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Do Estúdio
Publicado em 11 de dezembro de 2018 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
Nada mais chato que terminar um dia estressante de trabalho, chegar em casa para descansar e se dar conta de que está com dor de cabeça. E quando o dia parece ter sido perfeito na praia, mas termina com uma pontadas de tirar o juízo? Nem é preciso ir muito além de uma noite mal dormida, uma mudança na alimentação ou ingestão em excesso de álcool para começar a chateação. >
Verdade é que chegar à fase adulta sem nunca ter sentido uma dor de cabeça é mérito de poucos. Mais de 95% das pessoas em algum momento da vida tiveram, têm ou terão dor de cabeça de acordo com a Sociedade Brasileira de Cefaleia. É o sintoma mais comum que o ser humano padece, segundo a instituição, representando cerca de 10% de todas as consultas nas Unidades Básicas de Saúde.Mas ser tão comum não quer dizer que deva ser banalizada. “Não tem como negligenciar e achar que cefaleia é uma coisa boba, uma coisa simples, que é normal e aceitável. É uma grande causa de ida ao pronto-socorro e uma grande causa de falta no trabalho”, alerta Marcelo Paixão, neurologista do Hapvida.O tratamento é recomendado em qualquer situação, mas para o especialista é preciso entender se a cefaleia, nome científico dado à dor de cabeça, faz parte de uma síndrome onde a própria dor é a doença ou se é sintoma de algo grave, que precisa ser investigado e tratado com mais atenção. No primeiro caso, a mais comum das cefaleias é a enxaqueca. “A dor é a doença. Causa náuseas, vômito, mal-estar, indisposição, diarreia, constipação, tontura, além de vir com sintomas como perda de visão, de audição e de compreensão da fala”, pontua o neurologista.>
O tratamento, além de medicamentoso, deve vir acompanhado de uma rotina mais saudável. “Tem pacientes que têm dor de cabeça como padrão clínico. Tem que tratar, claro, mas provavelmente não deve ser algo grave. No dia a dia, a pessoa deve ter erros de comportamento e de rotina que permitiram que chegasse nesse ponto”, sugere. Para evitar o mal-estar, é preciso ter sono regular e consumir com moderação alimentos como café, refrigerante, doce, chocolate e produtos com a substância glutamato monossódico, presente, por exemplo, em realçadores de sabor e caldos industrializados.>
Além de seguir estas indicações, cada pessoa deve, de acordo com o especialista, observar o que lhe faz mal. “Às vezes não tem uma lógica comprovada, mas ele percebeu que no caso dele não caiu bem. Tem que ter bom senso do que pode ser evitado. A orientação é: siga uma rotina saudável e tenha atenção aos fatores desencadeadores”, aconselha Marcelo Paixão.>
Atenção As cefaleias que mais impressionam os médicos são as que aparecem de forma surpreendente. “Se o paciente descreve e consegue provar que o que está sentindo é uma dor diferente e nova, isso sim é uma preocupação para o médico em termo de talvez ser algo grave, porque é um padrão novo na vida dele”, explica Marcelo Paixão. Nessas situações, a dor pode ser sinal de casos de aneurisma, miningite, tumor ou até Malformação Arteriovenosa (MAV).>
Este foi o caso de Nielly Carneiro, 19 anos. Acostumada a sentir dor de cabeça desde criança, sobretudo no período mestrual, pediu ajuda da família há quatro anos após perceber que estava com um sintoma diferente durante uma apresentação no colégio onde estudava, em Senhor do Bonfim, interior da Bahia. Além de uma dor mais intensa, que não passava nem com o costumeiro analgésico que tomava, sentiu dormência na mão direita e formigamento na boca e no rosto. No hospital, após uma bateria de exames, foi diagnosticada com MAV. Nielly Carneiro sentiu uma dor de cabeça mais intensa que o costume e alertou a família (Foto: divulgação) “Eu fiquei sabendo do risco de morte, de ficar sem andar, sem falar, depois que o médico disse que tinha que operar. Eu tinha malformação em uma conexão de uma artéria com uma veia, que estava dobrada e minando. Com a cirurgia, eu corria o risco de ter um AVC”, conta a garota, que superou a doença e hoje vive normal. “É como se eu não tivesse passado por nada. Há um ano e pouco eu ainda me sentia um pouco triste em falar, mas passei por tudo isso e hoje não me importo. Só tomo três remédios por dia para evitar convulsão, porque meu sangue coagulou e ainda tenho que tomar alguns medicamentos, além de ir periodicamente ao neurologista”, relata Nielly Carneiro.>
Boa parte desta boa recuperação de Nielly está associada à busca rápida de atendimento. “Ela tinha enxaqueca a vida toda e, de repente, mudou. Essa mudança é o sinal de alerta para uma doença mais grave. Uma pessoa que tem enxaqueca por muito tempo, uma cefaleia frequente, é muito mais difícil do médico perceber a mudança. Cabe a pessoa estar atenta e procurar um médico, para que ele possa analisar e investigar, de acordo com a gravidade e a mudança do padrão”, indica o neurologista do Hapvida.>
Uso abusivo de analgésico deve ser evitado Nada mais comum do que ter em casa um analgésico para aquela dor de cabeça que vez ou outra volta a incomodar. Mas se a dor é persistente e você toma com frequência o remédio, tem de ficar atento e procurar um médico. É que, em alguns casos, a dor pode ser sinal de alguma doença que precisa ser investigada com mais atenção pelo neurologista. “Pode estar mascarando um diagnóstico mais grave. Tem sempre que procurar o neurologista em casos de quadros que não se explicam e que sejam persistentes. Sentir dor de cabeça por mais de 15 dias, por exemplo, é algo que deve ser investigado”, alerta Conceição Neves Ferraz, neurologista do Hapvida.Outro grande risco do uso abusivo de analgésicos é acostumar o corpo com o medicamento. “Os receptores destas drogas começam a se internalizar, não ficam tão expostos a receber estímulos, e quando você mais precisa de um analgésico, de uma subtância para reduzir dor, ela não funciona”, explica Marcelo Paixão, neurologista do Hapvida. >
Uma das formas de resolver este problema, segundo o neurologista, é proibir o paciente de tomar analgésico por um tempo. “Vai sofrer mais com dor por um período, mas é uma forma de lavar o corpo de tanto remédio que estava tomando”, ressalta o especialista.>