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Da Redação
Publicado em 16 de março de 2020 às 19:15
- Atualizado há 2 anos
O dólar fechou pela primeira vez um pregão acima de R$ 5,00, influenciado pelo novo dia de estresse no mercado financeiro mundial em meio ao avanço da pandemia do coronavírus, levando cada vez mais países a fecharem fronteiras. O clima ruim entre o governo e o Congresso e a perspectiva de que o Banco Central deve cortar os juros de forma agressiva esta semana levam algumas casas, como UBS e Asa Bank, a prever redução de até 1 ponto porcentual na taxa básica, a Selic. O real foi, junto com o peso mexicano, a moeda com pior desempenho hoje no mercado financeiro internacional.>
No mercado à vista, o dólar fechou a R$ 5,0523, em alta de 4,90%, a maior variação porcentual desde a delação do empresário Joesley Batista, em 18 de maio de 2017, quando a moeda americana disparou 8,07%. O BC não atuou no mercado de câmbio hoje. O dólar já havia atingido R$ 5,00 durante os negócios nas últimas semanas, mas nunca fechado neste patamar. No ano, o dólar já acumula valorização de 26% e, neste mês, de 13%.>
Medidas emergenciais dos bancos centrais pelo mundo não estão ajudando a acalmar os mercados. Hoje o Chile e a Coreia do Sul anunciaram cortes de juros em reunião extraordinária, seguindo a decisão do Federal Reserve ontem de praticamente zerar os juros nos Estados Unidos. Mas a visão de bancos como Goldman Sachs, Bank of America Merrill Lynch e Wells Fargo é que estes movimentos são insuficientes para impedir a piora da atividade. O Wells Fargo passou a prever avanço de apenas 1% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial em 2020, um dos menores níveis em 40 anos.>
O ex-secretário do Tesouro Nacional e atual diretor do ASA Bank, Carlos Kawall, defende que, com a piora do cenário, o Banco Central "pise no acelerador" da política monetária e cambial, cortando os juros de forma mais agressiva e usando as reservas internacionais. Para acalmar o dólar, ele acredita que o BC poderia lançar um programa de US$ 50 bilhões para compras e vendas e/ou leilões de swap, com o ritmo de atuação podendo se manter discricionário. "Nossa resposta, no Brasil, tem que ser na política monetária e cambial, é onde temos gordura. Não temos espaço fiscal", disse ele.>
O estrategista da Hieron Gestora de Patrimônio e Asset, Marcos De Callis, destaca que mesmo com o dólar em R$ 5,00, as expectativas para a inflação seguem ancoradas, o que dá flexibilidade para o BC cortar juros agora, seguindo o que vem fazendo outros bancos centrais pelo mundo. Nos países desenvolvidos, os BCs já foram ao limite do que podiam fazer e agora a expectativa é por medidas fiscais, que costumam ser mais demoradas, pois algumas precisam de aprovação do Congresso, ressalta ele.>
Para De Callis, embora esteja distante do preço compatível com os fundamentos da economia brasileira, é difícil saber onde o dólar vai se estabilizar neste momento. Ainda há muita incerteza sobre, por exemplo, até quando os Estados Unidos e a Europa vão sofrer com a pandemia, o que ajuda a agravar o nervosismo dos investidores. >