Diretor do Hospital das Clínicas aciona a justiça para permanecer no cargo

Comando da unidade está sendo alvo de disputa desde a eleição de 2018

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  • Gil Santos

Publicado em 24 de maio de 2021 às 14:37

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arquivo CORREIO

A eleição para nova direção do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes), que há mais de dois anos vem sendo alvo de disputa, teve início na semana passada, mas pode ser novamente paralisada. É que o atual diretor da unidade, Antônio Carlos Moreira Lemos, acionou a justiça para permanecer do cargo, e servidores que não têm poder de voto estão cogitando entrar com pedido para poder participar do pleito.

A eleição para escolha do novo superintendente aconteceu em dezembro de 2018, e deu vitória ao diretor que já estava no cargo, Antônio Carlos Lemos. A gestão seria até dezembro de 2022, mas o pleito foi contestado. O caso foi parar na Comissão de Normas e Recursos do Conselho Universitário (Consuni) e, em novembro do ano passado, os conselheiros decidiram anular a eleição, por nove votos a um.

Em dezembro de 2020 e em abril deste ano, a reitoria cobrou que a direção do hospital fizesse nova eleição, sem sucesso. Até que em maio, o superintendente Antônio Carlos Lemos e a gerente de Atenção à Saúde do Hupes Valdira Gonzaga Rodrigues acionaram a 6ª Vara Civil do Tribunal Regional da 1ª Região solicitando a permanência deles nos cargos até o final de 2022, alegando que a Procuradoria Geral não encontrou irregularidades no pleito realizado em 2018.

O CORREIO procurou o superintendente e o Hupes, mas eles não se pronunciaram.

A Universidade Federal da Bahia (Ufba) também não quis comentar o caso.

Despachos A disputa corre em rodas de cochichos e ninguém quer falar abertamente sobre o assunto. Um médico opinou. “A justiça precisa verificar com atenção o que está acontecendo para evitar injustiças dos dois lados, e colocar sempre em primeiro lugar o interesse da sociedade”, disse.

Em 28 de dezembro de 2020, um despacho assinado pelo reitor da Ufba, João Carlos Salles, comunicava à direção do Hupes o resultado da análise da comissão feita no mês anterior, sobre o pleito de 2018, e determinava a realização de novas eleições. O CORREIO teve acesso ao documento.

“Solicitamos ao Conselho Gestor do Hupes providências para a realização, com maior brevidade possível, de consulta à Comunidade para escolha do nome que será encaminhado pela Reitoria da UFBA à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) para o cargo de superintendente do Hupes”, afirma o despacho.

Desde então, era aguardada uma nova eleição. Em janeiro, o CORREIO procurou a Universidade para comentar o caso, que afirmou, em nota, que a gestão de Lemos não foi alvo de questionamento, e, sim, a eleição.

A resposta dizia também que o professor Lemos não concorreria no próximo pleito e que, por isso, o reitor decidiu pela manutenção dele no cargo “durante o curto período de transição, dada a ausência, até o momento, de indicação de um nome alternativo pela comunidade, uma vez que todo o processo anterior de consulta foi anulado”, dizia a nota. E conluia afirmando que a reitoria sabia da responsabilidade do cargo e que o interesse da população estava acima de qualquer disputa interna.

A eleição não ocorreu, e em 28 de abril, um novo despacho do reitor cobrou novamente da direção do Hupes a realização do pleito. Em maio, o processo teve início, mas, em seguida, houve o pedido de tutela recursal do superintendente para permanecer no cargo. Dessa vez, a Ufba não quis comentar o caso.

Eleição No dia 11 de maio houve votação para eleição dos servidores que irão compor a comissão que irá conduzir o processo eleitoral, e surgiu um novo impasse. O Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Federal no Estado da Bahia (Sintsef), que representa cerca de 3 mil servidores que atuam no Hupes e na Maternidade Climério de Oliveira está reivindicando poder de voto para a categoria.

A pauta será apresentada em assembleia na próxima semana. Caso ela seja aprovada, o Sindicato vai formalizar o pedido e isso pode paralisar o processo eleitoral que acabou de começar. Na última eleição eles também cogitaram fazer o mesmo pedido, mas desistiram para não protelar o pleito. Em nota, o Sindicato diz ser favorável ao pedido.

“O Sintsef-BA julga ser importante garantir a participação de todos os trabalhadores e trabalhadoras nas decisões que definirão o futuro da gestão do complexo hospitalar. A representação nas reuniões do Conselho visa estimular e implementar a organização da categoria a partir do local de trabalho”, diz a nota.

A categoria fez uma paralisação no começo do mês cobrando mais insumos e equipamentos de trabalho, e reajuste salarial. No final do ano passado, o CORREIO mostrou as dificuldades pelas quais a unidade tem passado. O Hospital das Clínicas, como também é conhecido, é administrado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).