoje, ainda tem muita gente que considera isso”, contou. Essa corrente de pensamento foi a principal responsável pela disseminação do preconceito. 

Moeda digital

E para quebrar o preconceito, isso só há um caminho: a educação. “Eu acho que o primeiro passo para desmistificar tudo isso é a educação. A gente conseguir falar cada vez mais sobre essa tecnologia", 

Outro ponto que Thiago enfatizou é relacionado ao direito de escolha. Para ele, o Bitcoin está aí para permitir a todos escolherem como querem pagar suas coisas e não ser obrigado a usar uma moeda estatal.

“A moeda digital nos dá o poder, enquanto consumidores, de escolha. Por que nós somos obrigados a usar uma moeda estatal que tem leis de curso forçado? Por que o governo nos impõe que os impostos só possam ser pagos em uma moeda estatal? Não, eu acho que esse deve ser um direito de escolha de qualquer um”, afirmou.

Para o diretor de Educação e Tecnologia da DD Education, o Bitcoin nada mais é do que uma moeda com transferências rápidas entre fronteiras e com custos reduzidos. “Hoje, eu considero um ativo final de liquidação para pagamentos entre continentes. É uma reserva de valor resistente como o ouro”, apontou.

Por não ter uma administradora central, o valor do Bitcoin não pode ser manipulado por alguma autoridade financeira ou governamental ou ser induzido a inflação com a produção de mais dinheiro.

Aqui no Brasil, segundo Avancinni, a criptomoeda já está presente em vários lugares. “Tive uma reunião com a Indiana Veículos e eles já tem a ideia de vender seus veículos por Bitcoin. Existem vários projetos. Tem classificados que se você abrir você acha pessoas querendo comprar carro em São Paulo com Bitcoin. No Rio de Janeiro já te casas e apartamentos que aceitam pagamento em Bitcoin. Aqui em Salvador também tem pizzarias que aceitam a criptomoeda. A Canaã Alimentos também aceita”, indicou . 

Para ele, é uma questão de tempo para que a Bitcoin se insira no cotidiano. “É uma tecnologia que está ao nosso benefício, não podemos deixar de aproveitá-la”, concluiu Avancinni.

O Fórum Agenda Bahia 2019 é uma realização do CORREIO, com patrocínio da Sotero Ambiental, apoio institucional da Prefeitura de Salvador, Federação das Indústrias da Bahia (Fieb) e Rede Bahia e apoio da Braskem e DD Education. 

DICIONÁRIO DO BITCOIN

Criptomoeda: é um meio de troca que utiliza as tecnologias da criptografia e de blockchain para validar as transações e criar novas unidades de moeda. As criptomoedas podem utilizar sistemas centralizados ou descentralizados.

Blockchain:é uma espécie de grande “livro contábil” que registra vários tipos de transações e possui seus registros espalhados por vários computadores.

Bitcoin:  é uma criptomoeda descentralizada para transações peer-to-peer lançada em 2008. Permite transações sem intermediários que podem ser verificadas por todos os usuários através do blockchain.

Peer-to-peer: sistema de dinheiro eletrônico ponto-a-ponto, é um conjunto de redes de computadores em que cada ponto funciona tanto como um cliente quanto como um servidor

Altcoin:  criptomoedas alternativas ao Bitcoin.

Mineração:  é o processo de adicionar registros de transações ao blockchain do Bitcoin

Smart Contract:  traduzido do inglês para contrato inteligente, é um código de computador autoexecutável feito para facilitar, firmar e assegurar operações financeiras no blockchain.