Do Instagram para o Brasil: conheça a ilustradora de Cabuçu que desenha mulheres nordestinas

Suzane Lopes, que hoje mora em Simões Filho, já foi até escolhida para publicidade de marcas nacionais

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  • Thais Borges

Publicado em 3 de janeiro de 2021 às 10:59

- Atualizado há um ano

. Crédito: Suzane representou as mulheres nordestinas para a campanha digital da Nivea (Imagem: Suzane Lopes/Reprodução)

Desde a infância, a designer Suzane Lopes, 31 anos, esteve rodeada de mulheres. Das memórias da avó e da mãe nos primeiros anos em Cabuçu, litoral de Saubara, no Recôncavo, até vir morar com a madrinha em Salvador, ainda criança, ela atribui sua criação às mulheres. Assim, foi natural que Suzane acabasse indo por esse caminho na vida profissional. “Minha criação me levou à poética feminina. Sempre gostei de desenhar e, em 2013, começo como ilustradora”, diz ela, que está concluindo o curso de design gráfico pela Universidade do Estado da Bahia (Uneb). 

 No Instagram, um dos canais onde expõe seu trabalho, ela comanda a página @movimento1989.  “Eu queria escrever e a maioria dos meus desenhos vêm com um textinho. Na adolescência, entrei de Filosofia na Ufba, mas logo percebi que estava pegando mais matérias na Escola de Belas Artes do que na Filosofia”, lembra.  Suzane começou com a Movimento 1989 em 2013 (Foto: Jadson Carvalho/Acervo pessoal) "Era uma forma de me expressar. Eu queria escrever e a maioria dos meus desenhos vêm com um textinho. Isso me ajuda a compor. Na adolescência, entrei no curso de Filosofia na Ufba, mas logo percebi que estava pegando mais matérias na Escola de Belas Artes do que na Filosofia. Percebi que a ilustração dialogava comigo", lembra.  Em seus trabalhos, ela aborda temas como a poética das mulheres (Imagem: Suzane Lopes/Reprodução)

Seja uma frase ou um texto mais longo, esse será o ponto de partida para a ilustração. Como a ilustração é digital, Suzane usa programas como Adobe Illustrator e Photoshop. 

Em poucos anos, o trabalho de Suzane foi além de seus próprios perfis em redes sociais. Em agosto, ela foi uma das cinco artistas do Norte e Nordeste escolhida pela Nivea para retratar a nova campanha digital da marca, direcionada para as mulheres dessas duas regiões. 

Na obra, desenhou uma mulher negra vestindo branco e com folhas de arruda ao lado do cabelo. A inspiração veio da tríade de mulheres de sua vida: a avó, a madrinha e a mãe. A avó foi rezadeira. "Foi algo muito simples, muito real, nada mirabolante. São essas mulheres que me inspiram. Minha família é de umbanda, mas, mesmo antes, sempre teve isso de vestir branco, de colocar dente de alho macho para proteger. Quando entrei na universidade, entendi que tudo isso era resistência, mas sempre foi algo natural para mim. Quando era criança, achava que todo mundo fazia aquilo em suas casas", conta a designer. Assim, o primeiro trabalho para a Nivea acabou sendo uma ilustração sobre o São João. A ideia era que ela representasse a festa daqui para uma digital influencer do Norte do Brasil conhecer as tradições nordestinas.  Para o São João, foi convidada pela Nivea para apresentar a festa nordestina ao Norte do Brasil (Imagem: Suzane Lopes/Reprodução) Aos poucos, o perfil dos clientes tem mudado. Antes, a maioria era de amigos . Hoje, ela já ilustrou reportagens e capas de livros de autores baianos, como Matheus Peleteiro e Daiane Costa. Ela tem sido responsável por ilustrar capas de livros de autores baianos (Imagem: Suzane Lopes/Reprodução) A literatura, inclusive, também é uma inspiração, com obras de escritoras como Carolina de Jesus e Djamila Ribeiro. No ano passado, a colunista Vanessa Brunt, do CORREIO, já tinha listado Suzane entre cinco ilustradores baianos indicados para acompanhar pela internet.  A obra de Conceição Evaristo também é uma de suas inspirações (Imagem: Suzane Lopes/Reprodução) Há seis anos, Suzane vive em Simões Filho, com oito cachorros, oito gatos, 14 peixes e a galinha Margareth. Ela decidiu se mudar em busca de mais qualidade de vida. Por isso, a maior saudade atualmente é da madrinha, que continua morando na capital. As duas não se veem desde o começo da pandemia.  "Moro com minha tia desde os três anos de idade porque tinha um problema de saúde. Nasci com broncopneumonia e asmática, com poucas perspectivas para viver. Tinha que ir toda hora para o hospital, por isso, era melhor ficar em Salvador", explica. Apesar de todas as lembranças serem da Bahia, Suzane nasceu em Goiânia. Baiana, sua mãe tinha viajado para lá, apaixonada por seu pai. “Ela me teve lá, mas sofreu vários abusos e voltou para Cabuçu. Então, com um mês de vida, fui para lá”, completa.   

  (Imagem: Suzane Lopes/Reprodução) Além do trabalho com a Movimento 1989, Suzane é designer de uma empresa. Lá, trabalha “das 8h às 18h”. As ilustrações são feitas à noite. 

“Às vezes, a gente não entende esse processo. É importante não romantizar. Nesse tempo todo trabalhando, só consegui comprar uma mesa digitalizadora, que é um equipamento básico para ilustração, recentemente. Viver de arte sempre é muito difícil”, destaca.