Dois relógios para uma só vida: Agenda Bahia apontou trilhas para o futuro no Tempo 21

Evento foi transmitido nesta quinta-feira (28); reveja o programa

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  • Daniel Aloísio

Publicado em 29 de outubro de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

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O mundo não será mais o mesmo quando a pandemia acabar. Preservação ambiental, inclusão, diversidade, desenvolvimento local e boas práticas de governança são só alguns dos pilares sobre os quais a sociedade, empresas e organizações construirão o futuro, que já está acontecendo. Ao mesmo tempo, é preciso desacelerar o ritmo da vida, se reconectar com a natureza, com a respiração, focar na saúde e no bem-estar. Como se houvesse dois relógios marcando o tempo de uma só vida. Um acelerado, para cuidar do planeta, e outro mais lento, para as pessoas cuidarem de si e das outras.

A 12ª edição do Agenda Bahia, realizada na noite dessa quinta-feira (28), reflete essa nova realidade a partir do tema principal ‘Tempo 21 – O que foi ressignificado para você?’. Ao todo, 11 especialistas da Bahia, do Brasil e de fora do país refletiram sobre que tempos são esses que a humanidade vive, apontando tendências e rumos em diversos segmentos, dos negócios à educação. Oito trilhas nortearam os quatro debates do evento. Este ano, o Agenda Bahia teve um formato inovador, um programa de entrevistas que foi exibido no Youtube e nas redes sociais do CORREIO (@correio24horas).

“Nós vamos juntos por caminhos que nos levem para uma nova realidade, em que cooperar, inovar e ressignificar deixam de ser apenas palavras para se tornarem posturas de vida”, afirma a apresentadora do Programa Agenda Bahia 2021, Rosana Jatobá, que é jornalista especializada em sustentabilidade e na agenda ESG (ambiental, social e de governança corporativa).“Essa é uma sigla em inglês que significa as melhores práticas sociais, ambientais e de governança, e que virou um mantra do mercado financeiro e setor empresarial”, explica. Rosana, a responsável por conduzir todos os debates do programa. No primeiro deles, “O criar nos novos tempos”, os entrevistados debateram como o criar, o incluir e o educar podem transformar a realidade de desigualdade social que foi ampliada pela pandemia.

“Hoje, algumas empresas já não solicitam mais o nível superior para algumas funções. Você conseguir gerenciar uma crise, ter uma linguagem inclusiva e trabalhar de forma colaborativa traz muito mais impacto do que um estudo profundo dentro de uma matéria”, aponta Demetrio Teodorov, futurista e estrategista. Ele discutiu as mudanças no ambiente de trabalho com Karine Oliveira, criadora da Wakanda Educação Empreendedora, o cineasta norte-americano David A. Wilson, e a fundadora e presidente executiva da S'well, Sarah Kauss.  

Sarah, inclusive, também é especialista na agenda ESG e apontou quais são os pontos de atenção que uma empresa deve ter para enfrentar os novos tempos.“Questões sociais, que vão desde o tratamento dos colaboradores, diversidade, equidade, programas de inclusão, injustiça racial, além de outros aspectos, vem ganhando maior visibilidade e são vistos como fundamentais. Isso é bastante positivo para os negócios e nos força a pensar de forma mais holística”, enumera.   Responsabilidade social

Para os especialistas, o momento pede - e as empresas mais antenadas já perceberam - que as organizações não devem buscar apenas o lucro. A responsabilidade social é algo que precisa estar presente nos negócios. ”Na Wakanda, como a gente nasce como um negócio de impacto social, muito antes de o termo ESG estar popularizado, a gente já conseguia fazer isso na prática. A economia solidária sempre trabalhou esses princípios. O que eu deixo de dicas para as grandes empresas é que, para tudo isso acontecer, tem que ser de cima para baixo. Os gestores e líderes precisam adotar essas práticas”, defende Karine.   Já David A. Wilson destacou a importância da diversidade nas empresas: “Não tem a ver apenas com vender o seu produto para os indivíduos, mas também como você se conecta com os indivíduos, entendendo suas necessidades, e como pode melhorar suas vidas. Uma das coisas que fazemos com nossos clientes é liderar pesquisas para entender quais são alguns dos problemas sociais, políticos e econômicos que eles enfrentam. É importante para as empresas tentar melhorar a vida dos seus clientes”.  

