Discórdias e amores do Flamengo

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  • Paulo Leandro

Publicado em 27 de outubro de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Explicar a popularidade do Flamengo vai muito além do alcance do rádio esportivo ou do sucesso das temporadas, como se chamavam as excursões dos clubes mais divulgados a municípios do interior ou às cidades litorâneas, com a realização de jogos seguidos contra times locais.

Também seria insuficiente lembrar a origem do futebol do Flamengo, depois da cisão com o Fluminense, embora o fato de os jogadores treinarem nas praias e em terrenos baldios tenha aproximado estes pioneiros de seus primeiros torcedores, pois não era difícil encontrá-los nas ruas, enquanto os outros clubes tinham seus estádios.

Tampouco poderia sustentar a compreensão da torcida gigantesca a identificação com as gerações herdeiras da desigualdade social, proveniente da abolição sem amparo para os ex-escravizados, daí ter sido o clube, em oposição ao Flu da elite, abraçado pelos afro-brasileiros, tomando o urubu como ave-símbolo, dotada de plumagem negra retinta e voo esplendoroso.

No entanto, juntando as peças, um pouco de cada capítulo, dá para tentar entender a força popular, impulsionando o poder de mercado, capaz de transformar o Flamengo, de um clube de futebol, em projeto político e de consumo, contrapondo as antigas diretrizes do desporto, hoje em flagrante desgaste.

Misturando interesses distintos aos regulamentos, por sua utilização para objetivos estranhos, surgem facilmente as polêmicas, associando-se o famoso rubro-negro a supostos ardis, visando beneficiá-lo, pois seu sucesso representa lucro para investidores e oportunidade de deslocamento de seu perfil de “mais querido” para lideranças de valores morais questionáveis.

Por isso, dá tanto problema quando o Flamengo é supostamente ajudado, como teria ocorrido no jogo de ida, pela Copa do Brasil, diante do Atlético Paranaense, quarta-feira passada, enxergando-se um impedimento clamoroso, invisível aos olhos mecânicos do VAR, além do pênalti, nos acréscimos, para muitos marcado com boa vontade pelo senhor juiz.

Diante do empate, conquistado de um jeito ou de outro, em Curitiba, ficam os flamenguistas mais próximos de alcançar a decisão contra o Atlético Mineiro, também provável finalista depois de golear o Fortaleza, por 4x0, mexendo, assim, com a memória ancestral, o confronto entre as duas aves, o Urubu e o Galo.

Classificado o Flamengo, ao confirmar a vaga, eliminando hoje o Atlético do Paraná, virá na sequência o adversário historicamente ferido pelas derrotas do comecinho dos anos 1980, quando o Atlético Mineiro, liderado por Reinaldo, teria sido garfado nos épicos duelos contra o timaço comandado por Zico.

O sobrenome Wright, associado ao apito generoso, representa a lembrança das divergências, por seu protagonismo, especialmente no jogo encerrado antes da hora, por excesso de atleticanos expulsos, no confronto suspenso no gramado do Serra Dourada, em Goiânia.

Reacende-se a polêmica de o quanto se pode duvidar da superioridade técnica de um clube popular capaz de produzir sucesso de vendas e votos, ou se há boas razões para levar em alta conta as intrigas relacionadas ao Flamengo, aumentando a temperatura dos intermináveis debates, capazes de fazer pessoas ditas de bom senso perderem subitamente o humor e a educação.

Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade