Do Teatro São João ao Palácio dos Esportes: construções são portal na Rua Chile

Inaugurado em 1812, o Teatro São João, primeira casa de ópera do Império, foi destruído por incêndios em 1923; no lugar, erguido o prédio conhecido hoje como Palácio dos Esportes

Publicado em 1 de novembro de 2020 às 07:00

- Atualizado há 10 meses

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Palácio dos Esportes, na atual Praça Castro Alves, em 1980 (Foto: Gago/Arquivo CORREIO) As escavações para as obras da Praça Castro Alves revelaram, recentemente, parte da fachada e escadarias do antigo Teatro São João. No passado, aquele mesmo lugar se chamou Largo do Teatro, uma homenagem ao que foi uma das principais casas de ópera do Império, a primeira do Brasil. Hoje, 97 anos após o incêndio que destruiu a construção, inaugurada em 1812, é o prédio conhecido como Palácio dos Esportes que ocupa o espaço, um ícone da arquitetura da década de 1930.

Segundo o historiador Rafael Dantas, que estuda a iconografia da cidade nos séculos XIX e XX, o Teatro São João e a região do largo que levava seu nome eram “rota obrigatória para soteropolitanos e estrangeiros que passavam por Salvador”."Por ali passaram Charles Darwin, Pedro II e outros tantos ao longo do século XIX... Nesse mesmo espaço, séculos atrás, tínhamos uma região de ocupação tupinambá e depois, no decorrer do século XVI e XVII, lugar de uma das portas de entrada para a capital da América Portuguesa, Salvador", explica Rafael.O antigo Teatro São João foi inaugurado em 1812. Em 2017, a historiadora Maria Antonia Lima Gomes contou em entrevista à repórter Thais Borges da importância do Teatro para a época. Maria Antonia criou um museu virtual em 3D do São João:“Embora tenha sido um projeto de uma classe senhorial que existia na época, o teatro, com o tempo, acabou refletindo toda a questão cultural de Salvador, tudo que vinha do caldeirão cultural que nós somos. O Lundu (gênero musical que deu origem ao samba) saiu das ruas, por exemplo, e foi para dentro do teatro”, disse, em 2017.O São João foi também palco de eventos abolicionistas em Salvador. Em um artigo publicado em 2013, o historiador Ricardo Tadeu Caires Silva conta que, em março de 1884, o Teatro São João abrigou uma "festa abolicionista" para comemorar a emancipação dos escravos na província do Ceará. A festa foi promovida pela Sociedade Libertadora Bahiana. Em 1885, a presidência da província autorizou que a mesma Libertadora Bahiana promovesse no São João uma festa para celebrar o aniversário da Lei do Ventre Livre, de 1871.

Em abril de 1888, o teatro, que tinha sido inaugurado em 1812 para celebrar o aniversário de Dom João VI, foi palco de um discurso de Rui Barbosa, chamado "Aos Abolicionistas Baianos". O evento tinha sido, mais uma vez, organizado pela Sociedade Liberdadora Bahiana e por outras organizações.

Em 1923, o teatro foi ao chão. Dois incêndios destruíram totalmente a construção pouco mais de um século depois da inauguração, mas há registros que ainda mostram como era a região com o Teatro São João ainda de pé. É o caso desta imagem de 1865, do acervo do Instituto Moreira Salles: Largo do Teatro e Teatro São João, Salvador, em 1865 (Imagem: Camillo Vedani/Coleção Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles) Hoje, no lugar do São João, está o prédio conhecido como Palácio dos Esportes, que também foi sede da Secretaria de Agricultura do Estado. Do outro lado, a antiga sede do jornal A Tarde, hoje Hotel Fasano, completam o cenário na região.

A foto desta semana, registro de Gago, para o CORREIO, em 1980, tem outros elementos."Os dois prédios formam um portal que revela a Rua Chile, antiga Rua dos Mercadores e Rua Direita do Palácio. O Prédio do Palácio dos Esportes expõe em sua fachada alegorias em alusão à agricultura e à indústria. Outro destaque que aparece tímido na foto da década de 1980 é o Edifício Bráulio Xavier, imponente marco modernista que foi construído no lugar do antigo Hotel Meridional, próximo ao antigo Palace Hotel", analisa Rafael Dantas.A região, aponta o historiador, sempre foi um lugar de passagens, de encontros. Na foto, observa, há um vaivém de pessoas, de carros estacionados e táxis subindo e descendo em direção ao Centro Antigo. "Uma Salvador que nessa época tinha uma população superior a 1,5 milhão de habitantes, concentrando nessa região, na Avenida Sete de Setembro e Comércio suas principais atividades socioeconômicas", explica.