Educação ressignificada

Não são apenas as empresas que precisam se reinventar. No segundo debate, “O aprender no tempo 21”, um exemplo baiano de nova forma de educação foi apresentado. Trata-se da escola Afro-brasileira Maria Felipa, idealizada pela professora Bárbara Carine. O centro de ensino adota um currículo decolonial, que estrutura as unidades com base em eixos temáticos que abordam transversalmente as questões não apenas oriundas do que é europeu, mas também indígena e africano.   “A ideia não é jogar na lata do lixo ou descartar a contribuição europeia, mas ressignificar o espaço escolar como um espaço de diversidade, de múltiplas vivências. A gente quer dizer que não são só as pessoas brancas que têm uma ancestralidade potente”, explica Bárbara. A apresentação da escola foi elogiada pelo professor de inovação e empreendedorismo Marcelo Nakagawa. “Eu fiquei fascinado com o trabalho da Bárbara, pois representa diversas novas tendência do empreendedorismo. Primeiro o empreendedorismo feminino. Depois, a inovação. Ela propõe uma nova lógica de aprendizado. E tem a questão do propósito. Não é só ganhar dinheiro. É empreender pensando que se tem um grande propósito para realizar”.   

O apresentador da série Mundo Mistério, da Netflix, e do canal Nostalgia, no YouTube, Felipe Castanhari, também foi convidado para abordar seu trabalho. “Meu conteúdo sempre teve a preocupação de ser simples e fácil de entender enquanto precisava entreter. O entretenimento ajuda a trazer a informação para as pessoas”, defende.   

Cidades reinventadas Já em “O viver [re]planejado”, o tema do terceiro bloco de debates do Agenda Bahia 2021, o professor Nivaldo Andrade, coordenador do programa de pós-graduação da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e ex-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), falou da importância da reinvenção das cidades devido à pandemia. “Os espaços públicos foram esvaziados. Essa é a oportunidade de o soteropolitano voltar a frequentar esses locais, voltar a estar nas áreas centrais da cidade. A cidade ideal é aquela em que todos têm a mesma oportunidade”.Desacelere-se Ainda no terceiro debate, Carlos Cadena-Gaitan, ex-secretário de Mobilidade de Medellín (Colômbia), e Rachel Biderman, vice-presidente sênior das Américas da Conservação Internacional, trouxeram uma reflexão sobre o tempo.“Em plena pandemia, nós nos demos conta de que o tempo é o que precisamos transformar na nossa cidade. Eu me refiro ao ritmo da cidade que nós desejamos, que deve ser cada vez mais lento e tranquilo. Isso implica em cidades mais humanas, caminháveis e aproveitáveis”, enumera Cadena. Rachel Biderman pôde presenciar o exemplo colombiano na prática. “Eu voltei da Colômbia faz 10 dias. Visitei o litoral, estive em Cartagena e aprendi com os colombianos, em particular com os indígenas, a importância desse ritmo lento que o Cadena nos traz. É o que precisamos enquanto humanidade para cuidar dos desafios das mudanças climáticas, respeitar o ritmo da natureza e até da nossa respiração”, defende.   

Com a provocação por uma vida menos corrida é que se iniciou o quarto e último debate do evento, “O futuro através do sonhar”. Nesse bloco, o neurocientista, professor e escritor Sidarta Ribeiro explicou como resgatar a arte de sonhar é essencial para construir o futuro. Não se trata do sonho enquanto desejo, mas do ato prático durante o sono.   “Na nossa sociedade, o sonhar está quebrado e destruído, pois o sono está em extinção. As pessoas não dão valor ao próprio sono, tem mau-humor ou dificuldade cognitiva quando despertam e isso gera uma bola de neve”, diz.Para o especialista, o sonho é importante por gerar imagens que condensam os desejos e medos de cada um. “A maior parte das pessoas não lembra dos que sonha, pois desperta muito rápido e sai da cama rapidamente”, acrescenta. 

Para o futuro, o especialista diz sentir uma espécie de ‘otimismo apocalíptico’. “Penso que a gente tem jeito. Resgatar uma qualidade de sono, com alimentação adequada e exercícios físicos é a base da saúde. Mas, se a gente olhar para o planeta, as coisas estão melhorando muito para a minoria e piorando muito para a maioria. Isso significa a vitória de sonhos muito egoístas”, finaliza.   

O programa completo têm duas horas e está disponível no canal do CORREIO no Youtube ou no perfil do Instagram @correio24horas:

Visite o site http://bit.ly/agendabahia21 para conferir mais informações sobre o projeto. O Agenda Bahia 2021 é uma realização do CORREIO, com patrocínio da Unipar, parceria da Braskem, apoio da Sotero Ambiental, Tronox, Jotagê Engenharia, CF Refrigeração e AJL Locadora e apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador, Sistema FIEB, Sebrae, Rede Bahia e GFM 90,1.